A fuga de um possível doente de ebola na Libéria escancara o medo do vírus
O paciente, que escapou de um hospital na Monróvia, procurava comida em um mercado próximo
Foi uma amostra clara do pavor que a epidemia de ebola causa e do estigma que está gerando. Ocorreu na última segunda-feira. Um jovem sob suspeita de portar o vírus, aguardando o resultado de exames em um dos centros de isolamento administrados pela ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Monróvia, a capital da Libéria, escapou do local e foi até um mercado próximo, onde semeou o pânico por onde passou. Um vídeo divulgado nesta terça-feira mostra os fatos. O jovem, descalço e vestido com uma bermuda e camiseta vermelha, caminha armado com um pau e com pedras para enfrentar dezenas de pessoas que o repreendem, sem se atreverem a se aproximar. Funcionários do centro de isolamento, vestidos com a roupa de proteção, o perseguem até que conseguem falar com ele. Entretanto, perante a negativa do jovem de voltar ao centro, o dominam e o colocam à força numa caminhonete.
Segundo o MSF, “o paciente abandonou a zona de casos suspeitos do nosso centro em Monróvia depois de começar a se sentir desorientado. Uma equipe o seguiu até o bairro e o trouxe de volta para proporcionar o atendimento médico. Pouco depois, ele teve alta. Logicamente há um grande medo e estigmatização em torno do ebola na África Ocidental, o que torna o trabalho de promoção da saúde uma parte muito importante da reação. Além da perda de vidas por causa da enfermidade, as comunidades afetadas devem fazer frente também às consequências do ebola. Todo isso torna mais urgente a mobilização de recursos, apoio logístico e provisões por parte da comunidade internacional”.
Monróvia é, sem dúvida, a cidade mais afetada pela expansão do vírus. Há casos em todos os bairros, e os epidemiologistas da OMS acreditam que dezenas de pessoas morrem em suas casas sem notificar a doença, o que agrava ainda mais a situação. Precisamente nesta terça-feira, os enfermeiros do hospital JFK iniciaram uma greve exigindo mais formas de proteção contra o vírus e melhores salários. Segundo o porta-voz sindical John Togba, os auxiliares de saúde “carecem do equipamento necessário (…), o que está causando um aumento do número de contágios e mortes entre os trabalhadores do centro”. Togba acrescentou que os enfermeiros se sentem “pouco recompensados frente ao alto risco ao qual estão expostos”.
Já a presidenta liberiana, Ellen Johnson-Sirleaf, reiterou que “a situação no país continua sendo grave. Nosso sistema de saúde está submetido a muita pressão, e a comunidade internacional não conseguiu reagir com rapidez”. O Governo decidiu prorrogar a decisão de manter o funcionalismo público não essencial em suas casas durante todo o mês de setembro, conforme um decreto que já esteve em vigor em agosto, para evitar assim possíveis contágios. Apesar de tudo, Johnson-Sirleaf mostrou certa esperança ao assegurar que “as condições estão melhorando pouco a pouco, e o mundo começa a reagir”.
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