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O rastro de Botín no Brasil

Botín se mostrou entusiasmado com os rumos do país e sempre teve um ótimo relacionamento com os presidentes da República

Carla Jiménez
Botín com o troféu da Copa Santander Libertadores 2008.
Botín com o troféu da Copa Santander Libertadores 2008.Pablo Rey (Gazeta Press)

Emílio Botín sempre se mostrou um grande entusiasta com os rumos do Brasil. Desde que o banco começou suas operações em 1997, quando adquiriu o Banco Nacional de Comércio, e na sequência, o banco Noroeste, o executivo passou a prestar mais atenção no país, que acabava de estabilizar a sua moeda três anos antes, com o fim da fúria inflacionária.

O lance mais ousado de Botín foi a compra do antigo banco estatal Banespa, no ano 2000, prova irrefutável da visão otimista do grupo com o futuro do Brasil. A instituição representava um patrimônio para São Paulo, a cidade mais abastada, e por isso era cobiçada pelos grandes bancos brasileiros, como Itaú, Unibanco e Bradesco. O Santander era candidato à compra, num leilão de privatização aberto pelo governo estadual, mas ninguém acreditava que ele seria vitorioso.

Apresentou a oferta de mais de sete bilhões de reais na época, quase três vezes mais que o preço inicial. Para se ter uma ideia, a segunda oferta mais competitiva era do Unibanco (hoje fundido com o Itaú), que ofereceu 2,1 bilhões de reais. Desde então, o banco, que hoje é o terceiro do ranking brasileiro entre os bancos privados, e o quinto, incluindo as instituições públicas, ganhou músculos, com aquisição de outras bandeiras, como o banco Real, em 2007. Atualmente, o grupo soma 30.000 clientes e 48.700 empregados no país, com ativos na casa dos 500 bilhões de reais – em 2000 o Banespa tinha algo na casa dos 30 bilhões. No primeiro semestre deste ano, obteve lucro líquido de 2,6 bilhões de reais.

A expansão no país fez a unidade brasileira ganhar uma grande importância para a matriz espanhola. Hoje o Santander Brasil responde por 20% das receitas do grupo em nível mundial. Em nota, o presidente do Santander Brasil, Jesús Zabalza, disse nesta quarta-feira que a notícia da morte do número um do grupo era recebida com grande pesar. “Cabe a nós, do Santander Brasil, continuar, com ainda mais intensidade, o trabalho de crescimento de nosso banco no país. É a maior homenagem que podemos prestar a ele.”

Botín sempre teve um ótimo relacionamento com os presidentes da República do Brasil. Ele foi recebido pelo menos quatro vezes pela presidenta Dilma Rousseff, em Brasília. Com Lula também mantinha uma relação estreita, declarando sempre que eram “amigos”. O executivo sempre se destacou por suas avaliações otimistas sobre o país, quando o mundo começava a desconfiar dos rumos da economia brasileira.

O último evento público de Botín no Brasil aconteceu no final de julho, quando veio participar de um encontro de educação patrocinado pelo Santander. Era um momento delicado, pois política e economia se mesclaram, gerando um ruído com a presidenta Rousseff. Uma analista financeira do Santander havia feito um informe para os clientes de alta renda do banco sugerindo que a eventual reeleição de Rousseff poderia afetar a bolsa e o câmbio no país de forma negativa. A notícia caiu muito mal para o Planalto, e Botín sabia disso. Tanto que autorizou a publicação de uma mensagem para todos os clientes no site do Santander dizendo que aquela posição não era o “posicionamento da instituição”.

A tal analista acabou demitida, e Botín tornou público o mal-estar que havia acontecido na instituição. “Quando uma pessoa falha, o banco toma a suas medidas, e neste caso, já foram tomadas”, disse ele em coletiva de imprensa no Rio de Janeiro, no dia 29 de julho.

O mal-entendido, porém, fica pequeno diante dos anos dedicados ao país. Em São Paulo, o Santander manteve um dos símbolos mais simpáticos da metrópole, o prédio do Banespa, que se tornou um cartão postal no centro da cidade. Inaugurado em 1947, com uma construção foi inspirada no Empire State Building de Nova York, o Banespão, como é carinhosamente conhecido, foi tombado pelo Patrimônio Público, e apesar de privado, ficou aberto à visitação gratuita de turistas. É uma das vistas mais bonitas da capital paulistana.

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