Dois importantes senadores dos EUA questionam a democracia da Argentina
Ao mesmo tempo em que o embaixador norte-americano em Buenos Aires país tomava posse, Bob Menéndez e Marco Rubio puseram em dúvida o futuro econômico do país
A audiência no Senado para a confirmação do futuro embaixador dos Estados Unidos na Argentina se converteu nesta quinta-feira não só em um exame de todo tipo de conhecimentos do futuro representante da Diplomacia norte-americana no país sul-americano, o empresário Noah Mamet, mas em uma exibição das preocupações que o Governo de Cristina Kirchner e a deriva econômica da nação suscitam no Congresso. Dois influentes senadores norte-americanos puseram em dúvida a qualidade da democracia desse Estado e chegaram a acusar Buenos Aires de ser mais insolente com os EUA que a Coreia do Norte. O Executivo argentino criticou as declarações dos políticos.
“Você já esteve alguma vez na Argentina?”, perguntou a Mamet o senador republicano Marco Rubio, uma das estrelas emergentes do Partido Republicano e favorito do Tea Party. O interpelado, um importante doador das duas campanhas eleitorais do presidente Barack Obama, às quais contribuiu com um milhão de dólares ao todo, reconheceu que jamais visitava o país. A resposta foi o explosivo para que, tanto Rubio, quanto o democrata Bob Menéndez, o presidente do Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara Alta, questionassem suas aptidões e sua falta de experiência para um posto tão importante em um país “com um risco iminente de sofrer uma crise econômica”.
A direção antidemocrática da Argentina me lembra mais à do Equador, Bolívia ou Venezuela do que à do México, Chile, Peru ou Colômbia. Esses sim são aliados. Acho que o Governo argentino deve mudar a atitude que tem com os EUA" Marco Rubio
Quando Mamet assinalou que considerava a Argentina “um país aliado com o qual existiam pontos de desacordo fundamentais”, ambos os senadores puseram em dúvida essa afirmação. “A partir do momento que se é um país aliado, isso é muito peculiar”, assinalou Rubio. “É um aliado que não paga as obrigações dos credores norte-americanos, que não colabora com nosso Exércitos e que se uniu com o Irã para constituir uma comissão da verdade que investiga os ataques terroristas de 1994 a um centro judeu de Buenos Aires [em referência ao atentado contra a sede da AMIA], investigação essa que o promotor argentino concluiu que era ordenada pelo Governo iraniano. Essas, em minha opinião, não são as ações que um aliado realiza”, assinalou Rubio.
O senador republicano foi bem mais além e manifestou sua preocupação com a deriva democrática da Argentina. “Na América Latina há uma tendência na qual os governos são eleitos pelo povo mas depois não governam de maneira democrática e a Argentina é um exemplo. A direção antidemocrática da Argentina me lembra mais à do Equador, Bolívia ou Venezuela que à do México, Chile, Peru ou Colômbia. Esses sim são aliados. Acho que o Governo argentino deve mudar a atitude que tem com os EUA”, assinalou Rubio. “Nem mesmo a Coreia do Norte brincou com a gente dessa maneira”, assegurou.
O Governo argentino reagiu às críticas de Rubio. O chefe de Gabinete do Governo de Kirchner, Jorge Capitanich, disse nesta sexta-feira que o senador não pode afirmar que a Argentina não é um país democrático. “Não podem ser tão prepotentes e soberbos”, afirmou.
Na mesma linha que Rubio, Menéndez questionou os ataques à liberdade de expressão e à falta de independência judicial que, ao seu ver, foram promovidos pelo Governo de Kirchner. O democrata foi muito conciso em suas perguntas a Mamet. “O que acha da posição da Argentina em relação à propriedade intelectual?”; “Por favir, poderia explicar o que vamos fazer em relação aos Kirchners e seu tratamento discriminatório para o Grupo Clarín?”, assinalou em relação à polêmica sobre a Lei de Meios aprovada pelo Executivo de Kirchner.
Menéndez e Rubio, os únicos membros do Subcomitê de Assuntos Hemisféricos, encarregado da audiência prévia para a confirmação de Mamet, que o interrogaram, foram muito claros sobre o que achavam que, para o posto de embaixador na Argentina era necessária uma pessoa com muito mais preparação e experiência da demonstrada pelo empresário eleito por Obama. Agora, cabe ao Senado votar a favor da nomeação do embaixador.
Não podem ser tão prepotentes e soberbos” Jorge Capitanich
Nos EUA é comum que os presidentes premeiem seus doadores com postos em embaixadas no exterior. No caso argentino, durante as administrações de Reagan, dos dois Bush e de Clinton, o representante de Washington sempre foi um diplomata de carreira. Obama rompeu essa tradição. A atual embaixadora, Vilma Socorro, é uma advogada de direitos civis sem experiência diplomática. Mamet, de 44 anos, é o fundador de Noah Mamet & Associates, uma consultora política baseada em Los Angeles que colaborou com o Partido Democrata em várias ocasiões.
Pese a isso, Mamet não tem uma boa reputação entre outros doadores da formação progressista que o criticaram no passado alegando que tratou de influenciar seus clientes para seu próprio benefício político. Esse receio pôde pesar na decisão de Menéndez de atrasar em quase sete meses a audiência de confirmação de Mamet, que foi designado por Obama para ocupar o cargo de embaixador no dia 30 de julho do ano passado. Desde então, outros 24 nominados para postos semelhantes foram confirmados.
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