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CRISE NA UCRÂNIA

A UE amplia as sanções contra duas empresas da Crimeia e 13 pessoas

Os ministros das Relações Exteriores se reúnem após o referendo de independência no Leste da Ucrânia O Governo russo garante que respeita o resultado da consulta de autodeterminação Van Rompuy viajará nesta segunda-feira a Kiev para manifestar o apoio da UE às autoridades ucranianas

Lucía Abellán
O autodenominado comitê eleitoral conta votos em Donetsk.
O autodenominado comitê eleitoral conta votos em Donetsk.E. M. (AP)

A União Europeia anunciou pela primeira vez sanções contra duas empresas devido à crise ucraniana e à decisiva intervenção russa em andamento. Os chanceleres da União Europeia aumentaram na manhã desta segunda-feira a pressão sobre a Rússia para incluir mais 13 pessoas na sua lista negra, além de uma novidade: duas empresas da Crimeia expropriadas quando a região passou das mãos ucranianas para as russas, segundo fontes diplomáticas.

O alcance das sanções é um pouco menor do que os representantes da UE haviam considerado nos últimos dias. Nas reuniões preparatórias, mais companhias foram citadas – até cinco – para serem alvos da penalização devido ao seu papel na crise, mas a necessidade de unanimidade entre o grupo formado por 28 países reduziu o escopo das sanções. Até domingo, 14 pessoas haviam sido identificadas para serem punidas, mas a lista foi finalizada com uma a menos.

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Com o surgimento das primeiras empresas sancionadas, Bruxelas admite que a chamada fase dois das sanções tem limitações (proibição de vistos para a Europa e congelamento de bens de indivíduos considerados responsáveis de terem violado a integridade territorial da Ucrânia, assim como as empresas diretamente ligadas a elas). Assim, a UE não podia penalizar condutas consideradas prejudiciais para a Ucrânia se não houvesse um pessoa em particular para vinculá-las. Na última semana, os representantes permanentes dos Estados membros entraram em acordo sobre as mudanças legais pertinentes para permitir esta alteração.

Com essas 13 pessoas, a lista de alvos de sanções devido à crise na Ucrânia (na maioria russos e cidadãos da Crimeia, agora informalmente da mesma nacionalidade) tem 61 pessoas. Embora o impacto seja limitado às pessoas afetadas, na prática a aplicação de sanções da Europa e dos Estados Unidos e o cenário de incerteza que isso gera já estão prejudicando a economia russa, que já está vendo fugas de capitais de cerca de 2,5% do PIB , queda no rublo e nas ações das empresas russas.

Bruxelas continua aumentando a pressão sobre o presidente russo, Vladimir Putin, diante das dúvidas geradas pela suavização do seu discurso nos últimos dias. A UE impõe mais sanções porque não acredita que Moscou esteja recuando na sua estratégia de desestabilizar a Ucrânia, mas não adotará medidas mais fortes a menos que Putin avance com suas manobras (por exemplo, se não admitisse ou boicotasse as eleições presidenciais de 25 de maio, ou se realizasse qualquer movimento com as tropas russas que estão posicionadas ao longo da fronteira com a Ucrânia).

No entanto, muitos países insistem na necessidade de ter no horizonte essa terceira rodada de sanções (por exemplo, restrições comerciais, ou medidas voltadas para setores específicos que realmente prejudiquem a economia russa, embora também possam prejudicar a europeia) porque o comportamento demonstrado por Putin durante toda esta crise impede finalizar a fase mais difícil. “É muito importante mostrar que estamos prontos para a terceira rodada de sanções dependendo da atitude da Rússia em relação às eleições de 25 de maio. Isso é o mais importante de tudo”, disse na manhã desta segunda-feira o secretário de Relações Exteriores britânico, William Hague.

À espera de respostas mais contundentes, a Europa se esforça para ver as nuances de cada uma das palavras do presidente russo. O presidente da OSCE, o suíço Didier Burkhalter, colocou os holofotes nesta segunda-feira no diálogo interno entre o Governo ucraniano e as organizações da sociedade civil do país. “O maior desafio para o diálogo na e sobre a Ucrânia é o tempo”, acrescentou. Burkhalter também elogiou a mudança de tom do governo russo, que disse nesta manhã que “respeita” o resultado do referendo em Donetsk e Lugansk. “A Rússia fala de respeito e não de reconhecimento, e isso é importante”, concluiu.

O Governo russo garantiu que respeitará o resultado das consultas populares sobre a autodeterminação realizadas em Lugansk e Donetsk. “Em Moscou, esperamos que o resultado seja recebido de maneira prática e pacífica, sem que se repita a violência e através do diálogo”, disse o Kremlin em um comunicado. Estes resultados são o fruto do “descontentamento das pessoas”, segundo a interpretação do presidente deposto da Ucrânia Viktor Yanukovich.

De Moscou, onde está no exílio desde que foi removido do cargo, Yanukovich disse nesta segunda-feira em comunicado divulgado pela imprensa ucraniana que Kiev passou do ponto ao enfrentar no sudeste da Ucrânia a população de língua russa de Donetsk e Lugansk. “Por que uma maioria absoluta dos habitantes da bacia carbonífera do Donets foi ao referendo para votar por qualquer forma de Estado que não seja aquela que permite chamar os cidadãos de terroristas e matá-los impunemente? Porque o limite da paciência do povo ucraniano já foi ultrapassado”, disse Yanukovich.

Enquanto castiga a Rússia – com moderação –, a UE intensifica o seu apoio à Ucrânia, agora fortemente dependente do apoio externo para enfrentar o colapso econômico e o marasmo político. O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, viajou nesta segunda-feira a Kiev para se reunir com primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, que visitará Bruxelas na terça-feira para consultar a Comissão Europeia. As autoridades da comissão tentam afastar o caos no país vizinho oferecendo o seu apoio ao Governo de Kiev, mas até agora a capacidade de mobilização dos movimentos pró-russos provou ter muito mais efeito.

Kiev considera os referendos uma “farsa” da Rússia

O presidente da Ucrânia, Alexandr Turchinov, disse que os referendos realizados no domingo nas regiões de Donetsk e Lugansk são uma “farsa” organizada pela Rússia para desestabilizar a Ucrânia e derrubar o Governo de Kiev.

Em um comunicado, o presidente ucraniano ressaltou que as consultas, nas quais os eleitores se manifestaram de forma esmagadora em favor da secessão de Kiev, não terão nenhuma consequência jurídica na Ucrânia, com exceção da “responsabilidade criminal dos seus organizadores”.

“Esses processos são inspirados pela Federação Russa, são destruidores para as economias das regiões de Donetsk e Lugansk, ameaçam a vida e o bem-estar dos cidadãos e pretendem desestabilizar a Ucrânia, impedir a eleição presidencial e derrubar as autoridades de Kiev”, explicou.

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