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De Kennedy a Obama, dois símbolos de suas gerações

O presidente carrega com honra a tocha entregue pela família Kennedy. Os dois estão marcados por uma situação similar na história

Antonio Caño
A família de Obama e os Clinton diante do túmulo de John F. Kennedy.
A família de Obama e os Clinton diante do túmulo de John F. Kennedy.MANDEL NGAN (AFP)

Um dos melhores momentos da inesquecível campanha eleitoral de 2008 ocorreu no dia 28 de janeiro na American University, na periferia de Washington, quando o desaparecido senador Edward Kennedy, rodeado dos mais distintos membros da família, entre eles Caroline Kennedy, a filha de John F. Kennedy, entregou a tocha do presidente assassinado a um jovem afro-americano a quem a história abria nesse momento as portas. “É a hora de uma nova geração, é a hora de Barack Obama”, disse quem então era o último depositário de uma riquíssima herança.

Obama chegava à política norte-americana para estender a lenda nascida faz 50 anos em Dallas. Suas comparações com Kennedy, antes e após essa cerimônia na American University, foram constantes. É trabalho dos historiadores avaliar a obra de cada um, uma vez que conclua a do atual presidente, e decidir quais são suas semelhanças e qual teve maior impacto. O que hoje pode ser dito é que, em um ofício e em um país no qual o valor dos símbolos excede com frequência o dos fatos, o presidente Kennedy e o presidente Obama, como símbolos que marcam a renovação de uma nação, compartilharão um local estelar na memória dos Estados Unidos.

É impossível saber se o peso dessa responsabilidade histórica estava na mente de Obama nesta quarta-feira quando se inclinou ante a tumba do presidente no cemitério de Arlington. Mas não há dúvida de que a sombra de Kennedy, que ajudou a levar Obama até a Casa Branca, foi depois um fantasma que julga implacável na sua luta dolorosa com a dura realidade. Ainda mais hoje, quando Obama sofre o castigo da impopularidade.

A grandeza de Kennedy –será discutível seu gerenciamento, mas não sua dimensão histórica- diminuiu já a muitos de seus sucessores, começando pelo mais imediato, Lyndon Johnson, a quem lhe custou décadas que seu país lhe reconheça ainda que parcialmente sua enorme contribuição à justiça social e à igualdade de oportunidades, e terminando pelo último democrata antes de Obama, Bill Clinton, igualmente, em seu dia, um jovem que se prestou à comparação com Kennedy para herdar simpatias e definir sua missão. Clinton esteve com Obama em Arlington.

Ambos são, provavelmente, o mais kennediano que produziu este país no último meio século. Mas, enquanto a semelhança de Clinton é algo artificial, forçado, claramente exigido pelo guia da política e das eleições, no caso de Obama a comparação está justificada pelo papel transformador de suas respectivas presidências: Kennedy como o homem mais jovem e o primeiro católico em assumir o cargo, Obama, como o primeiro negro.

Suas diferentes raízes não impediram que ambos se tenham convertido em símbolos do glamour e de interesse público. Na época de Kennedy o glamour era definido pela revista Life. Agora, quem faz isso são as redes sociais. Mas ambos despertaram a atenção dos seus compatriotas e dos cidadãos de todo mundo pela espontaneidade de seu comportamento, o calor de seu sorriso e a naturalidade de sua vida familiar.

No Governo, Kennedy e Obama tiveram que lidar, obviamente, com problemas muito diferentes. Kennedy chegou ao poder em um momento em que a ideologia e os princípios significavam muito, e tratou de atuar conforme a sua fé na liberdade e na igualdade de direitos. Obama assumiu a presidência em pleno apogeu de um mundo pós-ideológico no qual também caíram preconceitos e muros que antes dividiam a Humanidade. No entanto, em alguns momentos decisivos de suas presidências, os dois apostaram em soluções prudentes e pragmáticas que quiçá definam seus mandatos: Kennedy na crise dos mísseis, Obama no conflito com Irã.

A história é caprichosa e previsível ao mesmo tempo. A filha de Kennedy, Caroline, é hoje a embaixadora de Obama no Japão, em cujos mares combateu seu pai durante a Segunda Guerra Mundial. Quem sabe se dentro de três anos não estará de novo na American University para passar outra vez a tocha à primeira mulher presidenta de EUA. Quem sabe até onde se estenderá a imortalidade de Jack.

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