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Uma tentativa frustrada de golpe de Estado agrava o caos na Líbia

Um general rebelde invade a capital para tomar a tiros o Parlamento

Javier Casqueiro

O caos tomou conta da Líbia há meses a situação piora a cada dia. Esse fim de semana foi especialmente descontrolado. No domingo, as forças leais a um general renegado tentaram dar um golpe no Parlamento, com tiros e tanques pelas ruas da capital, contra o poder legislativo. Na sexta-feira, essas mesmas forças provocaram um confronto armado na cidade rebelde de Bengasi que resultou em mais de 70 mortos e 140 feridos. O aeroporto de Benina, nessa cidade, ficou fechado todo o fim de semana e, na manhã desta segunda-feira, foi objeto de um ataque com foguetes 'Grad', segundo informaram fontes militares e de segurança. A União Europeia expressou nesta segunda-feira sua grande preocupação com a situação deste país-chave do norte de África, que sofre, ao mesmo tempo, de um fenômeno de imigração.

Este último episódio violento em Trípoli foi considerado como o pior desde a queda em 2011 do ditador Muamar Gadafi. O caos acontece depois de algumas semanas de grande insegurança na capital da Líbia, onde pessoas foram sequestradas e diplomatas estrangeiros expulsos, além do fechamento de várias embaixadas, e no mesmo momento em que as enfraquecidas autoridades locais asseguravam que abririam, enfim, a passagem dos portos petrolíferos do golfo de Es Sider, bloqueados desde o ano passado pelas milícias armadas. O barril de petróleo Brent para entrega em junho abriu suas cotações nessa segunda-feira no Intercontinental Exchange Futures (ICE), a bolsa de Londres, a 109,97 dólares, 0,20 % a mais que no fechamento na sexta-feira passada. A Líbia está há um tempo tentando recuperar a capacidade de produção de petróleo para melhorar as suas condições econômicas. O governo do país vizinho, a Tunísia, anunciou hoje o envio de reforços à zona fronteiriça com a Líbia.

O coronel Mojtar Farnana, comandante da polícia militar, foi o que comunicou pela televisão líbia na noite do domingo que um grupo liderado pelo general Jalifa Hifter entrava a força na capital para nomear uma Assembleia Constituinte de 60 membros para cassar o Parlamento e começar outra Constituição. Farnana disse que o governo líbio funcionaria em modalidade de emergência, mas não ofereceu mais detalhes. Também informou de que forças leais a Hifter atacaram o Parlamento a tiros no domingo, embora não quis qualificar a operação como um golpe de Estado e a denominou como uma briga entre "os escolhidos pelo povo". "Anunciamos ao mundo que o país não pode ser uma incubadora de terrorismo", proclamou Farnana vestido com o uniforme militar e junto à bandeira líbia. Farnana é o chefe das forças armadas em Trípoli.

O resultado do ataque ao parlamento do domingo é ainda muito confuso. Algumas fontes asseguram que tenha resultado em dois mortos e mais de 50 feridos. Dizem também que houve a participação  de membros rebeldes de dois dos grupos armados, Al Qaqaa e Al Sawaeq, que acampam por diferentes zonas do país.

O governo interino da Líbia, que mudou de primeiro-ministro três vezes em pouco mais de um mês e que ainda não completou todas as nomeações de seu último gabinete, não comentou estas declarações dos militares. O ministro da Justiça, Saleh a o-Mergane, só compareceu para fazer um apelo às partes para que deixem as armas e iniciem o diálogo.

Os disparos sobre o Parlamento líbio foram escutados no domingo durante todo o dia e a vários quilômetros de distância. Também foram visto tanques e carros armados por diferentes ruas da capital. E fumaça sobre os telhados próximos ao parlamento.

Um servidor público de segurança comentou à imprensa local que os ataques foram disparados contra uma base militar próxima controlada por uma milícia islamita. Os militares rebeldes liderados pelo general Jalifa Hifter estão especialmente contra as milícias islamitas em Bengasi, a segunda cidade da nação, no leste, mas também questionam sua presença no Parlamento. E criticam que o governo central não tem autoridade para exercer o controle sobre elas. Aliás, o porta-voz do general chamou o Parlamento de “núcleo da crise" nacional e acrescentou: "Este Parlamento é o que apoia as entidades islamitas extremistas. O objetivo era prender esses islamitas disfarçados de políticos".

Os legisladores reunidos no domingo no Parlamento atacado estavam tentando referendar o novo primeiro-ministro Ahmed Miitig, eleito no dia 4 de maio, e também valorizar a crítica situação em Bengasi. A primeira conclusão do acontecido foi clara. Os rebeldes tentava um "golpe de Estado" contra o Governo interino líbio. Os deputados foram evacuados pelas forças de segurança e o presidente do Parlamento foi protegido em local seguro para tentar continuar com as conversas políticas com diferentes grupos para normalizar a crise.

O Parlamento líbio está dividido, como o país, entre forças islamitas e não islamitas que disputam a designação de um novo governo e as eleições. No mês passado, as forças islamitas respaldaram a designação de um novo primeiro-ministro, enquanto os grupos não islamitas saíram da sala onde ocorria a reunião. O anterior primeiro-ministro se demitiu depois de anunciar que a sua família estava sendo ameaçada. E seu antecessor foi forçado a deixar o Governo e o país depois da crise de autoridade que se constatou depois do incidente protagonizado pelo Morning Glory, o barco de bandeira norte-coreana que as milícias rebeldes conseguiram carregar de petróleo no porto de Sirte ainda que com as advertências das forças armadas.

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