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O Rio se impregna do surrealismo de Dalí

O Centro Cultural Banco do Brasil recebe de 29 de maio a 22 de setembro a exposição do pintor com 164 obras e 56 documentos

Rio recebe a mostra de Salvador Dalí.
Rio recebe a mostra de Salvador Dalí.antonio lacerda (efe)

É provável que não volte a existir um momento mais propício no Rio de Janeiro para receber uma retrospectiva do artista catalão Salvador Dalí (1904-1989). Primeiro, porque em menos de duas semanas o Brasil se tornará o centro do mundo com a realização da Copa do Mundo e milhões de visitantes vão circular pela capital turística do país, ávidos por atividades que fujam do futebol e da praia. E, em segundo lugar, porque há alguns meses o movimento surrealista, do qual Dalí foi porta-estandarte, serve de inspiração para um coletivo carioca autodenominado Rio Surreal que denuncia os preços abusivos praticados na cidade. O movimento cunhou uma nova moeda extraoficial chamada surreal e nas cédulas virtuais aparece o rosto de Dalí com seus eternos bigodes afiados.

O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), um lindo edifício de linhas neoclássicas localizado no centro do Rio, recebe de 29 de maio a 22 de setembro a exposição, que conta com 164 obras e 56 documentos. Foram necessários cinco anos para selecionar minuciosamente as peças cedidas pelas três coleções mais relevantes do artista: a Fundação Gala-Salvador Dalí, de Figueres, o Museu Reina Sofía, de Madri, e o Museu Salvador Dalí, de St. Petersburg, na Flórida (EUA). “Foi uma retrospectiva pensada com muito cuidado para o Brasil e quisemos apresentar sobretudo o Dalí surrealista, com muitas obras dessa fase, mas sem abandonar o restante de sua trajetória; o início e o final, ou seja, os períodos menos conhecidos”, explica a diretora do Centro de Estudos Gala-Salvador Dalí e curadora da mostra, Montse Aguer.

O percurso da exposição, em geral por salas na penumbra para criar um clima de mistério, transporta o visitante ao primeiro período do pintor catalão, quando ainda era um jovem estudante e despontava com telas como o Retrato de meu Pai e Casa de Es Llaner (1920), O Caminho de Portlligat com Vistas do Cap de Creus (1921), Autorretrato Cubista (1923) e Retrato de minha irmã (1925). Pouco depois o artista viajaria pela primeira vez a Paris para visitar Pablo Picasso em seu estúdio na capital francesa. Foi nessa época que Dalí começou a traçar seu caminho sem volta rumo ao surrealismo, do qual acabaria se tornando seu expoente máximo.

Foi a partir dos filmes realizados com Luís Buñuel, Um Cão Andaluz (1929) e A Idade do Ouro (1930) que Dalí e o cineasta passaram a integrar plenamente o movimento surrealista, forjado nos tabernáculos artísticos parisienses. Ambos os filmes também podem ser vistos na mostra, em uma sala que na verdade é a antiga caixa-forte do Banco do Brasil. O período surrealista foi o mais fecundo de Dalí, o que o consagrou como artista completo e de múltiplas faces, o que lhe trouxe uma fama mundial por suas delirantes teorias paranoico-críticas sobre a interpretação da realidade. As principais obras desse longo período incluídas na exposição que chega ao Rio são a extraordinária Monumento Imperial à Mulher-menina (1929), O Sentimento da Velocidade (1931), Eco Morfológico (1935), Paisagem Pagã Média (1937), e Idílio Atômico e Urânio Melancólico (1945), que evoca os desastres da Segunda Guerra Mundial.

As múltiplas telas, desenhos e gravuras são acompanhados de uma coleção de fotografias do artista e capas de revistas de várias décadas. Ainda que a mostra que desembarca no Brasil não chegue aos níveis de excelência da retrospectiva de Salvador Dalí exposta no Centro Pompidou de Paris e no Reina Sofía (2012-2013), nesta se apresenta uma faceta pouco explorada do pintor. “Cerca de 95% das obras nunca tinham sido vistas no Brasil e quisemos evitar o Dalí conhecido”, destaca Aguer.

A retrospectiva conta também com uma sala especialmente concebida para que o público faça seu autorretrato no sofá vermelho em forma de lábios, réplica do original exposto na Sala Mae West do Museu Dalí de Figueres.

“Dalí tem o reconhecimento do público geral no Brasil. Todo mundo o conhece por cima, mas esta é uma grande oportunidade de se aprofundar um pouco em sua obra, com trabalhos fantásticos”, explica Ricardo Ohtake, presidente do Instituto Tomie Ohtake de São Paulo, um dos organizadores da mostra patrocinada pela Abertis (e sua filial brasileira, Arteris), Banco do Brasil, IRB, Mapfre e Telefónica. De 1º. de outubro até o fim de 2014, o surrealismo do gênio de Ampurdán estará no Instituto Tomie Ohtake de São Paulo.

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