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Os candidatos enfrentam vários caminhos para chegar à paz na Colômbia

Juan Manuel Santos lança uma ofensiva contra o candidato uribista no primeiro debate televisionado. No segundo turno, os concorrentes às eleições presidenciais estão muito próximos

Santos e Zuluaga, durante o debate.
Santos e Zuluaga, durante o debate.

O processo de paz com a guerrilha das FARC foi o protagonista da noite de quinta-feira, no primeiro debate televisionado entre os candidatos à presidência da Colômbia —o atual presidente Juan Manuel Santos e o candidato Óscar Iván Zuluaga. Foi perguntado aos dois se eles se comprometiam a não sabotar a fórmula de seu concorrente para acabar com o conflito caso perdessem as eleições. As respostas ficaram no ar.

Ainda que Santos e Zuluaga tenham evitado responder diretamente, realmente mostraram as grandes diferenças que têm quanto ao que cada um considera o melhor caminho para a paz na Colômbia. Santos, na defensiva, sugeriu que seu rival não “conhecia o tema da paz”, porque atacou desde o início a negociação que vem sendo conduzida com as FARC em Havana e negou a existência de um conflito armado interno na Colômbia. Santos lembrou, inclusive, que, quando Zuluaga era ministro da Fazenda, tinha vetado um projeto de lei para reparar as vítimas.

Há três dias, o candidato uribista disse em uma entrevista para o portal político La Silla Vacía que não havia “um conflito, mas uma ameaça terrorista”, argumento aproveitado por Santos para sugerir que Zuluaga, em uma eventual negociação com os rebeldes, não reconheceria as vítimas da violência que abala o país há 50 anos. “Se a pessoa não reconhece o conflito armado interno, não reconhece as vítimas com sua assinatura. Ele se negou a reconhecer as vítimas quando foi ministro da Fazenda porque era muito caro, como se a dor de um filho pudesse ser medida em pesos”, disse o presidente.

Zuluaga, incomodado, insistiu em sua aposta em uma paz negociada, mas sob certas condições. “Aqui o que temos que decidir é que paz queremos, uma paz sem condições, como propôs o Governo atual, ou uma com condições”, disse, referindo-se a sua posição em relação à saída pela negociação, que considerou nos últimos dias, resultado de uma aliança com o partido Conservador.

Se no início o candidato do Centro Democrático dizia que suspenderia os diálogos, agora admite continuar com eles, mas com a condição de a que guerrilha deixe de recrutar, de colocar minas, de atentar contra a infraestrutura econômica, entre outras. “A paz tem de interpretar o sentimento de todos os colombianos e por isso decidimos avaliar o que foi negociado para informar ao país”, disse Zuluaga. As eleições serão realizadas em 15 de junho.

Depois desse bloco, vieram temas como o desemprego, a justiça, a saúde, as relações internacionais e a economia, e Santos aproveitou para mostrar os avanços de seu Governo e para questionar várias decisões tomadas por Zuluaga quando foi ministro da Fazenda de Álvaro Uribe (2002-2010). “Deu vantagens milionárias para os mais ricos e tirou as horas extras dos trabalhadores. O senhor deixou um déficit de 19 bilhões de pesos que coube a nós cobrir”, afirmou o presidente. Zuluaga então contra-atacou dizendo que o governo de Uribe deixou uma boa herança e criticou o fato de seu governo gastar demais e não ser austero. Por um momento, o confronto entre os candidatos se tornou uma guerra de números. “Não me conformo com os números atuais”, disse Zuluaga, e prometeu que, ao chegar à presidência, a economia do país crescerá 6 por cento ao ano.

Outro aspecto que provocou conflito entre os dois foi quando Santos atacou o uribismo, dizendo que seu Governo tinha respeitado a justiça, trazendo à baila os escândalos das escutas ilegais que o governo Uribe protagonizou e que espionaram magistrados, jornalistas e políticos de oposição. “Estamos trabalhando ao lado dos juízes e magistrados para que a justiça seja cada dia melhor”, acrescentou o presidente. Em relação à justiça, ambos concordaram que é preciso injetar ainda mais recursos, apesar de Zuluaga ter insistido que “a reforma de que a Colômbia necessita é a de se aproximar dos cidadãos e ser eficiente”.

Os candidatos também se enfrentaram quando Zuluaga disse que, em termos de relações exteriores, era partidário de uma maior intervenção em assuntos como a crise política vivida pela Venezuela. “Vou defender a carta democrática da OEA, onde estão consagrados os valores da liberdade e da democracia... Não farei um silêncio cúmplice diante de ações de outros países que afetem os cidadãos colombianos”, disse.

Santos, por sua vez, insistiu no fato de que, na área de política internacional, funciona a “prudência” e que, em seu governo, saiu de uma crise iminente com vizinhos como Equador e Venezuela para relações de respeito e cooperação. “Passamos da vergonha à admiração”, disse o presidente, que restabeleceu relações com os dois países assim que assumiu, em 2010.

O debate, transmitido pelo canal privado Caracol, ocorreu apenas algumas horas depois da divulgação das últimas pesquisas. A que foi realizada pela empresa Datexco dá uma pequena margem a Santos, com pouco mais de 4 pontos acima de Zuluaga (41,9% contra 37,7%). No entanto, a pesquisa realizada pelo Gallup dá empate técnico: 48,7% para Zuluaga, e 47,5% para Santos.

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