Maduro acusa os EUA de liderar tentativas para derrubá-lo
O presidente da Venezuela garante que os EUA financiam a violência que estremece o país
O roteiro escrito pelo falecido presidente Hugo Chávez voltou a se repetir na sexta-feira durante todo o dia. Washington é em última instância o responsável pela violência que abala a Venezuela há um mês. Primeiro foi o chanceler Elías Jaua, que de manhã chamou o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, de assassino por “incentivar os tumultos violentos”. À tarde, em uma entrevista coletiva com correspondentes estrangeiros, o presidente Nicolás Maduro disse que era evidente que os Estados Unidos queriam derrubá-lo.
O mandatário pediu “ao lobby republicano [em referência ao Partido Republicano] e aos lobbies de direita de Miami”, que “pegassem leve” [que se acalmassem, na linguagem informal venezuelana]. “Estão fracassando em sua tentativa de promover a desestabilização da Venezuela”, acrescentou.
EUA evitam a discussão
O Departamento de Estado dos Estados Unidos optou por não responder diretamente às acusações de Jaua, mas deixou claro em um comunicado que “a solução na Venezuela passa pelo diálogo entre os venezuelanos, não na repressão ou no lançamento de tijolos verbais aos EUA”. Horas antes, sua porta-voz, Marie Harf, afirmou que o governo de Caracas “falta descaradamente com a verdade” quando tenta responsabilizar os EUA de promover e incentivar os protestos na Venezuela. “Os funcionários que tentam fazer com que isso gire em torno dos EUA estão descaradamente faltando com a verdade sobre o que está acontecendo lá”, disse.
Washington continua disposto a incentivar o diálogo entre o governo de Maduro e a oposição como forma de resolver o conflito por meio de um intermediário. “Acreditamos que pode haver uma chance de sucesso se uma terceira parte mediasse, uma parte externa que seja aceita por todas as partes”. No entanto, tal como salientou Kerry nesta semana durante sua visita à Câmara dos Deputados, os EUA estão considerando todas as opções, incluindo a possibilidade de aplicar sanções a indivíduos venezuelanos, uma alternativa que foi apoiada por ambos os partidos das duas Casas do Congresso, onde foram apresentadas propostas separadas para impor proibições de vistos e congelamento de bens de indivíduos envolvidos na violação dos direitos humanos na Venezuela. “Nosso objetivo é que o povo venezuelano seja ouvido por seu governo e tenha uma voz na hora de determinar o seu futuro”, disse Harf.
Além de apelar para um diálogo inclusivo, o Departamento de Estado pediu ao governo de Maduro que “pare com todos os tipos de repressão de cidadãos que exercem o seu direito à liberdade de opinião e de expressão”, que “liberte todos os que foram presos injustamente, como Leopoldo López” e “suspenda as restrições à liberdade de imprensa”.
Maduro baseia a sua análise em alguns fatos ocorridos nos últimos dias: o pedido para congelar os bens de funcionários do governo da Venezuela nos Estados Unidos, apresentado na quinta-feira pelos senadores democratas Robert Menéndez e Bill Nelson e o republicano Marco Rubio; as constantes referências de Kerry à situação política na Venezuela – um verdadeiro toma lá dá cá – e as observações do Comando Sul, que garante que a situação venezuelana “está caindo aos pedaços”.
O líder venezuelano disse que está derrotando um golpe de Estado que ocorre desde 12 de fevereiro. Naquele dia, três pessoas morreram nas manifestações que se iniciaram após uma marcha da oposição. Com as três pessoas mortas na quarta-feira em Valência, no centro-oeste da Venezuela, o total de vítimas fatais subiu para 28. Para Maduro, todas as mortes ocorridas são atribuídas à “violência 'guarimbera’ [distúrbios de rua violentos]”.
O presidente buscou desmentir que os protestos sejam apenas obra de estudantes e apresentou um balanço de detentos em um mês de manifestações: das 1.529 prisões, menos da metade, 558, são estudantes. “E menos de 10% receberam uma medida de privação de liberdade”, disse ele. “Cada mensagem enviada pelo governo dos EUA alimenta a chama da violência que é apagada a cada dia graças ao trabalho da polícia e dos militares”, acrescentou. Maduro não deixou de reconhecer os excessos cometidos pelas forças de segurança no momento de manter a ordem. Ele disse que há 21 policiais presos e processados, mas destacou, no geral, o desempenho “baseado na lei” das tropas antimotim.
O chefe do governo venezuelano tem sido relutante em aceitar qualquer opinião externa sobre os protestos, mas recebeu bem a disposição do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, de mediar o conflito. “Agradeço ao governo do presidente Santos por todo o apoio que nos tem dado na OEA e na Unasul. É um dos presidentes que mais nos defendem realmente”, expressou.
Nos próximos dias, um grupo da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) chegará a Caracas para “acompanhar e apoiar” o diálogo político já iniciado por Maduro. A oposição não participa destas discussões, pois acredita que o governo não está disposto a concordar com a parte do país que não apoia o modelo atual de desenvolvimento.
Santos admitiu, em entrevista publicada pelo jornal colombiano El Tiempo, que há uma iniciativa que poderia incluir vários ex-presidentes latino-americanos dispostos a fazer a mediação entre o governo e a oposição da Venezuela para acabar com a crise política.
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