_
_
_
_

A abstenção, principal rival das candidatas a presidir o Chile

A provável vitória de Michelle Bachelet sobre Evelyn Matthei e o fato de o voto não ser obrigatório desmobiliza os chilenos no segundo turno das eleições presidenciais.

Michelle Bachelet é a grande favorita.
Michelle Bachelet é a grande favorita.F. TRUEBA (EFE)

Faz tempo bom na maior parte do Chile. Bom demais para o gosto dos políticos chilenos que aprovaram por unanimidade há dois anos a reforma que tornou o voto voluntário. Agora muita gente pode ficar tentada a passar o dia na praia, num parque ou em qualquer lugar que não seja um colégio eleitoral. Essas serão as primeiras eleições presidenciais celebradas em segundo turno, onde a inscrição é automática -- ninguém teve que ir a lugar nenhum para se registrar -- e onde a lei não obriga ninguém a votar. O resultado da experiência foi regular no primeiro turno, que se realizou no dia 17 de novembro, quando quase metade dos eleitores permaneceu em casa. E agora, o temor a uma abstenção em massa é tão grande que já há vozes dentro da esquerda que levantam a possibilidade de voltar atrás, ao voto obrigatório.

De acordo com a imprensa chilena, a abstenção nas eleições foi de mais de 50%. Do total de 13,5 milhões de eleitores, só 6,6 milhões compareceram às urnas para eleger o próximo presidente do país.

A apatia do eleitorado se refletiu no interesse pelos debates televisivos. Na campanha de 1999, quando o ex-presidente Ricardo Lagos ganhou do direitista Joaquín Lavín, a audiência média foi de 49,1. Nesta campanha, chegou a apenas 30.

A ex-presidente Michelle Bachelet, candidata da coalizão de centro-esquerda Nova Maioria, obteve 47% dos votos, muito acima dos 25% que colheu a conservadora Evelyn Matthei, representante da Aliança pelo Chile. Agora se dá por certo que Bachelet ganhará. Mas ela busca a legitimidade dos grandes números para empreender as grandes reformas tributárias, em educação, além da reforma da Constituição, que prometeu. Evelyn Matthei, entretanto, acalenta a possibilidade do milagre, o "Sim, é possível". E, para isso, ambas precisam lutar contra os elementos, contra essas manhãs de verão e tardes de 30 graus em Santiago de Chile. Contra os parques cheios de gente humilde e de classe média deitada ao sol. Por isso Matthei promoveu uma campanha para que cada um de seus eleitores se proponha a levar uma outra pessoa às urnas. E por isso Bachelet reitera nas suas mensagens que ninguém deve ficar em casa.

Nas ruas não se sente muito ambiente eleitoral e as pessoas parecem mais concentradas nas suas compras natalinas nos centros comerciais. A decepção que sofreu a equipe de Bachelet ao não conseguir a metade mais um dos votos que lhe teria garantido a presidência sem recorrer a um segundo turno serviu de lição. Agora se mostram muito cautelosos e asseguram que esperam vencer com uma margem de entre 56% e 60% dos votos. A vitória se dá por certa, mas a equipe de Bachelet está preocupada com a possibilidade de que Evelyn Matthei se aproxime muito de uns 40%. Esse seria um mau resultado para a centro-esquerda porque, de alguma forma, manteria a correlação de forças que historicamente tiveram os dois principais conglomerados desse país desde 1990.

Os analistas e especialistas eleitorais, entretanto, quase não se animam a fazer prognósticos públicos: o novo comportamento eleitoral da sociedade chilena é uma incógnita para todos -- e deverá ser objeto de estudo no futuro. Mas tudo indica que a população não está mais mobilizada depois dos protestos sociais de 2011, ao contrário.

Durante esses escassos 30 dias transcorridos desde o primeiro turno, Bachelet conseguiu importantes alianças: com a Central Unitária de Trabalhadores; com candidatos do primeiro turno, como o ecologista Alfredo Sfeir; com o movimento Revolução Democrática, do ex-líder estudantil e atual deputado eleito Giorgio Jackson; e inclusive com alguns políticos de centro-direita, como o senador Antonio Horvath, cujo apoio será chave para levar adiante algumas iniciativas no Parlamento.

A equipe de Bachelet explica que no segundo turno ganha quem é capaz de somar mais forças ao seu redor e que a candidata socialista se dedicou a isso, o que deveria pesar a seu favor no domingo. Terá maioria em ambas as câmaras, mas a força parlamentar tornará complexa a reforma da Constituição, um dos eixos de seu programa. O deputado eleito da Esquerda Autônoma e ex-dirigente do movimento estudantil, Gabriel Boric, explicou há alguns dias pelo Twitter: "No novo Congresso, Bachelet terá uma maioria matemática, mas não política. As contradições internas são demasiado profundas, disse sobre a coalizão que engloba desde a Democracia Cristã até o Partido Comunista."

No último debate televisionado de quarta-feira, Matthei foi a clara vencedora ante uma Bachelet que insistiu em sua estratégia de responder de forma vaga às perguntas sobre seu programa de Governo para evitar o confronto. A direita mudou sua estratégia nessa segunda etapa, com a incorporação de figuras novas e mais jovens e espera que essa injeção de ânimo sirva para mobilizar seu eleitorado nessa fase final. A equipe de Bachelet resistiu ao golpe de quarta-feira, mas a candidata parece convencida de que sua tática foi a correta. "Nessa campanha decidimos jogar limpo. Não crescer à custa da desqualificação. E fizemos isso sabendo que essa forma de fazer política parece chata para muitos", disse a médica socialista na noite de quinta-feira, quando encerrou sua campanha com uma festa no Estádio Nacional.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_