A França compra 2.000 vagões de trem mais largos que as estações
A polêmica ganha força com os primeiros pedidos de demissão para os responsáveis A companhia pública investiu 45,5 bilhões de reais na renovação de sua frota O proprietário da rede ferroviária calcula que as obras de adaptação custarão 150 milhões de reais
A encomenda de 2.000 vagões de trens regionais que são muito largos para circular por 1.200 estações do país provocou uma grande polêmica na França, onde a ministra da Ecologia e Transportes, Ségolène Royal, pediu que se assumam "responsabilidades" por uma "decisão estúpida". "Estou consternada com essa decisão tomada por dirigentes que estão fechados em seus gabinetes parisienses e que não têm contato com a realidade", afirmou Royal, ao término da reunião do Conselho de Ministros. A ministra exigiu uma investigação interna para determinar as responsabilidades e assegurou que "os culpados pagarão".
A companhia investiu cerca de 15 bilhões de euros (45,5 bilhões de reais) em seu ambicioso programa de renovação de sua frota regional iniciado em 2009, e no âmbito do qual encomendou os 2.000 trens que agora resultam ser demasiado largos. A empresa pública de transportes SNCF encomendou à francesa Alstom e à canadense Bombardier os veículos, para renovar antes de 2016 parte de sua rede regional, mas agora se deu conta de que as novas composições superam em dez centímetros de cada lado a largura de boa parte das estações pelas quais os vagões devem circular.
As novas composições superam em dez centímetros de cada lado a largura de boa parte das estações
A informação foi revelada pelo semanário satírico Le Canard Enchainé e confirmada pelas empresas públicas responsáveis pela rede ferroviária francesa e os trens (RFF e SNCF). O presidente da RFF, Jacques Rapoport, admitiu à rádio Europe 1 que terão de ser realizadas obras no valor de 50 milhões de euros (151,7 milhões de reais) para adaptar as plataformas das estações aos novos trens. Rapoport negou que se trate de um erro e assegurou que as obras estão inseridas no projeto de renovação das estações, que em alguns casos têm mais de 150 anos.
O secretário de Estado dos Transportes, Frédéric Cuvillier, afirmou que o problema está na separação, definida há 17 anos, entre a RFF, que gerencia as vias, e a SNCF, responsável pelos trens. Acrescentou que a lei de reforma do setor ferroviário que está preparando pretende acabar com essa separação, mas lembrou que os sindicatos se opõem a esse projeto. Royal, por sua vez, indicou que as obras de condicionamento devem ser aproveitadas para adaptar as plataformas aos passageiros inválidos.
"Quando se separa o operador ferroviário (RFF) do usuário (SNCF) não funciona", indicou Cuvillier em declarações à emissora BFMTV. "Descobrimos o problema um pouco tarde", admitiu, por sua vez, o porta-voz da RFF, Christophe Piednoël.
Estações muito antigas
Em um comunicado conjunto, as empresas públicas afirmaram que o calendário dos trabalhos de condicionamento foi fixado em função das entregas dos três regionais (até 2016) e assinalaram que já foram reformadas 300 plataformas, podendo esse número chegar a 600 em 2014.
Os custos de adequação estão inseridos nos orçamentos da RFF, de 8 bilhões de euros (24,2 bilhões de reais) por ano, e não recairão no contribuinte nem vão supor um reajuste dos bilhetes, segundo prometeram as empresas. Na contramão do que assegura o Le Canard Enchainé, acrescentaram que as regiões também não pagarão a conta, apesar de serem estas as que financiam a compra dos novos trens.
A divulgação desses problemas às vésperas das eleições europeias provocou uma autêntica tempestade na França, onde vários políticos pedem demissões no âmbito das duas empresas públicas. Um dos mais rígidos foi o líder do Partido Socialista, Jean-Christophe Cambadélis, que na televisão iTélé pediu "responsabilidades por um erro que custa tanto dinheiro".
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