_
_
_
_
_

Por causa do ebola, Marrocos ameaça abrir mão de sediar a Copa Africana

Governo local aceita, no entanto, receber o Mundial de Clubes, que terá o Real Madrid

Javier Casqueiro
Sorteio das chaves do Mundial de Clubes, no dia 11, em Marrakesh.
Sorteio das chaves do Mundial de Clubes, no dia 11, em Marrakesh.AFP

O Marrocos abriu mão de ser sede da Copa Africana de Nações (CAN), entre 17 de janeiro e 8 de fevereiro, por causa do vírus ebola. As autoridades sanitárias e esportivas deste país do noroeste africano pressionaram a FIFA nos últimos dias para que o torneio futebolístico continental fosse adiado até junho do ano que vem – ou seja, em pleno mês islâmico do ramadã – ou mesmo para 2016, dando tempo assim para que surja alguma vacina eficaz e comprovada contra a doença. A competição pode atrair até um milhão de torcedores, sobretudo de países africanos.

Mais informações
OMS prevê até 10.000 infectados pelo ebola por semana na África
União Europeia propõe controle nos aeroportos para conter ebola

Fontes governamentais disseram ao EL PAÍS que a decisão formal ainda não foi comunicada, mas que o ministro da Juventude e Esportes decidiu que o país abrirá mão de ser sede se a FIFA não concordar com o adiamento.

Ao site SuperSport, um funcionário do Ministério dos Esportes disse que “a Confederação Africana de Futebol rejeitou todos os nossos pedidos e sugestões, pelo que nos vemos obrigados a nos retirar para preservar a segurança dos nossos cidadãos, e para isso estamos dispostos a assumir as consequências que decorrerem da nossa ação”.

Na quarta-feira, o ministro da Saúde do país reiterou a exigência à FIFA de que a competição seja adiada “por razões sanitárias e preventivas”.

Marrocos tem três grandes eventos esportivos para organizar em apenas seis meses, a partir de dezembro próximo. Mas a epidemia do ebola expôs contradições das autoridades, que desejam acima de tudo que o país seja sede do Mundial de Clubes, com o Real Madrid como grande protagonista, mas não têm nem de longe o mesmo interesse em correr o risco de uma epidemia com a Copa Africana e com os Jogos Pan-Árabes, programados para junho em Agadir.

O ministro da Saúde ratificou que a sua prioridade é “salvar as vidas dos marroquinos” 

No sábado, aconteceu em Marrakesh o sorteio das chaves da 11.ª edição do Mundial de Clubes, prevista para os dias 10 a 20 de dezembro, e para a qual há grande expectativa. O ex-jogador Emilio Butragueño, atual diretor de relações institucionais do Real Madrid, e Fernando Hierro, auxiliar do treinador Carlo Ancelotti, representaram o clube espanhol – grande atração do torneio, do qual participa na qualidade de atual campeão europeu. Butragueño se comportou como se esperava e assegurou que conseguir o troféu é o objetivo do Real. Depois, já em Madri, manifestou a “preocupação” do clube perante a situação criada com o ebola e se mostrou disposto a esperar as decisões que os dirigentes futebolísticos e sanitários venham a tomar.

A FIFA está consciente de que não há atualmente muitos países na África em condições de organizar um torneio assim

Essa precaução de Butragueño em não prometer unilateralmente a presença do Real já desatou grande inquietação em Marrocos. Nem o Governo nem a federação espanhola de futebol querem que surja nenhuma dúvida sobre o desenrolar normal dessa competição, que terá como sedes Rabat e Marrakesh, com a participação também do San Lorenzo (Argentina), Moghreb Athletic de Tetuão (Marrocos), Cruz Azul (México), Auckland City FC (Nova Zelândia) e dos campeões da Ásia e África, a serem conhecidos nas próximas semanas.

A FIFA, que não é favorável a adiar a Copa Africana, deve resolver a questão em 2 de novembro, em Argel. A entidade sabe, no entanto, que não há muitos países africanos em condições de organizar um torneio desse porte.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_