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A UE firma um acordo de associação política com o Governo de Kiev

Os 28 membros do organismo internacional compensarão os países europeus mais afetados se forem aprovadas mais sanções A represália da UE incluiria medidas econômicas, migratórias e comerciais

La UE aprova mais multas.Foto: reuters_live
Claudi Pérez

“Quando dá um soco pode se machucar o pulso”. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, foi ontem à noite um dos líderes mais combativos contra a Rússia pela anexação da Crimeia. Mas sintetizou com essa frase, durante o jantar de chefes de Estado e de Governo, as dúvidas dos europeus pelas consequências de sua reação: esse dilema em que a Europa está, entre o desejo de dar um soco na Rússia e o temor pelas sequelas desta ação. A UE se uniu na quinta-feira aos Estados Unidos na ampliação da lista de multas. Mas os líderes não quiseram ir além: não passaram das ameaças e enfatizaram que vão explorar a via diplomática antes de passar à seguinte fase de multas.

Uma alta fonte europeia definiu esta manhã o approach continental como “paciência estratégica”. “Ninguém quer enviar tropas”, explicou essa fonte, “mas a cúpula mostrou uma união e uma determinação claras para ter preparadas o quanto antes duras multas se a Rússia não parar as provocações. Essas medidas incluiriam todos os âmbitos: multas econômicas, migratórias e comerciais”. Junto disso, a Comissão trabalha já em um plano de contingência “para compensar os países mais afetados se passa à fase três das multas”, segundo a citada fonte.

Os chefes de Estado e de Governo da UE assinaram nesta sexta-feira com o primeiro-ministro da Ucrânia, Arseni Yatseniuk, os capítulos políticos do acordo de associação que se ofereceu ao anterior Governo de Kiev e cuja a rejeição em novembro desencadearam os protestos na capital. "A assinatura da parte política do acordo UE-Ucrânia simboliza a importância que damos às relações e que seguiremos adiante", disse Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu.

Os líderes acordaram na quinta-feira não especificar as medidas para deixar suficiente margem de manobra se chega uma escalada russa no Leste da Ucrânia. Os países bálticos, o Reino Unido e a Romênia foram os mais duros ao longo do jantar de ontem à noite contra o desafio de Putin, com a firme convicção de que o isolamento diplomático fará danos à Rússia, e com o convencimento de que “Rússia depende das exportações à Europa bem mais do que nós dependemos da Rússia”, segundo a citada fonte europeia. A Alemanha defendeu ontem à noite uma solução pragmática, equilibrada, com o chanceler Angela Merkel muito menos ambivalente que em outras cimeiras, mas ao mesmo tempo alertando das sequelas que provocaria subir um degrau até a terceira fase de multas. “Temos claras as consequências? Estamos prontos para o seguinte passo?”, propôs Merkel ao Conselho Europeu.

Acordo Ucrania-UE.Foto: reuters_live

Ante essas questões, a Comissão trabalha já em paralelo para desenvolver um pacote sancionador caso Putin vá além da Crimeia, e com as mencionadas medidas compensatórias para os países mais dependentes por seus laços econômicos com a Rússia. “Se há uma futura desestabilização da Ucrânia, deve ter sérias consequências para os russos.

Mas o impacto nos próprios países europeus será também muito desigual: não é o mesmo no caso de Eslováquia, Bulgária ou os bálticos, muito dependentes, que no Sul, onde Portugal mal se veria afetado ou a Espanha sofreria em setores como o turismo ou o investimento residencial”, segundo fontes europeias. O caso mais problemático é o Chipre: um país em pleno resgate europeu e no meio de uma recessão profunda, que depende das chegadas de turistas russos para tirar a cabeça de uma crise oceânica. “A Alemanha e o Reino Unido sofreriam impactos, mas menores. Há países nos que a dependência energética ou a queda de rendimentos em caso de ativar as multas pode gerar maiores problemas: a Comissão embaralha diferentes palcos a respeito”, segundo a mesma fonte. O desenho das multas é fundamental: se há embargo de armas, o país mais prejudicado é a França; se há multas financeiras, o Reino Unido, Luxemburgo, Chipre e Letônia sofrerão as consequências. Em caso que as multas centrem-se no setor energético, Alemanha e Itália, junto dos países mais próximos da Rússia, temem pelos efeitos dessas medidas e pela reação da Rússia.

As conclusões da cimeira deixam claro que a ameaça está aí, mas dificilmente se ativará em curto prazo a não ser que Putin mova os tanques. A via diplomática segue –a “paciência estratégica”--sendo a estratégia preferida. O comunicado do Conselho oferece pistas de por onde vão os tiros: “Em ausência de uma escalada, o Conselho Europeu se compromete em alargar a lista de pessoas que terão seus ativos congelados e vistos proibidos. O Conselho cancela a próxima Cúpula UE-Rússia, e os Estados membros não celebrarão cimeiras bilaterais com a Rússia pelo momento. Além disso, o Conselho Europeu e os Estados membros apoiam a próxima reunião dos países do G-7 em Haia. Também apoiam a suspensão das negociações sobre a adesão da Rússia à OCDE [o clube dos países ricos] e a Associação Internacional de Energia [outro think tank dos grandes países consumidores de energia]”.

“Basta de provocações”, foi uma das frases mais pronunciadas ontem no jantar de líderes. Os chefes de Estado e de Governo europeus consideram que se o que Putin queria era se converter no grande provocador, conseguiu. Mas se o que quer é voltar à velha ordem das duas superpotências, se o que tem é nostalgia do papel de Rússia no mundo, a UE pretende lhe fazer pagar um alto preço, embora é consciente de que parte dessa dor será auto-infligida.

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