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novo governo na França

Valls promete “ir mais longe e mais rápido”

O novo primeiro-ministro prepara uma equipe capaz de aprofundar as reformas na França Os 'verdes' se mostram contrários a participar do Governo

O antigo primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault (e) e o novo chefe de Governo, Manuel Valls, nesta terça-feira em Paris.
O antigo primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault (e) e o novo chefe de Governo, Manuel Valls, nesta terça-feira em Paris.Getty

O novo primeiro-ministro francês, Manuel Valls, tomou posse nesta terça-feira e começou a negociar com o Partido Socialista a composição do novo Gabinete, que será anunciado na quarta-feira e contará muito provavelmente em suas fileiras com Ségolène Royal. Nas últimas semanas, Valls reuniu-se com os grandes banqueiros franceses para preparar o seu salto a Matignon, a residência oficial do primeiro-ministro, sabendo que a economia, e, sobretudo, as reformas estruturais exigidas por Bruxelas, Berlim e pelo Fundo Monetário Internacional são a grande prova de fogo dos socialistas nos próximos três anos.

Obrigado a reagir rapidamente para afastar o desastre eleitoral municipais, François Hollande elegeu como interlocutor monetário o homem mais ativo, popular e belicoso membro do seu primeiro Gabinete. A ideia é pactuar e acelerar as reformas para buscar a volta do crescimento, a competitividade e o emprego. Na terça-feira, Bruxelas lembrou Paris que suas contas estão sendo submetidas a uma vigilância especial, que o déficit segue fora de controle, embora tenha obtido mais dois anos para chegar aos 3% estabelecidos pela UE, e que deve começar a aplicar as reformas e cortes imediatamente. Em sua posse, Valls prometeu que seu Governo irá “mais longe e mais rápido”.

Diante o dilema de cumprir com as exigências alemãs ou se reconciliar com os eleitores que lhe abandonaram, Hollande optou por uma síntese forçada. A conhecida capacidade de Valls para dividir a esquerda significa um risco. Se exceder em seu autoritarismo, poderia perder apoios no Partido Socialista, até provocar uma rebelião. De fato, os verdes, que tinham dois ministros no primeiro Governo Hollande, não vão participar no Executivo, segundo fontes citadas pelo diário Le Monde, o que põe em perigo a frágil maioria parlamentar por trás de Valls.

Por outro lado, o primeiro-ministro é menos social-democrata, mais neoliberal e tem melhores relações com a direita e os meios de comunicação que seu antecessor, Jean-Marc Ayrault. Mas também é mais hábil para lidar com os temas sociais e de imigração que geram consenso, e isso pode melhorar a popularidade do Executivo e evitar que o descontentamento cresça e as ruas estourem.

Na segunda-feira, Hollande anunciou, enquanto ocorria a nomeação de Valls, uma redução dos benefícios sociais pagos aos trabalhadores para compensar com um pacto de solidariedade o compromisso de responsabilidade proposto no dia 14 de janeiro ao patronato, que contempla menos cargas empresariais e um corte da despesa pública de 160 bilhões de reais até 2017.

O presidente, que tenta corrigir sua recente guinada liberal, mal tem margem de manobra para baixar os impostos sem novos cortes de orçamento público, mas disse que a prioridade é o crescimento e que a maior injustiça é o desemprego, e inclusive desarquivou a esquecida fórmula de “reorientar a Europa”. Hollande inclusive deixou cair que o novo Governo “terá de convencer” Bruxelas de que seus “planos para voltar a crescer” devem ser “levados em conta”.

É o eterno jogo da França com a União Europeia, ao mesmo tempo em que o peixe da austeridade morde a isca: os cidadãos franceses opõem-se às reformas do Estado de bem-estar e às concessões gratuitas ao capital quase por natureza; seus presidentes e ministros negociam, pedem uma trégua ou arremetem contra Bruxelas, segundo convém; e a Comissão Europeia protesta um pouco e, geralmente, acaba permitindo à segunda economia do euro que faça mais ou menos o que ela quer.

A dúvida é saber até que ponto Angela Merkel decide ser compassiva com o frágil Hollande ou se pressiona para aplicar retaliações e multas aos países que não cumprem os objetivos de déficit e dívida. Enquanto a França pagar, como nos últimos dois anos, juros de 2,05% para financiar sua dívida soberana, pareceria lógico que Hollande tente ganhar o tempo que puder para não favorecer ainda mais a ascensão de uma extrema direita que desponta como favorita para as eleições europeias de maio, reacendendo os fantasmas da saída do euro e da ausência de soberania econômica e monetária.

No campo da retórica antieuropeia, o melhor ativo do Governo socialista é Arnaud Montebourg, o esquerdista e ultraprotecionista ministro da Indústria, que provavelmente ganhará força no Gabinete de Manuel Valls pois ambos teceram uma aliança de interesses para suavizar a imagem direitista do novo primeiro-ministro.

Na terça-feira, Montebourg passou para o ataque e afirmou que “a Comissão Europeia é totalmente inútil em questões de crescimento”, para agregar com sua retórica inflamada: “Com a eleição de Manuel Valls e de um Governo de combate, temos a possibilidade de reorientar a Europa. Até agora, foi a Europa que nos reorientou para a austeridade e para o dogma, quando o que precisamos é de pragmatismo”.

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