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Maduro sobre o líder oposicionista Leopoldo López: “O fascista deve ir preso”

O coordenador nacional do partido Vontade Popular é acusado pelas autoridades venezuelanas de promover o desenlace violento da manifestação antigoverno em Caracas

O oposicionista Leopoldo López, em uma manifestação em Caracas.
O oposicionista Leopoldo López, em uma manifestação em Caracas. jorge Silva (REUTERS)

A Guarda Nacional da Venezuela visitou os principais portos e aeroportos o país para executar o mandado de prisão contra o líder opositor Leopoldo López. A busca também se estendeu ao aeroporto privado Oscar Machado Zuloaga, em Charallave, nos arredores da capital venezuelana, e na sede do partido Vontade Popular (VP), que foi alvo de buscas na tarde desta quinta-feira.

Na noite de quinta-feira, o presidente Nicolás Maduro confirmou que o Governo está à procura de López. Em mensagem transmitida para todo o país, o chefe de Estado disse, sem citar nomes: “Em breve ele terá de conhecer o cárcere por seus crimes. Chova, troveje ou relampeje, o foragido fascista deve ir preso”. Pouco antes, o líder nacional do VP havia escrito no Twitter que continuava no país e permaneceria nas ruas. Mas essa versão foi refutada pelo número dois do governo, Diosdado Cabello, que anunciou, também no Twitter, que López tinha passagem marcada para viajar a Bogotá no primeiro voo da manhã.

O Governo acusa López, de 42 anos, pelo violento desenlace de um protesto da oposição ocorrido nesta quarta-feira no centro de Caracas, que culminou com três mortos. Maduro assegurou que esse evento é parte de um golpe de Estado em gestação, e pediu a solidariedade dos governos da América Latina e do Caribe.

Seu paradeiro é desconhecido, embora Carlos Vecchio, outro dos dirigentes da organização, tenha dito que López estava na sua casa, em companhia dos seus advogados. Esse dirigente faz parte de uma ala da oposição – na qual também estão a deputada María Corina Machado e o prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma – que decidiu promover manifestações nas ruas até que o regime venezuelano caia. Em entrevista coletiva na quarta-feira à noite, o dirigente minimizou a possibilidade de ser preso, e disse que permaneceria no país para enfrentar as consequências das ações que convocou.

O jornal El Universal, de Caracas, obteve uma cópia da ordem de captura. Segundo esse documento, López está sendo imputado pelos delitos de formação de quadrilha, incitação ao crime, intimidação pública, incêndio a edifício público, danos à propriedade pública, lesões corporais graves, homicídio e terrorismo.

“Quando tomarmos as medidas que vamos tomar, certamente nos acusarão de antidemocráticos”, admitiu o chanceler Elías Jaua numa entrevista ao canal estatal venezuelano Telesur. A primeira dessas medidas parece ser a iminente detenção de López. A outra é impedir a transmissão dos sinais dos canais internacionais, que burlam o cerco informativo imposto pelas emissoras locais na exibição ao vivo dos acontecimentos. O sinal da rede colombiana NTN 24 foi tirado da grade de programação das operadoras de TV paga Directv e Movistar, após ordem verbal dada pelo presidente da Comissão Nacional de Telecomunicações, William Castillo. O site dessa emissora também foi bloqueado.

A manhã da quinta-feira transcorreu em relativa calma. Barreiras e blindados da Guarda Nacional venezuelana vigiavam a sede da Direção Executiva da Magistratura, na avenida Francisco de Miranda, em Caracas, e os bairros da capital onde habitualmente há manifestações. Usuários da rede social Twitter relataram a mesma cena na cidade de Mérida, nos Andes venezuelanos, onde há duas semanas os estudantes travam violentos confrontos com a polícia.

Por volta do meio-dia, entretanto, alguns alunos da Universidade Alejandro de Humboldt, localizada na avenida Rómulo Galegos, saíram à rua para protestar pela morte de um de seus colegas, Brasil da Costa, vítima de um tiro na cabeça. Igualmente, outros jovens do Instituto Universitário de Marketing promoveram uma manifestação em frente à sede da escola, na avenida Casanova, em Caracas.

As organizações de direitos dizem que há mais de 200 detidos

Durante a tarde, os manifestantes se concentraram na praça Altamira, no município de Chacao, na parte leste da cidade, e esperavam a chegada de mais gente. Um grupo deles caminhava pela avenida principal de Las Mercedes, no bairro do mesmo nome, e pretendia se somar àquela aglomeração. O ambiente de relativa calma era interrompido por cânticos alusivos à repressão do Governo e vaias aos cinegrafistas da Venevisión e Globovisión, as grandes vilãs desta história, que na opinião dos manifestantes “se venderam aos interesses do Governo”. No começo da noite, eles interrompiam o trânsito em parte da autoestrada Francisco Fajardo, perto do local das aglomerações. Mais tarde, foram noticiados confrontos entre manifestantes e policiais no setor de Los Ruices.

Em todos os pontos da geografia nacional há pequenas manifestações de estudantes e populares. Em Punto Fijo, no Estado Falcón, no oeste; em Puerto Ordaz, Estado Bolívar; e em Maracaibo, Estado Zulia. Estes atos desafiam a ordem dada pelo presidente Maduro. Em La Victoria, no Estado Aragua, o governante anunciou que não permitirá protestos que não estejam autorizados. “Quem sair para tentar exercer a violência sem ter permissão de se mobilizar será detido.” O prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, afirmou que essa medida na prática representa uma suspensão das garantias constitucionais.

Até o momento, além dos três mortos, o Ministério Público venezuelano confirmou que há 66 feridos e 69 presos por vandalismo, o que incluiu danos a 54 veículos. A procuradora geral Luisa Ortega Díaz prometeu em seu programa de rádio que “isto não vai ficar impune”. As organizações de direitos humanos, entretanto, afirmam que os detidos são mais de 200.

O secretário geral da OEA, José Miguel Insulza, condenou na quinta-feira a violência que sacode as ruas da Venezuela, e convocou “todos os atores a evitarem novos confrontos que possam agravar as tensões existentes, provocando mais vítimas”. A Human Rights Watch pediu que as mortes sejam investigadas de forma oportuna e imparcial, sem que esse inquérito seja usado como uma desculpa “para perseguir penalmente a opositores políticos ou limitar a liberdade de expressão”.

É difícil antecipar qual poderá ser o desenlace desta história. Em protestos anteriores, a oposição se manteve na mesma região que hoje ocupa. São setores de classe média acomodada, que, numa esmagadora maioria, rejeitam o projeto chavista. Com o decorrer dos dias, a indiferença do Governo e o desgaste dos manifestantes terminaram por dissolver o protesto. O governo por enquanto atua como aconselhou no passado o então vice-presidente e hoje jornalista José Vicente Rangel, quando em 2002 alguns militares ocuparam durante quatro meses a praça Altamira, até que, debilitados, abandonaram a posição. “Deixe-os, Hugo”, disse-lhe ao presidente Chávez. “Que se cozinhem em seu próprio molho.”

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