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Kerry afirma que um Governo sírio de transição sairá da conferência de Genebra

Em uma mudança de postura, o secretário de Estado afirma que nem Assad e nem os líderes da oposição devem dirigir a transição para a democracia

Eva Saiz
O secretário de Estado, John Kerry, durante a coletiva de imprensa.
O secretário de Estado, John Kerry, durante a coletiva de imprensa.ALEX WONG (AFP)

A menos de uma semana da conferência intitulada Genebra-2, que busca pôr fim à guerra civil na Síria, o secretário norte-americano de Estado, John Kerry, quis deixar claro nesta quinta-feira que o objetivo principal do encontro é formar um Governo que comande a transição para a democracia no país árabe. Em um breve comparecimento perante imprensa no Departamento de Estado, Kerry especificou que nem o atual presidente sírio, Bashar al Assad, nem os líderes da oposição poderão participar desse esforço. Isso significa uma mudança na posição dos EUA em relação ao conflito, já que até agora Washington se opunha apenas à presença de Assad no futuro político da Síria.

“Desafiaria a lógica que aqueles que contribuíram para criar a situação vivida agora na Síria possam dirigir o seu futuro”, afirmou Kerry. O secretário de Estado chamou a atenção sobre a importância de que os participantes do encontro do próximo dia 22, na cidade suíça de Montreux, aceitem que a negociação versará exclusivamente sobre o que ficou decidido na primeira conferência de Genebra, em junho de 2012, em uma clara mensagem ao Irã para que aceite essas condições se quiser participar do encontro. “É importante que ninguém encare isso levianamente e faça jogos a respeito desse processo”, advertiu Kerry.

Há um ano e meio, ficou acertado na cidade suíça o objetivo de formar um Governo provisório para guiar a transição da Síria rumo à democracia. “Genebra-2 pressupõe o lançamento de um processo para chegar à solução final desse conflito”, afirmou o secretário de Estado a respeito de uma guerra civil que já deixou mais de 100.000 mortos e 3 milhões de refugiados.

A base do acordo alcançado na primeira conferência de Genebra implica inevitavelmente o abandono voluntário do poder por parte de Assad, uma perspectiva que os EUA sempre consideraram uma condição inegociável. Em seu comparecimento desta quinta-feira, no entanto, Kerry introduziu uma novidade no discurso norte-americano, ao exigir a exclusão dos líderes rebeldes. O chefe da diplomacia americana, recém-chegado da conferência de doadores para Síria que aconteceu na quarta-feira no Kuwait, chamou a atenção sobre o aumento do extremismo no país árabe, alimentado pelo caos decorrente do conflito.

Com a ausência quase segura do Irã – o que a Rússia está tentando evitar –, resta saber se a fragmentada oposição ao regime sírio comparecerá à reunião, receosa que está de se reunir com os representantes do regime de Assad. Nesta quinta-feira, o secretário de Estado insistiu para que os líderes da Coalizão Nacional Síria, que se reúnem no sábado para decidir sobre sua participação, aceitem comparecer à conferência. “Os EUA insistem à assembleia para que adote um voto positivo”, declarou Kerry.

O secretário de Estado recordou que, além da conferência, a comunidade internacional está trabalhando para alcançar novas tréguas no país e a libertação de jornalistas e agentes humanitários, o que permitiria melhorar o clima das negociações.

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