O SPD impõe sua agenda na Alemanha
Os social-democratas conseguem a aprovação de várias de suas propostas, sobem nas pesquisas e dominam o debate público no início da legislatura.
Fazia dois anos desde a última vez que um líder social-democrata havia superado a democrata-cristã Angela Merkel nas pesquisas de popularidade da televisão pública ARD. Apenas seis semanas depois que a União Democrata Cristã (CDU), de Merkel, apresentou a nova grande coalizão com os social-democratas do SPD, o ministro de Relações Exteriores Frank-Walter Steinmeier (SPD) volta a ser o político mais popular da Alemanha.
Seu partido conseguiu que o programa eleitoral com o que perdeu as eleições gerais de setembro determine a agenda política interna. Tanto a aprovação de um salário mínimo interprofissional a partir de 2015 quanto a reforma das pensões dominaram o debate político e os conflitos que surgiram foram resolvidos em favor do SPD. As pesquisas para as eleições europeias de maio são um termômetro da temperatura política da coalizão: os partidários de Merkel se mantêm tranquilos com os mesmos 38% de 2009, os eurocéticos da Alternativa para a Alemanha (AFD) passam do 0% para 6% e o SPD soma quase nove pontos, beirando os 30%.
O partido introduz o salário mínimo e a aposentadoria antecipada
A ambiciosa Transição Energética das centrais atômicas para as renováveis se perfila agora como o próximo empecilho para a estabilidade da coalizão. Trata-se da reforma mais ambiciosa que Alemanha fará nos próximos anos. Quem dá as cartas aqui é o presidente do SPD, Sigmar Gabriel, que também é vice-chanceler e superministro de Economia e Energia. O social-democrata se fortaleceu na liderança de seu partido antes de firmar o pacto de Governo com Merkel. Na semana passada, ele resumiu em uma entrevista a renovada autoconfiança do SPD: “Merkel não é minha chefa.”
Também o jornal bávaro Süddeutsche Zeitung se referiu na semana passada a Gabriel como “o chanceler paralelo”. O influente semanário liberal Die Zeit definiu as negociações sobre as reformas energéticas como “uma lição para Merkel”.
Depois de quatro anos de Governo com o partido liberal-democrata FDP, ao qual humilhou até esmagá-lo com seu abraço de urso político, Merkel está negociando com um SPD “que se propôs a não deixar que tirem nada, absolutamente nada, de suas mãos”.
A cúpula da CDU aprovou sábado em Erfurt o esboço de programa eleitoral para as eleições europeias de 25 de maio. A inércia do triunfo eleitoral de setembro e o indubitável poder da chefa dentro do partido não deixam muito lugar para as críticas. Ela saiu tantas vezes de situações adversas que algumas semanas de eclipse democrata-cristão não são suficientes para causar revoltas. Mas sobre Erfurt pairaram sombras como a do tesoureiro do partido Helmut Linssen, que renunciou na quinta-feira sob suspeita de ter evadido impostos com empresas fantasmas em paraísos fiscais como Bahamas e Panamá. Segundo o esboço do programa democrata-cristão em sua página 17, “quem evade impostos não rouba só do Estado, rouba do conjunto da sociedade”.
Steinmeier supera em popularidade a Merkel e o SPD ganha nove pontos
Angela Merkel falou sábado da renúncia de Linssen como “um passo necessário”. Ela conserva as rédeas da situação e mantém uma tática política de eficácia comprovada: observar o surgimento de problemas e participar dos debates como juiz, não como parte envolvida.
As eleições europeias, que coincidirão com votações municipais em grandes zonas da Alemanha, colocarão à prova essa tática. Enquanto o SPD vai demonstrando que, como sócio, é melhor adversário que os liberais, Merkel observa com o canto do olho a nova direita aglutinada na AFD.
A formação rejeitou aliar-se com outros partidos da direita populista europeia, como o holandês de Geert Wilders, mas tanto seu discurso público quanto seu programa eleitoral estão se apoiando em posições direitistas tradicionais.
Nas eleições legislativas de setembro, a AFD obteve nada menos que 4,7% dos votos com o lema “Coragem pela verdade”, transmutado agora em “Coragem pela Alemanha”. Em conformidade com o sentimento majoritário dos alemães — 40% acreditam que seu país se beneficia de estar na União Europeia, enquanto 19% consideram o contrário —, a AFD não propõe que a Alemanha deixe a UE nem o mercado comum. Mas, adormecida agora sua luta contra o euro, assume posições conservadoras tradicionalmente ocupadas pela CDU.
Enquanto o SPD recupera parte do espaço na centro-esquerda, arrebatado por Merkel no passado, os conservadores do Círculo de Berlim na CDU pediram na semana passada que o partido “não deixe espaços livres” que seus novos competidores da direita possam dominar.
O que se apresentava como uma reunião tranquila em Erfurt para tratar do programa eleitoral para as eleições europeias serviu, assim, para que a CDU enfrente as ameaças que vêm por aí este ano.
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