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Quatro pessoas são internadas na Espanha com suspeita de ebola

Uma delas viajou na ambulância que transportou enfermeira infectada

Elena G. Sevillano
Momento em que missionário da Libéria chega ao hospital Carlos III.
Momento em que missionário da Libéria chega ao hospital Carlos III.G. A. (getty)

Quatro pessoas foram internadas hoje em Madri e Tenerife, na Espanha, por suspeita de ebola. No hospital Carlos III foram isolados dois. É um dos doentes que viajou na ambulância na qual Teresa Romero, por enquanto a única contaminada confirmada, foi transportada. Outros dois possíveis infectados são um missionário procedente da Libéria e um passageiro de um voo de Paris que reclamou de febre e tremores. O quarto caso, em Tenerife, é um enfermeiro da Cruz Vermelha que voltou à Espanha há alguns dias após trabalhar em um hospital que atende casos de ebola em Serra Leoa.

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Uma das sete pessoas que viajaram na ambulância na qual Teresa Romero, a auxiliar de enfermagem contaminada por ebola, foi transportada, teve febre na manhã de quinta-feira, conforme explicou Fernando Simón, porta-voz do comitê criado pelo Governo para gerir a crise do ebola. Permaneceu isolada em sua casa até o dispositivo necessário para o transporte ficar pronto, e chegou no hospital Carlos III no começo da tarde. Na tarde e noite de quinta, acrescentou Simón, será conhecido o resultado da primeira PCR, a análise que permite verificar se o vírus está no sangue.

Simón assegurou que é um dos contatos que tinha menos probabilidades de infecção. A ambulância que levou Romero para o hospital de Alcorcón não foi descontaminada até 12 horas depois. Sete pacientes viajaram nesse veículo antes de ser higienizado, durante todo o turno da equipe de saúde.

A Espanha ativou na quinta o protocolo de alerta sanitário no Aeroporto Adolfo Suárez Madri-Barajas por conta de um passageiro da companhia Air France, que durante um voo entre Paris e Madri se queixou de febre e tremores. A ministra da Saúde, Ana Mato, confirmou a informação. O homem, procedente da Nigéria, foi internado no hospital Carlos III.

Uma terceira pessoa será internada quinta-feira no Carlos III, segundo fontes da área da saúde. Seria um missionário vindo da Libéria que chegou a Madri no sábado passado. Estas fontes acrescentaram que ele pertence à Ordem Hospitaleira de São João de Deus, a mesma dos dois religiosos repatriados por causa da contaminação por ebola, Miguel Pajares e Manuel García Viejo. O paciente – espanhol e de idade avançada, de acordo com fontes da Ordem – permanece isolado, em local não divulgado, à espera de sua transferência. Ele estava em Monróvia, trabalhando para colocar em funcionamento o hospital da ordem, que atualmente permanece fechado, afirmou Pilar Álvarez.

"É considerado um paciente de baixo risco por não ter entrado em contato com doentes portadores de ebola", informou a Ordem por meio de um comunicado.

Além disso, o Governo das Canárias ativou quinta-feira um protocolo a ser seguido diante de possíveis casos de ebola para regulamentar o atendimento de um paciente que saiu de Serra Leoa há oito dias no hospital La Candelaria, em Tenerife, disse Txema Santana. O homem chegou a Bruxelas no dia 8 deste mês, e no dia 12 desembarcou em Tenerife. Ele está com febre, e mantém a temperatura corporal de 37,7ºC. Permanecem isoladas também as duas pessoas que vivem com ele, mas elas não apresentam sintomas, afirmaram as autoridades de saúde canárias em entrevista coletiva.

Trata-se, segundo ficou sabendo EL PAÍS, de um enfermeiro da Cruz Vermelha que trabalhou durante um mês no hospital que tem esta organização na cidade de Kenema. A Cruz Vermelha colocou em funcionamento um hospital específico para tratar dos doentes de ebola no começo de agosto por onde já passaram 35 de seus delegados, explica Juan Jesús Hernández, responsável pelo Plano de Saúde da Cruz Vermelha. O enfermeiro passou 30 dias ali. Dos 35 delegados da organização, quatro continuam ali, nove estão em vigilância ativa supervisionada e os outros 20 já superaram os 21 dias de quarentena, acrescentou.

“Desde o momento em que chegou, o enfermeiro esteve sob vigilância e até esta manhã havia permanecido assintomático”, assegurou Hernández.

A diretora do Serviço de Saúde das Canárias (SCS), Juana María Reyes, informou que o paciente internado em La Candelaria (Tenerife) por causa da aplicação do Protocolo de Ingresso Hospitalar por ebola ficou em uma zona de “alto risco” em Serra Leoa e, portanto, em “contato direto” com o vírus. Além disso, Reyes detalhou que dois familiares diretos também serão internados no complexo hospitalar para continuar suas observações por questões de segurança, embora tenha esclarecido que “não possuem sintomas”.

No hospital Carlos III de Madri, 15 pessoas que são consideradas contatos de alto risco, a maioria profissionais da saúde, continuam isoladas. Também estão em observação três cabeleireiras do estabelecimento em que Romero fez depilação quando já apresentava sintomas e, portanto, já podia transmitir a doença. Estas 15 pessoas se mantêm "assintomáticas", disse Simón, que insistiu que é preciso ser prudente porque elas ainda não ultrapassaram o período de incubação do vírus, que é de 21 dias.

O porta-voz do comitê também falou da denúncia formulada pelos médicos que tratam de Romero. Eles se queixam de ter que fechar as persianas para preservar a intimidade da paciente, que, por isso, não recebe luz natural. "Do ponto de vista médico e de qualidade de vida da paciente a iluminação é importante", disse Simón. A luz ultravioleta, entre outras coisas, melhora a depressão, acrescentou. "Pediria à imprensa que tivesse um pouco de cuidado". As características do isolamento impedem a instalação de cortinas ou outros elementos interiores de proteção.

A auxiliar de enfermagem "continua estável", afirmou Simón. "A carga viral se reduziu" e a paciente "é capaz de lutar contra a doença". A infecção nos órgãos "está melhorando", acrescentou, embora tenha especificado que é preciso manter a cautela. "Há sinais claros de esperança, mas não convém começar a comemorar".

Por outro lado, o chefe de virologia do Instituto de Saúde Carlos III e membro do Comitê Especial contra o ebola, José María Echevarría, afirmou que a carga viral no sangue da auxiliar de enfermagem Teresa Romero "caiu de forma sensível" e que ela mostra “sinais de superação da infecção".

Echevarría destacou que é preciso esperar que "os problemas pulmonares causados pela doença sejam resolvidos", já que a recuperação é mais complicada por se tratar de uma mulher fumante, declarou em entrevista à Antena 3 utilizada pela Europa Press. "É consequência do conjunto da doença, mas não diretamente da infecção. Os problemas de pulmão demoram a melhorar, mas, pelo que seus médicos dizem, está evoluindo bem", ressaltou.

Mari Fe Bravo, chefe do Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital La Paz-Carlos III, que atende todos os pacientes em observação, entre eles Teresa Romero, pediu em entrevista à Cadena Ser o apoio de todos, "inclusive da imprensa" para "facilitar a vida dos isolados". "A intromissão em sua intimidade os faz manterem as janelas baixas. Para eles, seria mais fácil poder ver o céu e o horizonte", acrescentou.

O estado de Romero foi confirmado por Manuel Torres, um dos enfermeiros encarregados do caso, e delegado do sindicato CSIF, que participou do mesmo programa. "A doença continua sendo grave, mas apresenta uma leve melhora e tomara que continue sendo assim", acrescentou, após afirmar que a diminuição da carga viral levou a equipe manter algum otimismo sobre a recuperação da paciente.

O enfermeiro, que trabalhou com ela quando atendeu o missionário Miguel Pajares, destacou que Romero é uma "ótima profissional" no trato mais próximo, e o quanto ela está colaborando como paciente, sobretudo nos cuidados para não contaminar os que estão cuidando dela.

Torres reconheceu que "as pessoas não estavam preparadas" e confirmou que para suportar a situação de estresse eles estão recebendo atendimento porque "víamos que a tensão ia aumentando mais a cada dia, o estresse é muito forte e na hora de trabalhar as emoções se sobressaltam. (...) Foi uma companheira que adoeceu e podia ser um de nós".

Os riscos do atendimento

Quanto ao ocorrido nos Estados Unidos, Echevarría entende que isso "demonstra que o atendimento de pacientes com ebola no mundo desenvolvido tem riscos e que é preciso levar em conta que um paciente de um hospital africano não tem acesso aos mesmos tratamentos disponíveis em um país desenvolvido".

No caso do paciente que contaminou duas das enfermeiras que o atenderam em Dallas, os dados sugerem que ele foi submetido a um procedimento médico intensivo, "que apresenta um risco muito alto", sobretudo a intubação, que aumenta as chances de disseminação de gotículas contaminadas.

Em relação a isso, Torres explicou que durante o tratamento da auxiliar de enfermagem se pensou em intubá-la, mas a hipótese foi descartada. "O problema mais grave que tínhamos eram os aerossóis, pois as moléculas sobem e depois caem no traje, cada uma contendo entre 10 e 12 vírus, com o problema de retirar este traje, posteriormente, em um espaço recluso de um metro quadrado.

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