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A feira erótica garante apenas nas preliminares

Curiosidade é o maior chamariz para atrair o público ao evento que, na 'hora h', acaba brochando

Marina Rossi
Modelos na Erótika Fair.
Modelos na Erótika Fair.Divulgação

Olhando de fora, o tamanho pode impressionar. Mas nem os mais de 200 mil metros quadrados do Centro de Exposições Imigrantes foram suficientes para que se erguesse alguma novidade no evento que se autointitula “a maior feira erótica da América Latina”.

Com um título tão respeitável, a 21ª edição da Erotika Fair, que acontece em São Paulo até o próximo domingo, dia 30, é um pouco brochante. Pênis de borracha aos montes, lingeries de pouco bom gosto, fantasias de enfermeiras e bombeiros, show de gogo boys, duas limousines com homens - de roupa - à espera de quem pagasse por um ingresso que dá direito a alguns minutos com brincadeiras recheadas de leite condensado. É um amontoado de clichês.

Diretamente ao ponto, o que mais há na feira são caros simulacros do órgão sexual masculino. E não estamos falando dos visitantes. Talvez por ter a maior parte do público composta por mulheres, os pênis estejam aos montes pendurados nos estandes e exibidos nas vitrines. De vidro, silicone, borracha e até ouro, aquilo que se chamava vulgarmente de consolos podem hoje ser confundidos com bibelôs ou verdadeiros enfeites de centro de mesa. Os vibradores e massageadores de clitóris exibidos na feira estão mais refinados, embora ainda haja espaço para os clássicos: o coelhinho que acende a luz em formato de pênis e a velha borboleta vibratória, que tem o tamanho de uma vagina, ainda têm lugar garantido nas prateleiras.

As peças chegam a custar até 50.000 reais. Caso da Inêz, um pênis feito inteiramente de ouro. Mas quem quiser gastar menos, pode levar pra casa um massageador de ouro por quase 9.000 reais, ou o mesmo modelo, só que feito de aço, por 5.200 reais. “Esses vibradores e massageadores podem ser usados quentes ou frios”, diz a vendedora, em um dos estandes mais luxuosos.

Fora do luxo, não há muita novidade, mas há democracia. Para os que gostam, pênis plus-size à venda e coelhinhas no padrão plus-size desfilando pela feira; para as gordinhas, lingeries plus-size. As ecologistas podem comprar um massageador clitoriano feito 100% de material reciclado. E as atrasadas, um vibrador-despertador, que fica programado para te “despertar” na hora que você quiser.

Esmaltes comestíveis para os que amam pés e não se importam com um gosto açucarado e perfumado do produto. Correntes, cadeados e peças para os sadomasoquistas que não se saciam apenas com chicotinhos - que, aliás, têm aos montes. Sugadores de pênis que prometem deixá-los maiores. Coelhos, coelhos e mais coelhos. As atendentes da feira juram que se pode fazer coisas muito eróticas com as orelhas dos coelhos.

Fora do mundo animal, estava Valentina, a boneca inflável que não é inflável, mas feita de um material chamado cyberskin - uma espécie de silicone, muito parecido com a pele. Ela não cabe em uma caixa, nem é dobrável, mede 1,65, e pesa 75kg. Não é o tipo de “brinquedo” que dá para esconder da namorada. Ela tem todas as articulações do corpo humano, lábios carnudos, seios fartos e uma cintura fina. Embora com características desejáveis, na vida real uma mulher com essas medidas estaria acima dos padrões. Mas, de tão “humana”, Valentina teve a virgindade leiloada no ano passado. Um lance de 105.000 reais arrematou a noite de núpcias da “moça”. E neste ano, ela estava de volta, valendo 15.000 reais.

Os géis, óleos e lubrificantes continuam tendo seu maior poder de sedução no marketing. Vendedoras apresentam uma série deles, alguns prometendo esquentar, outros esfriar, e um terceiro, que diz esquentar e esfriar na sequência. Há também os de efeitos um pouco mais bizarros, como a provocação de “uma espécie de reação alérgica” no pênis ou na vagina, para “deixar mais inchados”, ou um lubrificador para sexo anal que “é quatro em um: lubrifica, dilata, anestesia e cicatriza”. Ou mesmo um gel que promete contrair os músculos da vagina e “dar a sensação de virgindade”, como contou a vendedora. Esqueça os leilões de virgens. O gel custa mais barato e você pode fazer isso em casa.

Selfie-sexo

A inveja do pênis, diagnosticada por Freud nas mulheres, parece ter uma versão masculina. Cansados de tantos e tão variados vibradores, os homens podem agora escolher entre dezenas de masturbadores. Eles vêm em formato de boca, ânus e vagina, todos feitos de silicone. O vendedor garante que “lavou, está novo”. E há os bem completos: um dorso com um par de peitos, bunda e um pênis. Ah, sim, para as “invejosas mulheres”, além dos bichinhos, massageadores e vibradores, há também um aparato giratório, com várias “línguas” de silicone - uma espécie de roda gigante - capaz, segundo os fabricantes, de garantir sessões incansáveis de sexo oral. Ou quase.

O programa pode ser divertido e render boas risadas. As compras são inevitáveis, e a visita a todos os estandes, ao show dos gogo boys e a ida à limousine podem te entreter por até duas horas. Mas a conclusão é que feira erótica é como baile de formatura. A melhor parte é a expectativa. E ainda não inventaram nada mais erótico do que o sexo. Aquele mesmo, feito há milhares de anos, a dois, três ou mais. Sem coelhinhos giratórios, borboletas que piscam ou massageadores de ouro.

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