Os palestinos mostram unidade com uma reunião do Governo em Gaza
O Gabinete tecnocrata apoiado pelo Al-Fatah e pelo Hamas priorizará a reconstrução de Gaza
O primeiro-ministro do Governo de unidade palestino, Rami Hamdallah, presidiu nesta quinta-feira o primeiro conselho de ministros unitário que também foi o primeiro na faixa de Gaza. O chefe do Executivo viajou com 11 ministros ao enclave costeiro, onde são bem visíveis os destroços da ofensiva militar israelense em agosto, na qual morreram mais de 2.100 palestinos e cerca de 70 israelenses. É a primeira reunião de todos os membros do Governo palestino, que almeja superar a divisão territorial e política entre os territórios palestinos de Gaza e da Cisjordânia.
O grupo islamita Hamas controla a faixa de Gaza desde a curta guerra civil com seus rivais políticos do partido Al-Fatah, em 2007. O Al-Fatah administra a Cisjordânia ocupada por Israel. O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmud Abbas, promoveu o pacto de reconciliação entre ambas as facções, que constituíram esse Governo em junho e se propuseram a realizar eleições legislativas antes do fim do ano.
Israel cerca a região por mar, terra e ar —o Egito também mantém fechada sua fronteira— desde que o Hamas tomou o poder em 2007 e desde então foi objeto de três duras ofensivas militares israelenses. Nas três ocasiões, Israel acusou o Hamas de haver iniciado o combate e nas três pactuou respectivos cessar-fogos que preservaram os islamitas à frente de Gaza.
Os palestinos preparam a reunião de doadores internacionais que acontecerá no Egito neste domingo, em busca de financiamento para a complexa reconstrução de Gaza. Os danos pelos intensos bombardeios e a invasão terrestre israelense do verão são estimados entre 3 e 6 bilhões de euros (9,1 e 18,2 bilhões de reais). O primeiro-ministro Hamdallah visitou nesta quinta-feira a localidade de Beit Hanun e o bairro de Shiyaiya, respectivamente a norte e a leste da Cidade de Gaza. Ambas foram devastadas pelos ataques aéreos, a artilharia e os tanques israelenses durante os 50 dias de ofensiva. Hamdallah disse na quinta-feira que havia "chorado" ao ver as condições de vida dos gazenses nessas zonas. Hamdallah se reuniu com o primeiro-ministro do Hamas em Gaza até a primavera, Ismael Haniya. As prioridades do Governo, disse, são a reconstrução de Gaza e a preservação da unidade.
Para a reconstrução, querem enviar uma mensagem de formalidade aos mais de 50 Estados que participarão da conferência de doadores no Cairo. Até chegarem ao destino, o dinheiro e os materiais de construção necessários para devolver Gaza ao miserável estado prévio aos bombardeios de meses atrás devem superar o bloqueio israelense e as tarifas da corrupção local. Israel quer impor um estrito sistema de controle que garanta o uso civil dos materiais, para o qual pretende contar com a colaboração das Nações Unidas. Seus críticos afirmam que isso tornaria a ONU colaboradora do bloqueio.
O Executivo da unidade palestina está formado por palestinos que não militam nos principais grupos políticos, ou seja, é simbólico. Com perfil tecnocrático, se propôs administrar a reconstrução de Gaza, entre cujos habitantes se propaga o desespero por um bloqueio que os asfixia e pelo controle político total por parte do Hamas. Eles sofrem a falta de bens de consumo, as draconianas restrições pesqueiras impostas pelo bloqueio israelense e a ruína econômica do Governo local, que deve salários de vários meses a mais de 40.000 empregados públicos da faixa. As bombas israelenses do verão provocaram danos em hospitais, escolas, estradas, encanamentos, depósitos de água e milhares de moradias.
O Governo permanecerá em Gaza também nesta sexta-feira. Seus membros planejam visitar diversos pontos afetados pela guerra e se reunirão com empresários. De Gaza, Hamdallah viajará ao Egito pela passagem de Rafah, no sul, para ali participar da conferência para a reconstrução.
Israel permite aos ministros a entrada na faixa de Gaza, depois de meses de negativas
A unidade palestina continua sendo precária. Durante a ofensiva israelense em Gaza, os relativos êxitos militares das milícias do Hamas fortaleceram os islamitas na castigada faixa. Depois de meses de declive político e de graves problemas econômicos, o Hamas —que ficou sem seu principal aliado, o Egito, depois do golpe de Estado que derrocou os islamitas de Mohamed Morsi no ano passado— pôde apresentar as quase 70 baixas do Exército israelense como vitórias contra um inimigo muito superior que se retirou causando enormes danos às infraestruturas públicas e privadas, mas sem depor os islamitas. Durante os bombardeios era óbvia, além disso, a nula presença do Governo de unidade nos assuntos relativos a Gaza, dirigidos pelas facções locais que o Hamas lidera.
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