_
_
_
_

A sucessão real espanhola terá quase 90% de “sim” no Parlamento

A Casa Real deve dar o seu aval à data definida pela Mesa do Congresso Só a Esquerda Plural e parte do Grupo Misto se oporão à lei de abdicação

Conselho de Ministros extraordinário após a abdicação.
Conselho de Ministros extraordinário após a abdicação.Paco Campos (EFE)

O reinado de Felipe VI terá o início que desejavam o palácio de La Zarzuela e o Governo: com um grande apoio político nas Cortes, refletindo-se em uma votação com cifras possivelmente semelhantes às obtidas pela Constituição de 1978. Ainda haverá negociações e debates internos nos partidos nos próximos dias, mas a lei de abdicação, aprovada nesta terça-feira em uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros, terá, com certeza quase total, apoio de quase 90% das Cortes. Nas Câmaras atuais, eleitas antes da crise do bipartidarismo apontada pelas últimas eleições europeias, o PP e o PSOE têm mais de 80% dos deputados, e a eles se somarão outros grupos.

Uma vez aprovada a lei, de forma muito rápida – em apenas duas semanas, já que assim decidiram o PP, o PSOE e outras formações –, a proclamação do Príncipe de Astúrias como Felipe VI acontecerá a partir de 18 de junho, talvez nesse mesmo dia.

Mais informações
O Rei da Espanha abdica do trono
A hora do Príncipe
Milhares de cidadãos espanhóis se manifestam por um referendo
O novo Rei da Espanha será proclamado no dia 18 de junho

A breve lei que regulamenta a abdicação de dom Juan Carlos terá um amplo respaldo no Congresso no dia 11, sendo rechaçada apenas pelo grupo parlamentar completo (Esquerda Plural) e por quatro partidos do Grupo Misto (ERC, BNG, Compromís e Geroa Bai). Esses partidos rejeitam a norma, porque exigem que, antes dela ocorra, um referendo para que os espanhóis escolham entre Monarquia e República. Mas, se a eles não se somar nenhuma surpresa, como os deputados da CiU – em pleno debate interno entre a abstenção, como quer a Convergência, ou o voto no “sim”, como propõe a União – ou alguns socialistas que rompam a disciplina do voto, o rechaço à abdicação, e por extensão à Monarquia, deverá ficar abaixo de 10%.

O trâmite começou, nesta terça-feira, com a aprovação, na reunião extraordinária do Conselho de Ministros, de uma lei de um só artigo e dois anexos, em que se fala apenas da abdicação de dom Juan Carlos e de sua entrada em vigor no mesmo dia da sua publicação no Boletim Oficial do Estado.

A lei não estabelece nenhuma regulamentação quanto à sucessão à Coroa e nada diz sobre o papel de dom Juan Carlos quando deixar de ser chefe de Estado e, portanto, perder sua imunidade. O Governo aprovará em breve um decreto acerca do status do ainda monarca, mas só uma lei orgânica poderia lhe oferecer algum tipo de foro privilegiado, e em nenhum caso a imunidade, garantida pela Constituição apenas ao chefe do Estado. O Governo não parece ter nenhuma urgência em aprovar o foro privilegiado de dom Juan Carlos, embora várias opções sejam discutidas. Será algo feito com calma, tratando de separar o processo da abdicação, que o Executivo espera realizar com a maior tranquilidade possível e procurando poupar o apoio popular ao novo Rei, da proteção a dom Juan Carlos, um assunto que gerará polêmica. O Governo já aprovou recentemente o foro privilegiado do príncipe de Astúrias, da Princesa e da Rainha, que não têm neste momento nenhum tipo de proteção.

As cortes concluirão em 17 de junho o trâmite da renúncia

O Executivo observou que não faz sentido que um ministro ou um deputado tenham esse foro privilegiado, e não o herdeiro da Coroa. Entretanto, essa lei tem uma tramitação lenta, e não está claro quando será aprovada, e se isso acontecerá ainda na atual legislatura.

A lei da abdicação –e não a da sucessão, recorda o Governo– é muito simples, entre outras coisas para que obtenha o máximo apoio político. Ela diz: “1 – Sua Majestade, o Rei Juan Carlos I de Borbón, abdica da Coroa da Espanha; 2. A abdicação será efetiva no momento de entrada em vigor da presente lei orgânica”. Uma disposição final única determina que a lei começará a valer no momento da sua publicação no Boletim Oficial do Estado.

A exposição de motivos da lei, que consiste basicamente na reprodução do discurso televisionado de dom Juan Carlos, assinala: “A entrada em vigor da presente lei orgânica determinará, consequentemente, que a abdicação desdobre seus efeitos e que se produza a sucessão na Coroa da Espanha de forma automática, seguindo a ordem prevista na Constituição”.

No Congresso, o partido Esquerda Plural apresentará uma emenda substitutiva com um texto alternativo à lei orgânica, em que proporá a realização de uma consulta sobre o modelo de Estado. O porta-voz desse grupo, José Luis Centella, defendeu a proposta alternativa do seu grupo, argumentando que evitar esse debate “é dar um golpe quase definitivo à credibilidade” do Congresso, já que, conforme disse, evita-se o debate de fundo.

A lei será debatida e votada em regime de urgência na próxima semana

A norma terá o voto favorável seguro das bancadas do PP, PSOE, UPyD e dos deputados da Coalizão Canária, UPN e Foro Astúrias, integrados no Grupo Misto. O PNV já anunciou, nesta terça-feira, que se absterá. Já a CiU ainda não tem uma posição oficial.

Josep Antoni Duran, porta-voz da CiU, assegurou que não há razão para que o partido catalão se oponha à norma. Fontes desse grupo afirmam que ele está inclinado a votar a favor, embora postergue sua decisão. Se a CiU se somar ao “sim”, o apoio ao texto seria de 91% da Câmara, ao passo que uma abstenção dos nacionalistas catalães reduziria o apoio a 86%.

A coalizão basca Amaiur não estará presente na votação porque, segundo seu porta-voz, Jon Iñarritu, trata-se apenas de uma “tentativa de oxigenar” um Estado vítima de uma crise estrutural e um “velho modelo” de chefia do Estado, “reinstaurado pela ditadura franquista”.

O Rei falou pessoalmente com todos os porta-vozes, na segunda-feira, para lhes explicar os motivos de sua abdicação.

Aitor Esteban, porta-voz do PNV no Congresso, explicou na terça-feira que vão se abster porque “a Monarquia é parte do pacote constitucional do qual a maioria dos bascos foi excluída”. Em sua opinião, votar contra não teria sentido, porque “o texto que será submetido a votação é muito sucinto e técnico e, em sentido estrito, um voto contrário seria dizer que não admitimos a abdicação de Juan Carlos I”.

O porta-voz nacionalista explicou que “o futuro Rei é uma incógnita” e advertiu que “se começar o seu discurso falando da ‘grande nação espanhola’, será mau sinal”.

Os partidos minoritários pedem um referendo sobre a Monarquia

O trâmite parlamentar da abdicação será concluído em 17 de junho, como explicou na terça-feira o presidente do Congresso, Jesús Posada. O próximo passo é a publicação no Boletim Oficial do Estado. Nesse mesmo dia será celebrado o ato de proclamação de Felipe VI em sessão conjunta e solene do Congresso e do Senado, segundo a data prevista pela Mesa das Cortes. Vários membros do órgão de Governo da Câmara deram como certa a data de 18 de junho para o ato e, consequentemente, para o início do reinado. A confirmação oficial, no entanto, depende da Casa Real.

A data concreta para o ato de proclamação nas Cortes gerou alguma confusão na terça-feira. Pela manhã, Posada falou “a partir do dia 18”, vários membros da mesa deram como certo que seria no dia 18 à espera do pronunciamento da Casa Real, que não confirmou a data exata.

O raciocínio dos membros da Mesa é que, uma vez aprovada dia 17 pelo Senado, não faria sentido adiar a publicação no BOE, prolongando a interinidade. Além disso, dia 19 é a festa de Corpus Christi. No mesmo dia da aprovação final no Senado (prevista para 17), o Rei assinará, em ato solene no Palácio Real, a lei que regulamenta sua abdicação para que seja publicada no BOE. Será seu último ato público como Rei e sua última atuação como chefe de Estado.

A Mesa do Congresso qualificou, na terça-feira, a lei orgânica aprovada pelo Conselho de Ministros e abriu um prazo de emendas para que seja debatida e votada na quarta-feira 11 de junho, em leitura única e em caráter de urgência.

Nesse debate, que começará às 9 da manhã com um único ponto na ordem do dia, todos os grupos intervirão em duas ocasiões: uma para debater o trâmite de urgência em leitura única, com cinco minutos para cada um, e outro turno para o fundo com 15 minutos para cada porta-voz, do maior ao menor partido, encerrando com o PP. O Governo, por meio do primeiro-ministro Mariano Rajoy, poderá intervir a qualquer momento.

Na semana seguinte, será votado dia 17 no Senado e terminará o processo para que haja o ato de juramento no Congresso. Os prazos poderiam ter sido mais curtos, com votação nesta mesma quinta-feira em assembleia extraordinária e na próxima semana no Senado, mas a Mesa, em contato com La Zarzuela e La Moncloa, optou por este cronograma.

O Governo não tem pressa em aprovar o foro privilegiado do Rei

Para ressaltar o amplo apoio que a sucessão terá nas Cortes, o porta-voz do Grupo Popular no Congresso, Alfonso Alonso, assegurou que a normalidade da mudança na chefia do Estado é garantida pela existência de “uma maioria sólida e ampla” nas Cortes.

Para Alonso, este relevo será exemplar, de acordo com o cumprimento das previsões constitucionais e o escrupuloso respeito às normas legais.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_