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Mais de 10.000 feridos mantêm os hospitais de Gaza no limite

Os médicos na Faixa denunciam a falta de cerca de 100 "medicamentos" essenciais

Uma palestina caminha entre os escombros em Beit Hanun, em 12 de agosto.
Uma palestina caminha entre os escombros em Beit Hanun, em 12 de agosto.ROBERTO SCHMIDT (AFP)

Na semana passada, as Nações Unidas advertiram que o sistema de saúde de Gaza estava “à beira do abismo”. Agora, em plena trégua, o precipício só se distanciou alguns milímetros. A necessidade de atender 10.181 feridos mantém “no limite” os hospitais. “É um desafio desesperador. Dezenas de pessoas continuam em estado crítico e não se espera que sobrevivam. Chegaram muito mal, atendidas tarde por causa dos bombardeios ou pela falta de ambulâncias e, uma vez nos centros, não há medicamentos nem máquinas adequadas”, denuncia Ashraf Al Qidra, porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza. Na última quinta-feira, de fato, uma dúzia de doentes morreu. Já são 1.980 mortos na ofensiva israelense.

O doutor Belal Dabour, do Hospital Al Shifa, afirma que faltam mais de 100 tipos de medicamentos “essenciais”, como analgésicos ou antipiréticos. “Chegará ajuda, certamente, mas enquanto isso, o que acontece com as pessoas que necessitam dela já?”, se compadece. Ele explica que tiveram de colocar alguns familiares feridos na mesma cama –dois irmãos, uma mãe com duas crianças– por falta de espaço. “Ainda temos a área de Trauma desse jeito, mas com o passar dos dias a situação melhora um pouco”, acrescenta. Parte dos 93 médicos e enfermeiros chegados da Cisjordânia e de outros países árabes já se revezam nos locais. “Não podemos mais”, confessa Dabour.

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O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU para os Territórios Palestinos confirma que a ocupação de camas hospitalares na Faixa baixou dos 100% –com pacientes pelos corredores– a 80%. A queda se deve às altas hospitalares e às autorizações para remover doentes para hospitais de Jerusalém e da Turquia, uma centena aproximadamente.

Chegou a faltar a metade de tudo, especialmente material descartável como seringas e gaze, mas o nível de suprimentos médicos já voltou a 70%, como em junho, antes da operação Limite Protetor. “Já não havia nem para os doentes crônicos”, recorda Kirrily Clarke, responsável de Saúde da Cruz Vermelha na região. Graças aos dias sem fogo cruzado puderam entrar mil toneladas de medicamentos, segundo o Exército de Israel.

A ONG Al Mezan denuncia que 30% dos feridos necessitará de reabilitação, mas o único centro dotado para isso era Al Wafa, que foi destroçado, razão pela qual as lesões serão “permanentes”. Também preocupam as infecções por falta de água e os corpos que permanecem sob os escombros, assim como as 400.000 crianças que precisam de tratamentos de saúde mental.

A entrada de ajuda poderia ser acelerada se o cessar-fogo definitivo for conseguido. Israel e as milícias palestinas estão confirmando em público que o acordo está “muito próximo”. “A guerra está acabada”, disse nesta sexta-feira o número dois da Jihad Islâmica, Ziad Nahala. Israel se comprometeria a não atacar mais Gaza, por nenhum meio, e as milícias fariam o mesmo, sem lançar foguetes e sem voltar a cavar túneis, informa a imprensa egípcia. Os ultradireitistas do partido Casa Judaica preferem uma redução “unilateral” do bloqueio em vez de cedê-la em um acordo com o Hamas, porque “fortaleceria” os islâmicos, avisam.

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