O melhor foram as dolorosas perguntas das pessoas
Com ar de desencanto, eleitores indecisos se apresentaram em carne e osso
O melhor do último debate dos candidatos à Presidência, Dilma Rousseff e Aécio Neves, na TV Globo foi a participação, às vezes dolorosa, com ar de desencanto, dos eleitores que vieram de todo o país para fazer perguntas.
Pela primeira vez, nos cenários teatrais e quase virtuais dos debates presidenciais, os indecisos reais se apresentaram em carne e osso, sem uniformes de partido, desarmados de especialistas em pesquisas, com sua pergunta às vezes trêmula nas mãos.
Foi talvez o único momento de autenticidade dos numerosos debates ensaiados para a plateia de 200 milhões de cidadãos. Tão autêntico que uma das eleitoras tinha dificuldade de ler sua pergunta. Tratava-se dessa triste realidade de milhões de brasileiros que deixam a escola sem conseguir ler um texto em voz alta.
Aquelas perguntas, feitas com rostos sérios, revelam em cada uma delas um drama da vida real, quase uma confissão de impotência diante dos candidatos poderosos convocados para governar o país.
Observei o rosto daqueles indecisos que, depois de ler suas perguntas, ficavam com os olhos fixos e respeitosos escutando as respostas dos candidatos. Eram olhos que se inclinavam entre o desejo de escutar algo que lhes pudesse dar um vislumbre de esperança e o temor de que tudo terminasse em palavras e promessas.
Em alguns momentos, os eleitores conseguiram até acrescentar um toque de emoção ao expor suas perguntas. Como a mulher de 55 anos, com trabalho qualificado que já não consegue entrar no mercado; o senhor que colocava em sua pergunta o drama do aumento do seu aluguel, cada dia mais alto, e que sua família não conseguia pagar; ou o jovem que expôs aos candidatos o tema da violência depois de confessar que ele e sua família tiveram que sair de seu bairro ocupado pelos traficantes.
“O que acontecerá no dia em que os que trabalham não consigam pagar as pensões dos aposentados diante do aumento cada vez maior dos idosos?”, perguntou uma senhora sem retóricas, quase com um nó na garganta.
Em poucos minutos, aquele punhado de cidadãos anônimos, encurralados na plateia, quase assustados diante do cenário de luzes, câmeras e microfones, colocou sobre a mesa, melhor do que Dilma e Aécio haviam feito até agora, a realidade dolorosa da vida de milhões de cidadãos cansados das acusações mútuas trocadas nas últimas semanas pelos candidatos, que se refugiaram no passado para evitar dizer abertamente que Brasil novo pensam inventar para o futuro deste país.
A presença dos eleitores no debate representou um contraste maior do que todas as disputas entre os presidenciáveis. Era a confrontação entre as pessoas comuns, que levaram fatos e problemas reais, sem frescuras de cenário, contra a retórica de milhares de números e promessas dos candidatos, mais interessados em se destruir mutuamente do que em escutar os lamentos dos que não têm vontade de brigar. Lhes falta tempo para pensar em como chegar ao fim do mês sem cair nas garras da inflação ou dos juros vorazes dos bancos.
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