O Google se concentra no relógio e na roupa inteligente
A empresa explica sua expansão, que inclui desde ‘smartphones’ até objetos de uso diário, como carros e televisores
Mais de 5.000 desenvolvedores, a maioria homens, e mais de um milhão de pessoas pelo YouTube (segundo suas cifras), esperavam a aparição de Sundar Pichais, vice-presidente do Google e principal responsável pela estratégia de futuro da empresa, para escutar quais serão as novidades no ambiente Android e sua expansão para relógios, carros e televisões. “Já temos 20% de mulheres, uns 8% a mais que na edição anterior”, justificou.
Pichai, de origem indiana e forte sotaque, insistiu em que o celular é a chave. Já contam com mais de um bilhão de usuários ao dia. “Tiram até 93 milhões de selfies por dia”, revelou. A questão é como sabem disso.
Foi preciso esperar uma hora para que começassem as novidades mais chamativas. David Singleton, diretor de engenharia do Android, apresentou o Android Wear, a plataforma para os aparelhos de vestir e integrar-se com celulares e tablets. “Vamos usar pequenas peças de tecnologia junto a nós, quadradas ou redondas. Os sensores servirão para ter melhor controle de nossa saúde, conseguir metas esportivas e ficar mais saudáveis. O celular responderá a dúvidas sobre tudo isso”, expôs.
Twitter, Google Now (um site de busca preditivo), Maps e Gmail são os aplicativos para os relógios de pulso. Todos serão resistentes à água. Muito mais prático será saber, apenas dando uma olhada no pulso, se encomenda da Amazon vai demorar. O Pinterest, rede social com uma alta taxa de mulheres entre os usuários, deu o passo para estrear em relógios. A YES.fm, rádio por streaming da Prisa Radio, já preparou seu desenvolvimento através de Intelygenz. Vai se tornar o primeiro aplicativo para escutar música no smartwatch do mercado.
Será possível pedir um carro, mas não um táxi pelo Uber, empresa na qual investem, e sim no Lyft, concorrente nascido em São Francisco. Os relógios começam a ser vendidos, tanto da LG, Motorola e Samsung. Prometem que no segundo semestre chegarão mais modelos e, sobretudo, aplicativos. Aí estará a chave de seu sucesso, que seja útil.
O problema? Que é um aparelho pensado para um consumo passivo. Serve para ver o que acontece, mas dificilmente para responder ou interagir. Apenas para tomar notas ou fazer buscas, e sempre junto com o celular. Carece de independência para navegar pela Internet se o celular não fornecer a conexão. O Google quer evitar distrações, por isso pode ser colocado em modo silencioso e evitar interrupções durante um jantar em família.
O Volta será seu plano para melhorar a vida da bateria, para que todos os seus aparelhos aguentem até o final do dia afastados da tomada. A segurança dos downloads está também na sua lista de deveres. Segundo Pichai, a empresa mantém esforços para livrar seus serviços de malwares (softwares maliciosos). “Se roubarem o seu celular, você poderá configurá-lo do jeito que saiu da fábrica à distância”, disse Pichai. Essas novidades fazem parte do Android L, a nova versão do sistema operacional. O Google amadurece e deixa para trás o costume de colocar nomes de doces nas suas atualizações – a última foi Kit-Kat.
Patrick Brody foi o responsável por explicar como o Android se entenderá com os carros. “Não queremos que o celular seja usado ao volante. Ele é responsável por 20% dos acidentes ocorridos nos EUA”, observou. O Android para carros contará com 40 fabricantes associados. Os primeiros modelos sairão ainda neste ano.
O Android TV, segundo Singleton, será tão potente quanto seus tablets, mas integrado à televisão. Ele pegou o celular e disse: “Breaking Bad”, e apareceu na tela de TV uma coleção de episódios, com informação da série, atores, audiências… Terá jogos, Netflix para ver séries e TuneIn para escutar diferentes emissoras. O Chromecast, que se conecta a qualquer monitor com porta HDMI, será o único acessório necessário para seu uso.
O Chromecast é um dos aparelhos mais vendidos no Amazon. Já está em 18 países, entre os quais a Espanha. O que é natural quando se leva em conta que custa 35 dólares, contra os mais de 100 do Kindle Fire e Apple TV.
Os norte-americanos assistem em média cinco horas de televisão por dia. “O que acontece nas outras 19 em que ela está desligada?”, perguntaram-se. Querem que se torne um monitor que mostre fotos. Em suma, aproveitar melhor o aparelho que continua ocupando um lugar privilegiado na sala. O Vine e o Flipboard estão entre os primeiros aplicativos nesse formato.
Os tablets já vinham se destacando. Passaram de 32% do mercado mundial em 2012 para 46% em 2013 e 62% em 2014. Todo um golpe para a Apple que, por outro lado, foi a inventora dessa categoria de produto, com o iPad.
Os aplicativos, precisamente o produto feito pelos participantes da conferência, são cada vez mais relevantes. O número de instalações subiu 236% com relação ao ano anterior.
O Android One será a sua plataforma de desenvolvimento para países em desenvolvimento, cruciais para a sua expansão e para frear um possível avanço da indústria chinesa. O modelo inicial custará 100 dólares. “Nós o atualizaremos assim como os aparelhos com o Nexus, nos comprometemos a isso”, salientou.
O vice-presidente de design da empresa, Matías Duarte, declarou seu amor ao papel. “A mente humana segue viciada em objetos. O que tocamos chega até dentro de nós. O mundo real continua na nossa maneira de pensar”. Assim ele justificou as mudanças na interface do Gmail, por exemplo, com melhores controles táteis e associados à pressão sobre a tela.
Uma das metas do Google é melhorar a relação entre o telefone e o seu dono. Há coisa mais incômoda do que uma quantidade inabarcável de notificações? Consciente desse problema, elas passaram a ser priorizadas conforme as indicações do usuário. À medida que se usa, ele aprende a distinguir quais pessoas são importantes ou se a agenda é mais relevante que o Twitter. Um tremendo alívio para os usuários do Android.
O patinho feio, o computador, teve seu momento de atenção. O Chromebook, um PC que só contém o navegador Chrome, ganha relevância no mundo educacional. Parece lógico, pois são baratos e permitem que o professor mantenha facilmente o controle da aula.
Em mais de duas horas de conversa, não houve espaço para o Google+, a tentativa do Google de entrar no mundo das redes sociais. No ano passado, ele havia ocupado mais de meia hora. Tampouco para o Nest, seus termostatos inteligentes, empresa adquirida no último ano.
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