_
_
_
_
GRUPO D | INGLATERRA 1 x 2 ITÁLIA

A Itália conquista a Amazônia

A equipe contracultural de Prandelli se impõe a uma magnífica Inglaterra, em uma grande partida

Diego Torres
Balotelli cabeceia para fazer o segundo gol da Itália.
Balotelli cabeceia para fazer o segundo gol da Itália.ANDRES STAPFF (REUTERS)

A partir do toque, a Itália conquistou o desafio da selva. Convencidos do caminho empreendido desde a Copa 2010, os companheiros de Pirlo transformaram o modo de entender o jogo numa equipe que historicamente representou outra cultura. Foi graças a movimentar a bola com critério que eles venceram a Inglaterra. Os dois adversários duelaram com grandeza. Nem o calor, nem a umidade, nem a praga de cãibras puseram freio a uma noite inesquecível para os amazonenses que pagaram o ingresso.

Prandelli esgotou o tempo regulamentar de pé, na beira do campo, suando dentro do seu terno Dolce&Gabana para orientar aos jogadores sobre ajustes e movimentações. Hodgson permaneceu sentado no fundo do banco, contemplando a paisagem com a mão no queixo. Cada treinador expressou com sua postura um modo de confrontar a revolução futebolística vivida por suas equipes. O inglês deixa espaço para a classe de seus jogadores, agitados pela formidável fornada do Liverpool e do Southampton. Prandelli tem mais trabalho. Sua obra é colossal. O homem se propôs a formar uma seleção nacional sob parâmetros que contradizem a tradição da maioria dos principais clubes do país. Vai contra a cultura vigente. Quer que a Itália saia tocando, que construa, que assuma a iniciativa. Busca isso com uma determinação quase cega: não cede a demagogias, nem ao fato decisivo de que lhe faltam zagueiros e laterais rápidos e ágeis, nem ao perigo que nessas condições acarreta um adversário como a Inglaterra, infestado de atacantes velozes que se divertem em correr.

A inauguração da Arena da Amazônia no Mundial aconteceu em grande estilo. O duelo mediu dois ex-campeões mundiais que saíram para o jogo sem complexos. Tentando se dominar mutuamente pela gestão limpa da bola, procurando a precisão em cada passe e jogando ao nível do gramado, apesar de o campo estar ressecado pelo sol oblíquo do fim de tarde equatorial. Os 30 graus de calor e a umidade de 70% demoraram a causar danos às equipes, talvez por ambos administrarem as posses com mais pausa do que é habitual. Durante alguns momentos, a partida lembrou o futebol de outras épocas.

O público ficou imediatamente do lado italiano. A torcida gritava “olé” quando a Azzurra tocava a bola, ao passo que vaiava o English Team. Logo nas primeiras jogadas, no entanto, ficou claro que os pesados zagueiros de Prandelli sofreriam tentando barrar Sturridge e Sterling. Cada aceleração dos dianteiros do Liverpool deixava patente um desequilíbrio. Logo começaram a sair chutes de meia distância. Sterling, para o lado de fora da rede, e Welbeck, na direção do gol, deixaram em alerta o goleiro Sirigu, titular ontem por causa de uma lesão de Buffon.

A Itália passou por dificuldades para iniciar as jogadas até que Verratti se meteu entre os zagueiros para pôr ordem. Foi admirável o sangue frio e o sacrifício desse pequeno meio-campista de Pescara. Só quando ele começou a entrar no jogo sua equipe se ordenou. Foi o auxílio de todos no eixo do campo – de Pirlo, de De Rossi, de Paletta e de Barzagli. Sobre a alavanca de seu setor a partida amadureceu para a Itália, que abriu o placar após cobrança de escanteio. Verratti jogou para o Marchisio, Pirlo distraiu, e o arremate de fora da área abriu o marcador.

Ontem, era assombroso ver o público brasileiro gritar “olé!” enquanto os italianos tocavam a bola no campo do rival

A resposta da Inglaterra foi grandiosa. Henderson e Gerrard administraram a bola com cuidado, e Sterling se encarregou de romper a defesa rival. Desta vez foi com um passe sob medida, pelas costas de Barzagli, por onde Rooney apareceu. Seu cruzamento encontrou Sturridge no segundo pau, para concluir. A jogada era previsível, à luz da lentidão dos zagueiros italianos. Se não se repetiu em mais ocasiões foi porque esta Itália é uma equipe bem trabalhada, que sabe organizar se a partir da posse de bola.

Até recentemente, a Itália se defendia em sua área e esperava. Ontem, foi assombroso ver o público brasileiro gritar “olé!” enquanto os azzurri tocavam a bola no campo rival. E quanto mais a tocavam mais os ingleses sofriam, tomados por cãibras devido ao esforço. Um magnífico cruzamento de Candreva, bem cabeceado por Balotelli no segundo pau, pegou Cahill deslocado e não encontrou oposição de Hart. Foi o gol da vitória. Prandelli assegurou a vantagem colocando Motta e recolhendo seus jogadores. Hodgson reagiu com atraso, colocando Lallana e Barkley, dois talentos notáveis. A carga final da Inglaterra morreu nos “olés”.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_