Air Europa suspende a venda de bilhetes aéreos na Venezuela
Tudo indica que a medida é a resposta às restrições que impõe o Governo de Caracas às linhas aéreas para repatriar o dinheiro a suas casas matrizes
Até a última quarta-feira era muito difícil viajar de avião desde a Venezuela por causa do alto custo das passagens e a falta de lugares nos aviões. Nesta quinta-feira foi acrescentado um outro contratempo ao virtual bloqueio aéreo sofrido pelos venezuelanos porque a Air Europa suspendeu até novo aviso a venda de bilhetes com origem na Venezuela. “Não é uma decisão definitiva”, explicou uma porta-voz da Globalia, a matriz da companhia aérea em Madri.
A empresa, que mantém um voo entre Caracas e a capital da Espanha seis vezes por semana, não informou o que a motivou, mas tudo indica que seja uma resposta às restrições impostas pelo governo da Venezuela a essas empresas para repatriar dinheiro a suas sedes. De acordo com os cálculos de Humberto Figuera, presidente da Associação Venezuelana de Companhias Aéreas, a estatal Comissão de Administração de Divisas (Cadivi) deve até o momento às empresas do setor 3,25 bilhões de dólares, que propôs pagar de diferentes maneiras, entre as quais a entrega de combustível para aviões e títulos da dívida.
O atraso provocou em dezembro a ida de um alto diretor da companhia espanhola a Caracas para acelerar o pagamento da dívida, de acordo com uma fonte do setor consultada por este diário. O representante não aceitou a proposta. Outra fonte, do diário El Nacional, de Caracas, indicou em dezembro que o oferecimento era ridículo. Abastecer de combustível um avião 767 de 185 assentos não vale duas passagens de primeira classe. “O governo deveria ser mais diligente. Trata-se da conectividade da Venezuela com o restante do mundo”, afirmou Figuera.
Segundo Figuera, a Cadivi não faz pagamentos às companhias aéreas há cinco meses. O dinheiro obtido por essas empresas e quantificado na divisa local, o bolívar, poderia sofrer uma drástica perda de valor se o governo decidir desvalorizar a moeda, uma decisão que parece iminente, de acordo com estimativas dos economistas.
A Air Europa é a primeira companhia de bandeira estrangeira em operação na Venezuela que não parece disposta a perder o valor do acumulado e que adota essa drástica decisão. A primeira medida tinha sido a restrição na venda de bilhetes da classe econômica. Por causa do tentador preço em bolívares, sobrevalorizados em razão do controle do câmbio, vigente desde 2003, era muito tentador para qualquer turista fazer uma escala em Caracas e comprar uma passagem até seu destino final trocando seus dólares pela cotação do mercado negro. A única alternativa que agora os venezuelanos têm para viajar é pagar um bilhete em dólares ou caçar as ofertas de uma agência de viagens de confiança.
Tony Tyler, diretor executivo da Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata), havia alertado em novembro que o setor aeronáutico enfrentava “um desafio na Venezuela, onde 2,6 bilhões de dólares em recursos pertencentes às companhias aéreas estavam bloqueados pelo governo e sujeitos à ameaça de uma drástica desvalorização”, segundo uma notícia da AFP. “Espero que o governo reconheça o papel vital que a aviação desempenha na economia do país e que se encontre uma solução para esta situação inaceitável e francamente injusta, antes de que a conexão do país (por transporte aéreo) se veja afetada”, disse na época.
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