_
_
_
_

E agora?

Os protestos, as eleições, tudo havia parado para a Copa. Agora a realidade, escondida, espera a manhã seguinte

A. J. B.
Torcedores choram a derrota do Brasil.
Torcedores choram a derrota do Brasil.D. Sagolj (Reuters)

Após o quinto gol, uma jovem vestida com a camiseta amarela do Brasil deixou de olhar a televisão na sua frente. Queria fechar os olhos para o pesadelo. No bairro boêmio da cidade, Vila Madalena, onde jogo após jogo, com crescente intensidade, foram juntando-se cada vez mais seguidores com vontade de festejar, as pessoas começaram a ir embora no intervalo, incrédulos mais do que desolados, só conseguiu dizer: “Que humilhação, não?” As câmeras repetiam, insistentemente, a cena de um menino chorando na arquibancada do Mineirão, os jogadores chorando. De novo. De novo. E agora?

O Brasil entrou nesta Copa um pouco sem graça, desconfiado, sem muita confiança. Os protestos e as manifestações que sacudiram o país há um ano demonstravam que já não bastava ficar com o que se tinha e que as coisas tipicamente brasileiras (o futebol, o samba, o Carnaval...) já não eram o suficiente.

As pessoas, jovens, universitários, de uma nova classe média emergente, pediam melhores hospitais, melhores escolas, uma polícia menos reacionária e brutal... E se queixava de tantos gastos com estádios para jogar futebol. Uma das frases mais entoadas na época era “Não vai ter copa”, preconizando que os protestos continuariam até impedir que o Mundial começasse.

No dia da estreia, ocorreram manifestações em São Paulo, no Rio, em outras cidades, lixeiras foram incendiadas, ataques policiais, detidos e manifestações. Os taxistas, as vendedoras, os garçons e os auxiliares de escritório seguiam queixando-se e asseguravam que muito dinheiro havia sido gasto, mas também diziam que veriam a primeira partida. E a partida, Brasil x Croácia, aconteceu. A presidenta Dilma Rousseff foi vaiada e insultada pela imensa maioria do público, quase todos de classe média alta.

Mas a Copa começou, a bola rolou, o Brasil avançava, a tropeções mas avançava, e as pessoas começaram a esquecer dos protestos. E o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, protagonista de muitas manifestações em seus tempos de sindicalista mas seguidor entusiasmado da seleção, assegurava que haveria um tempo para os protestos e outro para a Copa. E as pessoas pareciam dar-lhe razão. Cada vez mais viam-se bandeiras brasileiras nas ruas, cada vez mais carros andavam com os capôs enfeitados, cada vez mais pessoas nos bares, mais pessoas com a camiseta amarela. Os taxistas, as vendedoras, os garçons, todos já estavam mais convencidos. E já parecia uma Copa como as outras, ainda mais, porque acontecia no Brasil: uma festa e uma obsessão que apenas quando se vive aqui se percebe em toda a sua pujança. Uma mulher universitária por volta dos seus quarenta anos respondeu assim à pergunta sobre por que levavam tão a sério o futebol de sua seleção: “Porque é algo em que sempre fomos os melhores”.

E agora? Agora o encanto desapareceu de uma vez. Com uma sova histórica, com uma goleada inesperada e inimaginável. Agora a realidade se impõe. E a sombra dos protestos e as manifestações e o mal-estar que estavam adormecidos enquanto a bola rolava a favor da equipe, surge de novo. Lula também assegurava nesta mesma entrevista há uma semana que o resultado do campeonato mundial não influiria nas eleições presidenciais de outubro. Mas, certamente não pensava, como ninguém imaginava, um 7x1.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_