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COPA DO MUNDO 2014 | BRASIL x CHILE

Para a torcida brasileira, um sufoco

Em cada rosto, o drama estampado traduzia com perfeição a apreensão e o nervosismo vividos contra o Chile, e que só terminaria com a explosão da vitória nos pênaltis

Torcedora brasileira reage ao jogo em São Paulo.
Torcedora brasileira reage ao jogo em São Paulo.Victor Moriyama (Getty Images)

O sinal era como o de o regimento de uma orquestra. Em meio ao nervosismo silencioso dos clientes em um bar da zona oeste de São Paulo, o garçom tentava reanimar um grupo caracterizado com as cores verde e amarela e equipado com cornetas e matracas. “Hoje vai ser difícil”, antecipava um deles, com os braços cruzados na calçada.

Era inevitável. Em cada rosto, o drama estampado traduzia com perfeição o sufoco vivido contra o Chile, e que só terminaria com a explosão da vitória nos pênaltis. Assim como milhões de brasileiros espalhados pelo país, os olhos atentos à TV ganhavam o reforço das mãos, apertadas em busca de alguma ajuda dos céus, que parecia nunca chegar.

O gol de empate chileno no tempo normal caiu como água no chope das cerca de 200 pessoas que se aglomeravam em frente ao telão montado na calçada e dos outros aparelhos de TV espalhados pelo salão. Um grupo com a camisa do México tentava ainda entrar no clima e entender o que acontecia, após o hino entoado a plenos pulmões e a celebração do gol de David Luiz.

“O Neymar não entrou em campo!”, “Tira o Fred, Felipão!”. A exaltação refletia os seguidos erros da seleção em Belo Horizonte, que se somaram ainda à indignação com a arbitragem do inglês Howard Webb pela não marcação de um pênalti reclamado por Hulk e o próprio gol anulado do atacante -uma invasão à frente da TV não deixava perceber imediatamente a infração assinalada pelo juiz, que passaria a ganhar a companhia do apelido “ladrão”.

“Está sofrido, até o juiz está jogando para o Chile”, desabafava a arquiteta Graziela Vadillerti já ao fim da prorrogação, ecoando as mesmas reclamações só que em outro bar, este a poucas quadras do apartamento do técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari. Nunca faltam provas de que, em se tratando de Copa do Mundo, poucas coisas unem tanto os brasileiros, seja nas comemorações pelas vitórias, na aflição durante as partidas ou na dor das derrotas.

“Qual promessa posso fazer agora?”, questionava-se outra torcedora, antes da disputa por pênaltis. “Vou ficar sem beber até a final se o Brasil avançar”, emendava, ainda com o copo na mão. Não seria mesmo fácil. O Brasil vivia o seu momento mais delicado no Mundial, que voltava a ser disputado no país após 64 anos. Perdê-lo prematuramente na “loteria” dos pênaltis não estava nos planos.

Com as cobranças das penalidades, a multidão nos dois bares e em várias partes do país se levantou para assistir mais de perto. Uns fechavam os olhos a cada cobrança, outros rezavam ou voltavam a apelar a uma superstição. “Como vai ficar (o Mundial) sem o Brasil? Não vai ter graça”, lamentava a terapeuta ocupacional Fernanda Cervenka.

A cada gol ou defesa do goleiro Júlio César, abraços eram trocados até com estranhos. Até que veio a explosão, traduzida no chute do chileno Jara na trave do goleiro brasileiro, que parece ter vencido a desconfiança de parte da torcida e teve seu nome gritado em coro. “Nunca imaginei que o Júlio César seria o herói dessa partida”, redimiu-se o coordenador de web Alexandre Grechi, que assistia ao jogo com o filho de colo que também trajava verde e amarelo.

Passada a apreensão, teve início em todo o país uma festa que ainda não tem hora para acabar. Ao menos até o próximo sufoco.

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