Confrontos no Egito deixam 3 mortos e quase 300 presos
Pessoas detidas nas últimas horas serão as primeiras às quais será aplicada a legislação antiterrorista
A qualificação da Irmandade Muçulmana como um “grupo terrorista” por parte do Governo egípcio, na quarta-feira, não intimidou os seguidores do histórico movimento islâmico, que sofre uma intensa campanha de repressão desde que um de seus líderes, Mohamed Morsi, foi desalojado da presidência em um golpe de Estado. Uma nova onda de distúrbios nas ruas contrapôs simpatizantes do grupo islâmico a forças de segurança em várias partes do país árabe, deixando um saldo de três mortos e quase 300 presos. Os confrontos se iniciaram depois da tradicional oração das sextas-feiras, quando milhares de partidários de Morsi organizaram manifestações de protesto contra um Governo que consideram ilegítimo e para convocar um boicote ao referendo constitucional de meados de janeiro. As forças de segurança usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os manifestantes, que responderam atirando pedras e coquetéis molotov. Os incidentes mais violentos tiveram lugar nas províncias da Damietta e Minia e nos arredores da Universidade de Al Azhar, no Cairo, onde no dia anterior um estudante ligado à Irmandade morreu durante confronto com partidários do Exército.
As pessoas presas nas últimas horas serão as primeiras às quais as autoridades aplicarão a nova legislação antiterrorista que prevê penas de até cinco anos de prisão para qualquer um que participar de manifestações da Irmandade, segundo o ministério do Interior. Desde o golpe de 3 de julho, calcula-se que quase 1.200 simpatizantes da organização islâmica tenham sido mortos e que mais de 3.000 estejam presos, incluindo toda a cúpula do grupo.
“A designação da Irmandade como grupo terrorista não tem nenhum valor, já que provém de um Governo ilegítimo, que chegou ao poder através de um golpe”, disse ao El País um porta-voz do Partido da Liberdade e da Justiça, o braço político da Irmandade. “Não vai mudar nada na prática. Vamos continuar com as nossas manifestações e protestos como fazemos desde julho”, acrescentou.
O ministro da Defesa, Abdel Fattah al Sissi, considerado o verdadeiro homem forte do Governo, lançou uma mensagem à sociedade egípcia durante uma cerimônia militar. “Se quiserem liberdade e estabilidade, o que não se consegue facilmente, precisam confiar em Deus, no seu Exército e na sua polícia”, afirmou o general, que insistiu à população para não temer, pois as Forças Armadas “eliminarão os terroristas”.
Segundo relato de fontes governamentais à imprensa local, o gabinete insistirá com outros países para que cooperem na luta contra organizações “terroristas”, como a Irmandade. Entretanto, é pouco provável que o Egito receba a ajuda de países ocidentais. Jen Psaki, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, afirmou que as novas medidas contra a Irmandade geraram “preocupação”. “É necessário um processo político inclusivo, que abranja todo o espectro político e respeite os direitos humanos de todos os egípcios para conseguir a estabilidade política e a mudança democrática”, acrescentou Psaki.
Quase três anos depois da queda do ditador Hosni Mubarak, o Egito é um país profundamente polarizado e imerso em uma crise política sem solução à vista. A campanha de repressão das autoridades e os atentados terroristas, como que causou na terça-feira a morte a 16 pessoas na cidade da Mansura, aumentaram a tensão durante os últimos dias. Embora a organização jihadista Ansar Bayt o-Maqdis tenha reivindicado a autoria do brutal atentado, o gabinete e a imprensa preferiram atribuir sua autoria à Irmandade Muçulmana.
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