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Cristina Kirchner volta à cena pública depois de mais de um mês de silêncio

A presidenta da Argentina anunciou um plano de ajuda econômica para jovens estudantes

Francisco Peregil

Depois de 34 dias de ausência pública, a presidenta da Argentina voltou na quarta-feira a pronunciar um discurso à maneira antiga. Isto é, anunciou um plano social –neste caso, um plano de ajuda econômica destinado a estudantes entre 18 e 24 anos-; o anúncio foi feito em rede nacional, ou seja, mediante a conexão obrigatória de todos os canais de rádio e televisão, públicos e privados; aproveitou a oportunidade para atacar a seus críticos – que a criticariam por usar a rede nacional-; ela se deixou embalar pelos cânticos de seus jovens seguidores da organização La Campora - “Che gorila, che gorila, não te dizemos mais; se mexem com a Cristina , que bagunça vai armar”; compareceu rodeada dos membros mais destacados de seu Gabinete, que se limitaram a aplaudir. E como é de costume, não mencionou nenhum dos temas que vinha marcando a agenda da imprensa mais crítica: nem a inflação, nem a desvalorização do peso em relação ao dólar –que nessa mesma quarta-feira experimentou a maior depreciação em 12 anos, enquanto o dólar do mercado paralelo cruzava pela primeira vez a barreira dos 12 pesos-. Após o discurso de meia hora, percorreu dois pátios da Casa Rosada para saudar os seguidores mais jovens e os incentivou a que militar de forma organizada e disse para eles não perderem a alegria.

A presidenta reapareceu após a oposição criticar o vácuo de poder que supostamente está sofrendo Argentina depois que Cristina Kirchner se afastou por motivos de saúde. “Amanhã espero que ninguém critique a rede nacional, porque após tanta demanda de presença –assinalou interrompida pelos aplausos-, acho que…-mais aplausos- tanta demanda…! Eu lembro quando publicavam pesquisas que as pessoas mudavam de canal quando eu aparecia, ou mentiam antes, ou mentem agora, ou mentem sempre”.

De novo voltaram os cânticos: - “Che gorila, che gorila, não te dizemos mais; se mexem com a Cristina , que bagunça vai armar”. A presidenta fez uma das análises de imprensa mais singulares realizado por um chefe de Estado: “Eu lia… -foi interrompida de novo pelos cânticos, “che gorila”…- “lia esta manhã os diários. Diziam ‘reaparece Cristina’. Reaparece. Em vários lados li: reaparece. E eu disse: Que é o contrário de reaparece, Hebe, Estela?: Desaparece”. A presidenta interpelou a Hebe de Bonafini e Estela de Carlotto, respectivamente presidentas das associações das mães e avós dos desaparecidos pela ditadura. “Acho que há no fundo… Como o chamam os psiquiatras e os psicólogos? Subliminar? Um ato frustrado? Acho que no fundo alguns, não todos, estão muito vinculados com isto dos desaparecimentos”.

Minutos depois, quando falava aos jovens concentrados em outro pátio da Casa Rosada, Kirchner confirmou que irá no próximo fim de semana à cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribeños (Celac). E se referiu, sem nomear ninguém, a quem especula sobre a possibilidade de que não fosse por motivos de saúde. "Falam de minha saúde. Acontece que querem nos confundir. Queriam criar a sensação de que eu não podia mais".

Quanto ao plano em si, anunciado por ela, prevê uma ajuda de 600 pesos (205 reais) ao mês para 1,5 milhão de jovens entre 18 e 24 anos, que deverão continuar estudando. Quanto ao valor dos 600 pesos, na quarta-feira equivaliam a 86 dólares no mercado oficial e 50 no paralelo. Mas tanto o valor oficial como o paralelo pode ser visto reduzido em matéria de semanas por causa da inflação e da desvalorização progressiva que o Governo vem fazendo há meses.

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