Estados Unidos e Irã: segurança de mais, torcedores de menos
O time norte-americano desembarca em São Paulo para a disputa da Copa sob um forte esquema de proteção, assim como o Irã. As duas seleções, no entanto, não despertam o interesse da torcida
Treinando a apenas 30 quilômetros um do outro em São Paulo, os Estados Unidos e o Irã certamente integram um dos perímetros mais vigiados da Copa do Mundo. Oficiais das Polícias Federal, Civil, Militar, Rodoviária e do Exército ajudam os agentes que já desembarcaram com as próprias delegações nas operações de segurança. Mas se por um lado sobra atenção em relação aos cuidados com a ordem, do outro falta o interesse da torcida.
Nesta segunda-feira, por exemplo, no hotel que abriga a seleção norte-americana, na zona oeste de São Paulo, a movimentação foi intensa do lado de fora apenas entre os oficiais militares. A estreita rua lateral que serve de estacionamento para o ônibus oficial da FIFA destinado à equipe foi fechada. Na praça em frente, um carro do Exército brasileiro se mantém estacionado, com cerca de dez oficiais, para evitar a “perturbação da paz”, segundo definiu um deles.
Um policial militar contou ainda que, antes da chegada ao hotel, agentes federais dos Estados Unidos inspecionaram minuciosamente o local do desembarque da delegação, que ocorreu também sob a presença de soldados com escudos da Tropa de Choque brasileira. Na saída para o primeiro treinamento da seleção no Brasil, no fim da tarde, dois carros da PF (Polícia Federal) acompanharam o ônibus, além de cerca de 10 batedores para abrir o trânsito.
Pelo lado da torcida, no entanto, havia apenas um grupo de curiosos perto do hotel. Aline Caetano, de 45 anos, levou os três filhos que saíam de uma escola próxima no início da tarde para acompanhar a movimentação fora do perímetro de segurança na rua lateral do hotel. Inicialmente, seguiu para o local, incentivada por outras mães de alunos. “Pensei que talvez fosse o ônibus do Brasil”.
Menos contidos, três carregadores que dizem prestar serviços para o hotel engrossavam o time de curiosos. Um deles, Ederson da Silva, de 28 anos, mostrou surpresa pela presença estrangeira no local. “Eu não tinha a menor ideia de que os Estados Unidos iam ficar por aqui”, resumiu. Quem passava por ali e tomava conhecimento dos atletas gringos, não resistia a opinar: “não vão passar da primeira fase”, diziam uns. “não têm a menor chance”.
Trânsito e vizinhança
Os norte-americanos desembarcaram nesta manhã no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, para a disputa da Copa do Mundo. No trajeto de cerca de 30 quilômetros até o hotel, o ônibus dos jogadores contou com um corpo de batedores e o apoio de policiais rodoviários para escapar do congestionamento em mais um dia de greve dos metroviários na capital paulista.
Puderam, assim, driblar o terceiro pior trânsito matutino de São Paulo, que registrava, às 9h30 (horário local), pouco mais de 180 quilômetros de vias congestionadas. Sem os batedores, o trajeto de Cumbica até o hotel dificilmente seria cumprido em até uma hora.
Ao longo de uma das rotas do percurso, podiam ser vistos ainda oficiais do Exército armados, posicionados em viadutos e no acostamento, também zelando pelos atletas do Irã. Isso porque a seleção iraniana, a primeira a chegar ao Estado de São Paulo, no último dia 3, também sob forte esquema de segurança, está hospedada perto do aeroporto, em uma área mais isolada do que a da seleção dos EUA –ao contrário dos norte-americanos, o hotel em que se encontram os asiáticos não fica em uma área com grande densidade populacional ao redor. Os treinos realizados pelos iranianos até agora tampouco tiveram movimentação de populares.
Apesar da grande mobilização observada nesta segunda-feira pela chegada dos EUA, o delegado da PF Guilherme de Castro Almeida, coordenador da corporação em grandes eventos em São Paulo, descarta que algumas seleções contem com um aparato maior que outras. “A segurança é idêntica para todas as delegações e em todas as cidades-sedes da Copa. Não houve pedido de reforço de nenhum país”, acrescenta.
Ainda assim, o vice-diretor da Agência Brasileira de Inteligência, Ronaldo Belham, explicou que foram feitas “análises de risco” de cada seleção baseadas em quatro índices: possibilidades de terrorismo, sensibilidade geopolítica, sensibilidade esportiva e caráter crítico de determinadas partidas. Belham não quis revelar o conteúdo do ranking: limitou-se a assinalar que os Estados Unidos figuram entre as sete equipes que receberão maior proteção.
Embora as relações das duas nações tenha sido marcada por tensões desde a revolução iraniana em 1979, no futebol, pelo menos, parece que não há espaço para preocupações. As delegações de Estados Unidos e Irã escolheram como centros de treinamento para o Mundial locais distantes apenas 30 quilômetros um do outro. Os norte-americanos realizam suas atividades no CT do São Paulo, na Barra Funda (zona oeste da cidade), enquanto os iranianos, no do Corinthians, no Parque Ecológico (zona leste).
Os EUA integram o grupo G da Copa ao lado de Gana, Portugal e Alemanha. Os norte-americanos estreiam no torneio contra os africanos, na próxima segunda-feira, na Arena das Dunas, em Natal (Nordeste brasileiro). Já os iranianos estão no grupo F, com Nigéria, Argentina e Bósnia. A primeira partida da equipe será contra os africanos, também na próxima segunda, na Arena da Baixada, em Curitiba (Sul).
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