Morre o ator Eli Wallach, estrela do filme ‘Três Homens em Conflito’
Nascido em Nova York, morreu aos 98 anos depois de participar em mais de 150 filmes e séries
Ele nasceu no Brooklyn, em uma família judia, mas já foi vaqueiro, mafioso, ladrão, bandoleiro mexicano, velho encantador… É apenas uma parte do que ele já foi, porque Eli Wallach, que faleceu hoje aos 98 anos, nunca deixou de trabalhar, de enfrentar personagem secundário após personagem secundário, para acabar se convertendo, depois de atuar em mais de 150 filmes e séries de televisão, em um mito do cinema, homenageado em 2010 com um Oscar Honorário mais do que merecido. Só com seu Tuco de Três Homens em Conflito e seu dom Altobello em O Poderoso Chefão III terá um lugar reservadona glória cinematográfica. Wallach soube fazer carreira com um rosto singular, com suas atuações e com uma grande sabedoria na hora de escolher projetos enquanto envelhecia.
Eli Herschel Wallach nasceu em Brooklyn em uma família de imigrantes poloneses em 7 de dezembro de 1915. Eram uns dos poucos judeus - possuíam uma loja de doces - em um bairro predominantemente italiano (pode ser que por isso encarnasse tão bem tantos deles na tela). Depois de se formar em História na Universidade de Austin, voltou para Nova York, onde deu rédea solta ao mosquito da interpretação que lhe havia picado: começou a estudar atuação e a aparecer em algumas obras, mas a Segunda Guerra Mundial parou essa progressão. Ao acabar no conflito bélico, entrou no mítico Actors Studio – Wallach já conhecia o método, o sistema de representação da dramaturgia – de Lee Strasberg e em suas aulas coincidiram com as de Marlon Brando, Montgomery Clift, Sidney Lumet e Marilyn Monroe, nas temporadas que a atriz se submergia no mundo Strasberg. Também coincidiu com outra incrível intérprete, Anne Jackson, com a que se casou em 1948 e com quem viveu até seu último dia. Enquanto isso, começava uma espetacular carreira teatral com seu aparecimento em obras como The Teahouse of the August Moon (A casa de chá da lua de agosto) ou Mister Roberts, e em 1951 ganhou um Tony por seu trabalho em The Rose Tattoo (A rosa tatuada), de Tennesse Williams.
No entanto, demorou a entrar no cinema por seu amor ao teatro (recusou a personagem com o que Frank Sinatra ganhou o Oscar em A um passo da eternidade por estrear nos palcos Camino real, de Williams, dirigido por Elia Kazan), e ao fazer isso, estreou sob a direção de seu amigo Kazan na controvertida Boneca de Carne (1956), com o qual foi candidato ao Globo de Ouro. Wallach entrou em bom momento: O Sádico Selvagem (1958), de Don Siegel, Sete Homens e um Destino (1960), Os Desajustados (1961) – o famoso filme maldito junto de Montgomery Cligt, Clark Gable e Monroe –, A conquista do Oeste (1962), O Segredo das Esmeraldas Negras (1964), Lord Jim (1965), Como Roubar Um Milhão de Dólares (1966) e, no fechamento da trilogia do dólar de Sergio Leone, o bandoleiro mexicano Tuco em Três Homens em Conflito, rodado em Almeria. Não voltaria a falar com Leone depois de seu desentendimento na pré-produção de Quando Explode a Vingança.
Wallach fez dezenas de aparições em televisão – ganhou um Prêmio Emmy em 1961 e foi candidato a mais quatro, os últimos em 2007 e 2010 por seu aparecimento em Studio 60 e Nurse Jackie – mas o público lembra dele pelo cinema, por títulos como O Ouro de Mackenna, Licença Para Amar Até a Meia-Noite, O Homem que Se Condenou, A Culpa de Cada Um, Crazy Joe… Amigo de Steve McQueen, participou em seu último filme, The Hunter. Íntimo de Clint Eastwood, o ator-diretor reservou-lhe um papel em Sobre Meninos e Lobos. Durante décadas, manteve-se no cinema com presenças em Os Últimos Durões, A Chave do enigma, O Poderoso Chefão III – espetacular sua morte, a de dom Altobello comendo cannolis na ópera enquanto vê Cavalleria rusticana –, Traição e Poder - A História de Jackie Presser, Sombras do Mal, Tenha Fé, O Amor Não Tira Férias (incrível seu velho roteirista desencantado)…
Em 1995, encarnou ao pai de Antonio Banderas em Quero Dizer que Te Amo, de Fernando Trueba, e em 2010 ainda apareceu em mais dois filmes: O Escritor Fantasma e Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme. Cinco anos antes, Wallach publicou seu autobiografía, The good, the bad and me: in my anecdotage, na qual contava como quase morreu na rodagem de Leone… e quase perdeu as sensatas vogais ao beber ácido na mesma filmagem. Nunca foi candidato ao Oscar, embora tenha recebido o honorário, nem ganhou muitos prêmios (além dos mencionados, um Bafta); no entanto, jamais lhe fizeram falta para continuar sendo uma estrela. Como disse para o The Times em 1997: “Amo atuar”.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.