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Santos acusa seu rival de “sabotar o processo de paz”

O diálogo com as FARC domina a reta final da campanha na Colômbia

Silvia Blanco
Juan Manuel Santos em um comício eleitoral no domingo, em Bogotá.
Juan Manuel Santos em um comício eleitoral no domingo, em Bogotá.REUTERS

Óscar Iván Zuluaga é, segundo as pesquisas de intenção de voto, o rival mais sólido do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, no primeiro turno da eleição presidencial, que terá lugar no domingo. Mas, a poucos dias das eleições, um vídeo divulgado no fim de semana mergulhou o afilhado político do ex-presidente Álvaro Uribe, opositor ferrenho das negociações com as FARC que estão em curso em Havana, num escândalo que pode prejudicar gravemente suas aspirações. Ontem o presidente Juan Manuel Santos chegou a acusar Zuluaga de “sabotar o processo de paz”.

Numa campanha eleitoral manchada por acusações de espionagem, o vídeo divulgado pela revista Semana terminou de sujar tudo. Nele, vê-se Zuluaga sentado com os braços atrás da cabeça, enquanto um hacker lhe explica que tem acesso a informações da inteligência militar sobre os líderes das FARC – seu comportamento na selva, suas doenças --, prontas para ser usadas para torpedear o diálogo de paz, a grande aposta política do presidente Santos e o tema que vem dominando a campanha. Filmado em abril com um celular, o vídeo é extremamente espinhoso para Zuluaga: o hacker com que ele é visto falando trabalhava em sua campanha e está detido há duas semanas por interceptação ilegal de informações. Zuluaga havia dito inicialmente que não o conhecia, e, depois, que o tinha visto apenas uma vez. No vídeo, o candidato diz: “Então, Andrés, que golpe Santos vai nos desferir daqui até o dia 25 como sua tábua de salvação? Ainda há um mês para dar um golpe, meu irmão.”

Ontem o presidente Santos destacou a gravidade do assunto, aproveitando para dizer que teria desejado uma campanha centrada em propostas. “Eu sabia que havia inimigos da paz, mas nunca pensei que chegaríamos aos extremos de delinquir para sabotar o processo de paz, matando a esperança dos colombianos através de processos ilegais”, ele disse em entrevista à Bluradio.

Horas antes disso, o candidato pela Aliança Verde, Enrique Peñalosa, pediu a Zuluaga que se retirasse da campanha, e na segunda-feira a imprensa fez críticas duras ao candidato uribista, que se limitou a dizer que o vídeo é uma montagem feita com o intuito de prejudicá-lo. Em seu editorial, o jornal El Espectador acusou Zuluaga de mentir e indagou: “Qual é a grande política de espionagem que ele promoverá quando tiver todo o poder da inteligência estatal a seu serviço?”

Zuluaga é o candidato de um partido novo, o Centro Democrático, fundado há pouco mais de um ano pelo ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), muito mais famoso e carismático que seu candidato, que foi ministro das Finanças no segundo Governo de Uribe. O economista e empresário do setor siderúrgico tem 55 anos e aderiu ao discurso de intransigência em relação às FARC preconizado pelo ex-presidente, que não pode candidatar-se novamente à Presidência, mas recentemente foi eleito senador.

Zuluaga assegura que, se vencer a eleição, suspenderá o diálogo em Havana e dará à guerrilha o prazo de uma semana para “cessar toda ação criminal” se quiser dar continuidade às negociações. O diálogo que está tendo lugar entre o Governo de Santos e os representantes das FARC deslocou da agenda de campanha outros temas que, segundo as pesquisas de opinião, preocupam os colombianos, como a insegurança, a educação e a saúde. Nunca antes – e já houve três tentativas anteriores – se avançou tanto nas negociações com a guerrilha, num conflito armado que já dura cinco décadas e deixou mais de 200 mil mortos e quase seis milhões de deslocados.

Na semana passada, quando as sondagens apontavam para um empate técnico no primeiro turno, foi anunciado um avanço em outro ponto do diálogo de paz, o da solução do narcotráfico, e as FARC declararam cessar-fogo até as eleições, o que garantiu algum oxigênio político a Santos, que partiu com vantagem folgada nas intenções de voto mas viu sua vantagem diminuir.

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