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Ricardo Trade | Diretor do Comitê Local Organizador da Copa do Mundo

“O Brasil vai dar show dentro e fora dos estádios na Copa”

Em entrevista ao EL PAÍS, o diretor-executivo do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de futebol de 2014, Ricardo Trade, reconhece problemas enfrentados na Copa das Confederações, esbanja confiança e destaca arenas e serviços como legados do Mundial

Diretor-executivo do COL da Copa do Mundo, Ricardo Trade. / Divulgação COL
Diretor-executivo do COL da Copa do Mundo, Ricardo Trade. / Divulgação COL

Com um orçamento de 892 milhões de reais (383 milhões de dólares) da Fifa, Ricardo Trade, de 55 anos, tem a responsabilidade de organizar o maior evento esportivo já realizado no Brasil. Diretor-executivo do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014, órgão privado com cerca de 250 funcionários, o mineiro formado em administração de empresas e educação física afirma ter enfrentado desafios já esperados durante a Copa das Confederações em junho, mas esbanja confiança ao garantir que o país “vai dar show dentro e fora das arenas” durante o Mundial.

Em entrevista por e-mail ao EL PAÍS, Trade diz também apostar no planejamento apresentado pelas autoridades de segurança pública brasileiras em relação às manifestações que começaram em junho e que levaram a confrontos nas proximidades dos estádios na Copa das Confederações. E declara que o grande legado do torneio para a população já são as modernas arenas e o novo padrão de serviços ao espectador.

“É imprescindível frisar, também, a importância de ter os estádios entregues em 31 de dezembro. Assim, teremos tempo para realizar eventos-teste para que a operação durante a Copa do Mundo seja como os torcedores, as delegações e a imprensa merecem”, avalia. “As obras de infraestrutura não são necessárias para a realização da competição. Elas são importantes para o povo brasileiro”, acrescenta.

Confira a seguir trechos da entrevista, realizada em meados de novembro, antes do acidente na Arena Corinthians, que matou dois trabalhadores e adiou o término das obras no estádio em São Paulo.

Pergunta – Problemas quanto a acabamentos de estádios, retiradas de ingressos, segurança pública, velocidade de internet, longas filas em lanchonetes e no deslocamento de seleções foram registrados durante a Copa das Confederações. Quais as lições que o Brasil tira do torneio e como o país se prepara para melhorar seu desempenho na Copa?

Resposta – A Copa das Confederações em junho deste ano foi um evento espetacular. Assim como em qualquer grande evento, enfrentamos desafios. E sabíamos que eles aconteceriam, principalmente por se tratar de um evento-teste. De uma maneira geral, a entrada e saída dos torcedores ocorreram de maneira tranquila. Em Recife, tivemos problemas no primeiro jogo, que foram solucionados nas partidas seguintes. As reuniões diárias que fazíamos com membros do COL, da FIFA, do Governo Federal e das seis sedes foram cruciais para que identificássemos pontos de atenção em tempo quase real. É importante salientar o sucesso do nosso Programa de Voluntários. Também gostaria de lembrar o êxito da atuação dos agentes de segurança privada, do transporte das delegações e da qualidade dos Campos Oficiais de Treinamento, que também são de responsabilidade do COL. Apesar de não ser uma atribuição do COL, sabemos que a retirada de ingressos causou transtornos a alguns torcedores e, por isso, a FIFA está tomando uma série de medidas para a Copa do Mundo. É imprescindível frisar, também, a importância de ter os estádios entregues em 31 de dezembro. Assim, teremos tempo para realizar eventos-teste para que a operação durante a Copa do Mundo seja como os torcedores, as delegações e a imprensa merecem.

P – Qual o legado que o Mundial deixará para a população? Atrasos em obras de infraestrutura (aeroportos, portos, hotéis e mobilidade urbana) preocupam?

R – Acredito que o grande legado da Copa do Mundo que já está acontecendo no Brasil são as modernas arenas e o novo padrão de serviços ao espectador, como o dos agentes de segurança privada. A polícia só é acionada quando necessário. O futebol transformou-se em um espetáculo de entretenimento, as famílias e crianças estão mais seguras e voltaram aos estádios. A Copa está funcionando como um grande catalisador de investimentos em aeroportos, telecomunicações, mobilidade urbana, rede hoteleira e capacitação de profissionais. Acreditamos que a maioria das obras ficará pronta, mas se ficarem logo depois da Copa, não vemos problema, pois é possível suprir as demandas do evento com uma operação bem planejada. As obras de infraestruturas não são necessárias para a realização da competição, elas são importantes para o povo brasileiro.

P – Em relação aos estádios, os prazos de entrega das obras e de inauguração estão mantidos? Quais serão os próximos passos?

R – A partir do que dizem a nossa equipe de engenheiros e arquitetos e as autoridades locais, temos confiança de que todos os estádios serão entregues até 31 de dezembro. Assim, teremos tempo para fazer uma primeira inauguração entre janeiro e fevereiro. Os campeonatos regionais acontecerão nas arenas e, em meados de abril, devemos começar a realizar em parceria com as sedes eventos-teste para a Copa do Mundo.

P – A onda de manifestações iniciada em junho – e que teve confrontos registrados nas imediações dos estádios da Copa das Confederações – preocupa a organização da Copa?

R – Estamos confiantes no planejamento de segurança apresentado pelas autoridades de segurança pública brasileiras e satisfeitos pelo comprometimento que existe entre todos os envolvidos, incluindo as 12 sedes e o governo federal. Estamos certos de que quando o evento for entregue os brasileiros irão celebrar o fato de serem reconhecidos não apenas por jogar um futebol admirado mundialmente, mas também por organizar bem um megaevento como a Copa do Mundo.

P – De que forma o Comitê Organizador da Copa e a Fifa veem as ações do Ministério Público contra estruturas temporárias e serviços de telecomunicações pagos com dinheiro público?

R – A FIFA e o Comitê Organizador Local (COL) não foram notificados sobre as ações mencionadas. No entanto, as responsabilidades relativas às estruturas complementares constam nos contratos assinados com os responsáveis pelos estádios da Copa do Mundo em 2007, bem como nos seus aditivos, assinados em 2009. A FIFA e o COL são responsáveis pela montagem das áreas de hospitalidade, de exposição comercial, de concessões de alimentação e de produtos oficiais, bem como pela decoração e sinalização do evento, além da rede de tráfego de dados e soluções de impressão específicas dos eventos. Outros espaços e adaptações são de responsabilidade dos proprietários dos estádios. Ao assinarem os contratos e assumirem tais responsabilidades, estamos certos de que as sedes o fizeram pensando não apenas no legado material que ficará após o evento, mas também e especialmente no legado de imagem e na projeção internacional ao receber um evento com audiência de TV de até metade da população mundial e que recebe turistas de todas as partes do mundo – áreas cujo sucesso depende fundamentalmente das instalações complementares.

P – Qual será o diferencial do Brasil na realização do evento, após as edições na Alemanha e na África do Sul? O torcedor pode esperar uma Copa memorável dentro e fora dos estádios?

R – Existe uma vontade enorme do “país do futebol” de receber bem e fazer bonito na organização, o trabalho está sendo realizado por todas as partes. Vai ser uma Copa do Mundo muito especial, vamos dar show dentro e fora das arenas.

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