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A memória do 11 de setembro causa dor

A mudança do restos mortais não identificados de vítimas do 11 de setembro para o Museu Memorial do Ground Zero de Nova York suscita críticas por parte de alguns familiares

Familiares de vítimas do 11 de setembro protestam contra a mudança dos restos restos mortais ao Memorial do World Trade Center.
Familiares de vítimas do 11 de setembro protestam contra a mudança dos restos restos mortais ao Memorial do World Trade Center.PETER FOLEY (EFE)

A mudança de restos mortais ainda não identificados das vítimas do atentado de 11 de setembro para o local de descanso definitivo, o Museu Memorial construído no World Trade Center, aos pés da Torre One, foi guardada em segredo até o último minuto pelas autoridades de Nova York. Isso não impediu que neste sábado alguns familiares se aproximassem do chamado Ground Zero (o marco zero das torres derrubadas) para protestar em silêncio contra a mudança, com mordaças negras na boca, e para expressar a raiva pela decisão de enterrá-los em um porão.

Embora a ferida do brutal atentado de 2001 esteja fisicamente fechada em Manhattan, a dor ainda continua por dentro. Está sendo um longo processo, dominado pelos atrasos e pela controvérsia. A cerimônia de inauguração do Museu Memorial marcará nesta próxima quinta-feira um importante passo adiante. Nas palavras do prefeito de Nova York, Bill de Blasio, “o Museu é para todos. Para aqueles que presenciaram o evento, com seus próprios olhos ou pela televisão, e que ainda procuram dar sentido ao que ocorreu”. Também se dirige às gerações futuras, diz o governante, para que elas, por meio da história relatada pela mostra, entendam que algo tão terrível não deve voltar a acontecer outra vez. Mas como assinalou De Blasio, acima de tudo é para os sobreviventes, as famílias e as pessoas que participaram dos trabalhos de resgate. O presidente Barack Obama estará na quinta-feira a cerimônia inaugural.

No interior do caixão transladado com uma pequena comitiva até o Ground Zero em um caminhão de bombeiros no último sábado estavam 7.390 fragmentos humanos. O número oficial de mortes depois da queda das Torres Gêmeas passa de 2.753 pessoas, incluindo os ocupantes dos dois aviões sequestrados pelos terroristas e os membros das equipes de resgate. Os restos de 1.115 vítimas não foram identificados. Agora voltam para o local onde respiraram pela última vez, com a esperança de que a tecnologia permita que elas sejam identificadas no futuro.

Mas alguns de seus familiares não concordam que os restos mortais fiquem no local que promete se tornar um dos principais destinos turísticos da cidade. Como ressaltava Sally Regenhard, que perdeu seu filho bombeiro, “eles deveriam estar em um local mais respeitoso”.

A partir da próxima quinta-feira, e durante seis dias, os familiares das vítimas poderão visitar o Museu Memorial, que permanecerá aberto para eles durante as 24 horas do dia. Em 21 de maio, poderá entrar o público geral, a um preço similar ao de outras atrações como o Empire State Building ou a Estátua da Liberdade. A ideia inicial era que o Museu Memorial estivesse aberto para o décimo aniversário do ataque. Mas, na época, só pôde ser inaugurado o parque com as fontes em cascata que o rodeia.

Alguns familiares se dirigiram por carta a Obama expressando sua oposição em relação à mudança dos restos ao Museu Memorial, mesmo que eles fiquem em um local especial ao qual só poderão entrar familiares das vítimas e médicos forenses. Eles acreditam que devem voltar ao World Trade Center, mas para um local separado, similar à Tumba do Soldado Desconhecido no Cemitério Nacional em Arlington, perto de Washington.

E não lamentam apenas que não se tenha levado em conta a opinião deles durante o processo, como indica Rosaleen Tallon, que perdeu um irmão no 11 de setembro. O que mais incomoda é pensar que os restos que não puderam recuperar de seus entes queridos fiquem escondidos sob a terra. No entanto, há outros familiares que veem como adequado que eles sejam depositados nesse local e pedem que não se faça mais batalha política com o assunto. A esperança de todos eles, no final, é a mesma: que se identifiquem pouco a pouco todos os restos.

O Museu Memorial terá duas mostras. Uma explora as causas que estão por trás do atentado e a história daquele fatídico dia em Nova York. Outra homenageia as pessoas que morreram nos atentados contra as Torres Gêmeas. Como explica Joe Daniels, presidente do Museu, será um lembrete do que pode se conseguir quando todo mundo soma esforços em circunstâncias extraordinárias.

A ideia é educar futuras gerações ao mesmo tempo que se salvaguarda uma parte da história da cidade. Para isso, a exposição recorre a depoimentos, fotografias, vídeos e objetos pessoais. No último novembro se celebrou a cerimônia de abertura do 4WTC, o primeiro arranha-céu que abriu suas portas no Ground Zero. Ainda não há data para o corte de fita oficial do One World Trade Center, o edifício central do complexo imobiliário. Também avançam as obras do terminal de transporte desenhada por Santiago Calatrava.

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