A interrupção da obra do Canal do Panamá deixa 10.000 sob suspense
Os trabalhadores têm, a princípio, emprego garantido, mas ficam sem funções momentâneas e sem a certeza de receber, no próximo fim de semana, o pagamento quinzenal
Mais de 10.000 trabalhadores da paralisada obra de construção de novas eclusas para a ampliação do Canal do Panamá estão, agora, em estado de aflição: sem funções momentâneas, com o posto de trabalho garantido, mas sem a segurança de que, neste fim de semana, receberão o pagamento quinzenal.
O consórcio Grupo Unidos pelo Canal (GUPC), que desde 2009 constrói as novas eclusas, parou na quarta-feira as obras de expansão devido a um prolongado desacordo financeiro com a Autoridade do Canal do Panamá (ACP) e, assim, mandou os trabalhadores de volta para casa.
"Existe uma grande incerteza e vamos estar atentos", advertiu o dirigente sindical panamenho Norberto Valencia, porta-voz do Sindicato Único dos Trabalhadores de Construção e Similares (Suntracs), a central que aglutina a maioria dos trabalhadores do Canal. "O consórcio mandou todos para casa, garantiu o posto de trabalho, mesmo sem terem de desempenhar suas funções neste momento, e disse que vai pagar. Mas estamos à espera para ver se a empresa fará os pagamentos, porque ela passa por problemas", acrescentou, consultado por EL PAÍS.
O pagamento quinzenal deve ser realizado no próximo sábado. "Se não for assim, o Sindicato irá tomar uma atitude não só em relação à construtora, mas também à Autoridade", disse, ressaltando que a ACP deve ser, "no fim das contas", a responsável pelo pagamento de salários e demais benefícios aos trabalhadores.
O panamenho Jorge Quijano, administrador da ACP, informou em entrevista ao EL PAÍS que, ao suspender a ampliação, o GUPC enviou na quarta-feira os empregados a seus domicílios. O Grupo, por sua vez, advertiu em um comunicado que "reiterou a importância" de que a ACP pague 50 milhões de dólares (120 milhões de reais) "por uma fatura devida, discutida nas últimas reuniões, para permitir os pagamentos de sublocadores e dos trabalhadores, cobrindo, assim, a folha da semana. Como não houve resposta, a GUPC segue buscando uma solução abrangente".
Quijano respondeu que a Autoridade não pode pagar os 50 milhões de dólares porque a GUPC está inadimplente com a Caixa de Seguridade Social e a ACP, como agência estatal, é proibida de ceder recursos a empresas que enfrentem dívidas com a seguridade social. "O Grupo argumenta que uma conta de 50 milhões de dólares, que ela acabava de apresentar, não foi paga. O problema é que o Grupo não pagou a Caixa e precisamos que isso aconteça antes, para que nós possamos proceder com o pagamento de nossa parte", explicou.
O Grupo - integrado pela espanhola Sacyr Vallehermoso, a italiana Impregilo, a belga Jan de Nul e a espanhola Constructora Urbana - culpou a ACP por interromper as negociações, colocar em perigo a expansão e deixar "até 10.000 postos de trabalho em risco iminente".
A ACP, que desmentiu ter rompido o diálogo e acusou o Grupo de ser "inflexível", confirmou que o consórcio suspendeu os trabalhos de ampliação na quarta de manhã, já que na terça-feira à noite venceu o limite imposto pelas duas partes para solucionar a divergência financeira. O consórcio negou que os trabalhos estejam totalmente parados mas fontes da firma admitiram que o ritmo de operações sofre uma sensível diminuição.
A polêmica se agravou no último dia 1o de janeiro, quando o GUPC avisou a ACP que, se não fosse pagos 1,6 bilhão de dólares (3,8 bilhões de reais) por gastos adicionais imprevistos, a construção seria suspensa a partir do dia 20 do mesmo mês. A Autoridade rechaçou a reivindicação e a ameaça e lembrou o contrato bilateral assinado em 2009. As duas partes avaliaram vários planos financeiros e, ao chegar o dia 20 de janeiro, marcaram para o dia 31 e, depois, 4 de fevereiro o prazo para um acerto. Mas o diálogo acabou não rendendo frutos.
O Grupo ganhou em 2009 a licitação para construir as eclusas, nos litorais Pacífico e Atlântico, com uma oferta de 3,118 bilhões de dólares (7,5 bilhões de reais) e a meta de concluir as obras em 2014, mas atrasos já levaram a 2015 a data final. As eclusas são a parte mais importante da ampliação, que começou em 2007 com um orçamento total de 5,25 bilhões de dólares (12,6 bilhões de reais) e permitirá a passagem de embarcações maiores do que as que podem transitar atualmente pelo Canal, inaugurado em 1914.
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