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Milhares de pessoas protestam em Nova York contra os abusos da polícia

“Sem justiça não há paz”, gritaram em coro os manifestantes, convocados pelas mortes de Eric Garner e Michael Brown

Protestos em NY contra a violência policial, neste sábado.
Protestos em NY contra a violência policial, neste sábado.AFP

Milhares de pessoas se congregaram neste sábado no parque Tompkinsville, em Staten Island (Nova York), para protestar contra a brutalidade policial. A manifestação foi convocada pela National Action Network, a organização do reverendo e ativista do Harlem Al Sharpton. Com o lema "We will not go back" (“Não recuaremos”), o protesto marcou um mês de tensão racial, desatada pela morte do afro-americano Eric Garner em julho, quando era detido em Nova York por vender cigarros na rua, e agravada pela explosão de violência em Ferguson, no Missouri, depois que um policial branco matou a tiros um jovem negro desarmado, Michael Brown, em 9 de agosto.

Segundo os organizadores do protesto, cerca de 5.000 pessoas, na grande maioria afro-americanos, ocuparam a Victory Boulevard – onde Garner morreu asfixiado – e ruas adjacentes, marchando do edifício da Prefeitura até as proximidades do ferry que une Staten Island com Manhattan. Ali, Sharpton e familiares de Garner e de outras vítimas de excessos policiais, além de muitos outros oradores, empolgaram os manifestantes com inflamados discursos sobre a necessidade de maior democracia e de uma polícia mais bem preparada. “Não estamos contra a polícia, mas queremos justiça – e queremos agora. Estamos aqui contra a violência, porque é violência o fato de um policial aplicar uma chave de braço proibida e estrangular uma pessoa. Não é toda a polícia que é ruim, mas é preciso retirar as maçãs podres para que possamos respirar. Nosso lugar é do lado das vítimas e de suas famílias. Senhor prefeito, precisamos de uma reforma policial”, proclamou Sharpton. “Os negros também somos pessoas. Precisamos da proteção da polícia, não de agressões. Chega de lágrimas, chega de vítimas. Não vamos parar até que alguém vá para a prisão por isso”, acrescentou outro orador.

Sharpton, um mestre nesse tipo de evento depois de 40 anos subindo em tribunas, é o interlocutor do novo prefeito de Nova York, o democrata Bill de Blasio, para tentar evitar que o mal-estar acabe em violência, como aconteceu em Ferguson – algo que, no momento, ele está conseguindo.

Apesar do clima tenso e da grande mobilização policial, até a noite deste sábado não tinham sido registrados incidentes. Os manifestantes gritaram slogans sob o olhar atento dos policiais, os principais interpelados pela multidão. “Sem justiça não há paz!”, “Não podemos respirar!” e “Não atire em mim!” foram as palavras de ordem mais repetidas. Muitos manifestantes exibiram fotos de jovens negros e latinos mortos pela polícia, como Shantel Davis, Amadou Diallo, Reynaldo Cuevas, Kenneth Chamberlein, Trayvon Martin, Noel Polanco e Ramarley Graham, entre outros. “Quantos caixões serão necessários para que isso termine?”, perguntava um cartaz na lateral de uma caminhonete com a foto do rapper Tupac Shakur, morto a tiros em Las Vegas em 1996.

Sharpton, um mestre neste tipo de evento depois 40 anos subindo em tribunas, é o interlocutor do novo prefeito de Nova York

O protesto galvanizou o mal-estar de muitos nova-iorquinos pela morte do Garner e a exigência de uma investigação rigorosa do caso. Essa exigência está sendo atendida. Apesar de suas reticências, o procurador do distrito de Staten Island, Daniel Donovan, anunciou, um mês depois da morte de Garner, que um grande júri investigará o caso. Entretanto, há questões pendentes. A principal é qual vai ser a política de segurança nas ruas com o novo prefeito, que prometeu manter a baixa criminalidade sem abusos policiais.

Os manifestantes protestaram contra o rigor extremo da polícia com o pequeno delinquente (Garner ia ser detido por vender cigarros na rua) e contra práticas policiais impulsionadas pelos ex-prefeitos Rudy Giuliani e Michael Bloomberg, como o stop-and-frisk (deter e revistar), um pesadelo para os jovens negros e latinos. Entretanto, boa parte da população é partidária de seguir com a teoria das janelas quebradas (se uma janela de um edifício aparece quebrada e não é consertada na hora, em pouco tempo todas as janelas estarão quebradas), que combate a pequena delinquência para garantir a ordem nas ruas. “Janelas quebradas, vidas quebradas”, dizia um dos cartazes dos manifestantes.

De Blasio caminha na corda bamba entre a comunidade afro-americana e a polícia, mas tem alguns ases na manga. Herdou uma cidade segura, que continua assim. Os homicídios caíram (foram 190 desde o início deste ano, em comparação com 215 no mesmo período do ano passado) e o número de detenções é semelhante ao da época de Bloomberg. Além disso, o novo prefeito pôs em andamento uma série de medidas urgentes, como cursos de formação para seus 35.000 policiais em táticas para resolver conflitos de forma pacífica e eficaz. Ver cinco policiais detendo um homem que vendia cigarros não é a melhor expressão de eficácia policial e uso racional dos recursos. Da mesma forma, o departamento de polícia concentrou sua atenção nas áreas de alta criminalidade no Brooklyn e no Bronx. Há outras iniciativas, como os denominados “interruptores de violência”: membros de gangues que atuam como mediadores em brigas de rua.

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