Dilma e Aécio tentam recuperar terreno contra a onda Marina
Seis pontos chaves para acompanhar o debate desta segunda-feira. A presidenta e o candidato do PSDB devem buscar as inconsistências nas propostas da presidenciável do PSB
O debate entre os presidenciáveis que acontece nesta segunda-feira tem o sabor de uma batalha decisiva para os candidatos, mas principalmente para a candidata à reeleição Dilma Rousseff. Ainda na frente das pesquisas, com 32% das intenções de voto, segundo a última pesquisa Datafolha, Rousseff sabe que tem seu trono ameaçado pela onda Marina Silva, que capitalizou o desejo incontido de mudança, professado nas ruas de junho de 2013. Na visão de especialistas, o voto por Marina é amalgamado mais por sentimento do que pela razão, o que o torna mais difícil de ser alterado. Thiago Aragão, diretor da Arko Advice, observa que a essência do debate será a desconstrução da imagem da Marina e trazer dúvidas para a cabeça do eleitor. Uma batalha hercúlea, na sua visão. “Quem já se decidiu por Marina ficou dois anos em dúvida. Durante a Copa do Mundo o número de indecisos era 34%. A decisão de apoiar Marina vai além da lógica”, completa. hoje o total de indecisos está na casa dos 7%.
Por isso, cabe à presidenta do PT conservar seus votos para garantir sua ida ao segundo turno junto com Marina. Rousseff, porém, chegará ao debate, promovido pelo SBT, Folha de S. Paulo, rádio Jovem Pan, e portal UOL, com o rótulo da ‘recessão’ colado a seu Governo. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na última sexta-feira o PIB do segundo trimestre, um recuo de 0,6% da atividade econômica, em comparação com o trimestre anterior, que já havia tido uma queda de 0,2%.
O tucano Aécio Neves, por sua vez, deve encarar o debate como uma verdadeira guerra, e vai centrar forças no ataque à candidata do PT, de modo a encontrar espaço para chegar ao segundo turno com Marina Silva. O ex-governador de Minas Gerais havia chegado ao segundo lugar, antes do início da campanha na TV, buscando os votos de quem queria tirar o PT do poder, e procurando cativar os eleitores com uma discurso focado na tradição política de grandes líderes, como seu avô, Tancredo Neves. Mas o eleitorado está buscando exatamente um novo modelo político, que por ora é a oferta da candidata do PSB. O discurso de Marina Silva, de tentar descolar-se da polarização do PT e PSDB soou como música aos ouvidos dos eleitores das grandes cidades, e daqueles que estavam indecisos.
Veja as oito chaves deste debate:
Consistência das propostas: o PSB parecia ter dado um ‘strike’ definitivo em seus adversários quando apresentou um programa moderno que tocava em pontos espinhosos para a sociedade brasileira, como o apoio ao casamento gay ou o tratamento da homofobia a racismo. Mas, seu recuo menos de 24 horas depois, abriu um flanco sobre a perseverança de Marina Silva sobre a execução de suas propostas.
Apoio do Congresso – Cálculos feitos pelo jornal O Estado de S. Paulo mostram que Marina Silva teria apoio de 80 a 120 deputados, e outros 213 a 253 que lhe dariam apoio condicionado, conforme o tema em debate. Juntando os dois grupos, seria suficiente para obter maioria em votações de seu interesse (para um total de 513 deputados). O problema, segundo Aragão, é que essa estratégia vale enquanto durar a popularidade de Marina, ou seja, caso eleita, até um ano depois. “Os parlamentares são movidos por interesses. Se não houver a troca fisiológica imediata, não vai para a frente”, diz Aragão. A favor de Marina está o fato que o eleitor não consegue assimilar essa correlação neste momento da campanha. A vontade de mudar é maior que o racional.
Economia liberal combina com benefícios sociais? – Outra contradição que pode ser explorada por Dilma e Aécio é a defesa de Marina a uma cartilha liberal para a economia atendendo às demandas sociais, como a oferta de 10% do PIB para saúde, e manutenção dos programas que diferenciaram o governo Dilma, como as linhas de financiamento para educação, e programas como o Bolsa Família. Para reduzir o papel do Estado na economia é preciso apontar onde é possível cortar. E ao mesmo tempo, mostrar como um Estado menos presente poderá dar suporte para os brasileiros de mais baixa renda.
Recessão – O termo deve ser explorado pelos adversários da presidenta Dilma Rousseff depois que o IBGE divulgou o resultado do PIB do segundo trimestre deste ano, na última sexta. A economia recuou 0,6%, depois de uma queda de 0,2% no primeiro trimestre, o que, em tese, coloca o país diante de uma recessão ‘técnica’, ou seja, dois trimestres em queda – quando são três, é considerada a recessão clássica. Rousseff, porém, vai se defender ressaltando o número de empregos gerados - mais de 500.000 só este ano. Os três candidatos precisam explicar a maneira de tirar o Brasil da letargia econômica para renovar investimentos privados e crescimento.
As chances de Aécio - Em terceiro lugar na disputa segundo os institutos de pesquisa, Neves tem pouca margem de manobra e pouco tempo para revestir seu discurso de mudança com um verniz mais moderno. “Aécio jé é carta fora do baralho, por isso ele entrará como franco atirador no debate para tentar amenizar a queda”, acredita Thiago de Aragão, da Arko Advice. Mas, será um ataque cauteloso, uma vez que qualquer exagero nos questionamentos feitos a Marina pode se voltar contra ele.
As chances de Dilma - O mesmo vale para Dilma Rousseff. Seria uma estratégia suicida bater de frente com quem o eleitor está considerando a melhor candidatura para o cargo de presidente. Marina, por sua vez, assumiu um discurso difícil de combater, observa Aragão. “Ela mantém o discurso da conciliação [de governar com lideranças dos dois partidos depois de eleita], o que se transforma num discurso difícil de combater, ou de abrir ‘contra-ataque’”, avalia.
A saída é tentar reduzir a unanimidade em torno do seu nome atacando a inconsistência de algumas propostas, como a do apoio às causas gays, que foi apresentada em seu programa político, mas foi extinta depois da reação de lideranças evangélicas. E ainda, o risco efetivo de fazer promessas que dependem muito de um Congresso onde é preciso ter maioria
Candidatos nanicos – Os candidatos que têm em média 1% das preferências do eleitorado, como Eduardo Jorge, do PV, Luciana Genro, do PSOL, e o pastor Everaldo, do PSC, têm levantado questões importantes nos debates, revelando como os presidenciáveis mais competitivos se posicionam – ou se esquivam – diante de temas incômodos. É o caso da liberação das drogas, casamento de pessoas do mesmo gênero, e aborto.
Pré-sal – A presidenta Dilma chamou a atenção para o fato da sua concorrente do PSB reforçar o discurso das fontes renováveis, e não explicar qual será o papel do petróleo do pré-sal em seu eventual Governo. Trata-se de uma reserva demais de 40 bilhões de barris na região Sudeste do país, que tem atraído investimentos na cadeia petrolífera. Marina tem deixado claro seu apoio ao etanol, feito de cana de açúcar, que acaba por competir com os derivados de petróleo, como a gasolina
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