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Peña Nieto anuncia um resgate de 8,2 bilhões de reais para Michoacán

O presidente do México detalha um aporte bilionário, o maior já destinado pelo Governo a uma só região mexicana, para investimentos em educação e infraestrutura na zona de conflito Civis armados e narcotraficantes disputam o controle dos municípios de Terra Caliente. O Governo mobilizou 10.000 policiais e militares na área

Juan Diego Quesada
Autodefesas em Michoacán.
Autodefesas em Michoacán.Eduardo Verdugo (AP)

O presidente do México – acompanhado do primeiro escalão do seu Governo – anunciou nesta terça-feira um investimento de 45,5 bilhões de pesos (8,2 bilhões de reais) em Michoacán, Estado que no começo deste ano precisou sofrer uma intervenção da Polícia Federal e do Exército por causa dos confrontos entre narcotraficantes e as chamadas autodefesas, civis que se armam com a intenção de se protegerem dos criminosos. Enrique Peña Nieto detalhou que essa verba, equivalente a quase o dobro do orçamento anual local, será destinada à construção de estradas, hospitais e escolas e à oferta de créditos e bolsas a agricultores, pecuaristas e estudantes. Trata-se do aporte de maior envergadura já destinado a uma região mexicana na história.

Em um ato celebrado em Morelia, a capital de Michoacán, o presidente disse que o aparato governamental permanecerá na zona indefinidamente (“O tempo que for necessário”), pelo menos até que as autoridades locais se fortaleçam e possam controlar a situação. Em meados de janeiro, foi anunciada a mobilização de 10.000 policiais e militares na região conhecida como Terra Caliente, foco da crise de segurança. Os efetivos governamentais assumiram o controle de uma dúzia de municípios que até então estavam nas mãos do crime organizado ou de moradores e agricultores armados. Uma vez passada essa primeira fase, Peña Nieto considera que é o momento de passar a uma segunda etapa, com ênfase em investimentos que possam recuperar o tecido social e o desenvolvimento econômico do Estado. O plano integral contempla 250 ações.

Com o orçamento anunciado, o Governo concederá 350.000 bolsas estudantis, investirá na modernização dos canais de irrigação agrícola, impulsionará a melhoria do porto de Lázaro Cárdenas e fará reparos em rodovias e estradas vicinais. O presidente também pediu ao Banco de Desenvolvimento do México que conceda créditos aos empresários michoacanos no valor de 12 bilhões de pesos (2,16 bilhões de reais). “A obra pública é necessária para o desenvolvimento e a prosperidade do Estado”, acrescentou.

Esta é a segunda vez que o presidente visita Michoacán desde sua posse, em 1º. de dezembro de 2012, mas foi a primeira ocasião em que se referiu especificamente à crise de segurança que a região enfrenta. Peña Nieto, hoje, envolveu-se completamente no assunto. O fato de se deslocar até a região em conflito – um gesto pouco comum entre os presidentes mexicanos – representa toda uma declaração de intenções. Seu antecessor no cargo, Felipe Calderón, havia elaborado um plano de características similares para Ciudad Juárez, um território em disputa pelos cartéis da droga e onde a criminalidade disparou, mas o montante destinado ao seu resgate era bastante menor.

A mensagem do Governo acerca de Michoacán cabia até agora ao secretário de Governo (cargo equivalente ao de ministro do Interior), Miguel Angel Osorio Chong, que foi o encarregado de apresentar, no último 13 de janeiro, a nova estratégia de segurança do Executivo em Terra Caliente. Seria “uma estratégia ampla e integral”, disse ele, na qual as autodefesas seriam intimadas a entregarem suas armas e a cederem o controle da segurança às forças do Estado. A operação se prolongou devido à negativa dos grupos de civis armados, que prometem não abandonar as armas enquanto o Exército ou a polícia não detiverem os líderes do cartel dos Cavaleiros Templários.

Para sufocar essa crise, Peña Nieto nomeou um homem da sua absoluta confiança, Alfredo Castillo, como comissário especial para Michoacán. Após 19 dias no cargo, Castillo afirmou que houve importantes avanços em matéria de segurança. Disse que 523 membros das autodefesas já iniciaram os trâmites para ingressarem nos corpos de polícia rural, uma saída que o Governo estava dando aos moradores que se ocupam de sua própria segurança face à debilidade das instituições. Foram confiscadas mais de 800 armas das milícias.

Os empresários michoacanos têm estado sistematicamente submetidos à pressão e à extorsão do crime organizado. Javier Chávez, representante da entidade Producto Mango, que reúne agropecuaristas, interveio no ato do presidente para lhe pedir que dê um passo a mais e invista na modernização de Michoacán, o maior produtor nacional de abacate, limão e morango. Chávez solicitou também que o Governo considere descentralizar alguns órgãos federais – um tema muito debatido no México –, e que as instituições se localizem em outras cidades que não a capital.

O plano (“Juntos Conseguiremos”) contempla também a inclusão de 30 municípios michoacanos na cruzada nacional contra a fome, um dos primeiros programas sociais impulsionados por Peña Nieto após sua posse. Sua intenção é acabar com a desnutrição de sete milhões de mexicanos, os mais pobres entre os mais pobres. Os maiores de 65 anos sem direito a pensão – dos quais há 115.000 em todo Michoacán – receberão uma renda mensal.

Os cidadãos pegaram as armas em fevereiro de 2013 com a intenção de expulsar os criminosos, e desde então foram avançando até controlar uma quinta parte do território michoacano. O Governo pretende retomar o controle da segurança através da polícia e do Exército e, com esse investimento, trazer à tona novamente a vida socioeconômica de Michoacán.

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