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Fechamento da Al Jazeera está entre exigências para suspensão de bloqueio ao Catar

Prazo para atender lista, que inclui afastamento do Irã, é de 10 dias; Doha vê ataque a sua soberania

Homem em frente ao hangar da Qatar Airways, em Riad (Arábia Saudita).
Homem em frente ao hangar da Qatar Airways, em Riad (Arábia Saudita).FAYEZ NURELDINE (AFP)

O Kuwait entregou ao Catar uma lista de exigências dos quatro países árabes que cortaram relações diplomáticas com este país e tentam isolá-lo econômica e politicamente, informou a emissora catariana Al Jazeera nesta sexta-feira. Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU), Bahrein e Egito deram 10 dias a Doha (capital do Catar), para que se submeta às exigências, que incluem o fechamento da Al Jazeera, a admissão do apoio do Governo local a grupos terroristas e uma indenização ainda por determinar, segundo uma versão do documento que está sendo divulgada pela imprensa dos Emirados, mas que ainda não foi oficialmente reconhecida por nenhum dos envolvidos.

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“O que pretendem é transformar o Catar em um novo Bahrein”, disse ao EL PAÍS uma fonte diplomática europeia pouco antes de que o conteúdo exato das exigências fosse revelado. Ele se referia à quase absorção desse pequeno reino sob o manto saudita depois dos protestos de 2011, que colocaram a família real bahrenita contra as cordas.

As exigências impostas ao Catar acabaram por confirmar esse temor. De acordo com um dos pontos, esse país deverá “se alinhar com outros países árabes e do Golfo nos aspectos militar, político, social e econômico, bem como em assuntos financeiros”. Essa exigência já havia sido incluída na solução de uma crise anterior, em 2014, e reafirma a mensagem que Riad e seus aliados vinham difundindo pela mídia, segundo a qual Doha descumpriu o acordo alcançado na época.

Em primeiro lugar, os quatro Governos pedem ao Catar que limite suas relações com o Irã, inclusive acabando com a suposta presença da Guarda Revolucionária Iraniana em seu território – uma suposição que não era conhecida do público e sobre a qual o documento não apresenta provas. O Catar, que compartilha um importante depósito de gás com o Irã, sempre buscou manter boas relações com seu vizinho do outro lado do golfo Pérsico. Entretanto, essa postura não é inédita dentro do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG). Teerã também mantém boas relações com Omã, Kuwait e sobretudo Dubai, um dos sete emirados que compõe os EAU e que durante anos ajudou a República Islâmica a superar as sanções financeiras internacionais.

O documento também exige o fim da cooperação militar com a Turquia e o fechamento da base que esse país estava construindo em território catariano. Com a chegada, nesta quinta-feira, de 23 militares turcos e cinco veículos blindados, o contingente da Turquia no Catar soma agora 111 soldados, segundo o jornal turco Hurriyet. O objetivo inicial quando a instalação da base foi definida, em 2014, era que cerca de mil militares estivessem presentes ali para oferecer treinamento ao Exército catariano.

A lista, entregue pelo Kuwait na qualidade de mediador na disputa, salienta que o Catar deve cortar publicamente seus laços (incluindo a ajuda financeira) com uma série de grupos islâmicos, entre os quais a Irmandade Islâmica, colocada no mesmo saco de grupos terroristas como a Al Qaeda e o Estado Islâmico. Além disso, os quatro Governos exigem que o Catar lhes pague reparações por suas políticas dos últimos anos.

“Estas exigências devem ser cumpridas no prazo de 10 dias a partir da data de entrega, ou serão consideradas nulas”, afirma o texto, antes de especificar um duro regime de controle para os próximos 12 anos.

Não parece que será o caso. O Catar tem dito repetidamente que está disposto a negociar concessões se recebesse uma lista de queixas, desde que acompanhadas de provas, e na medida em que isso não colocasse sua independência em questão. “Estamos convencidos de que isto não tem nada a ver com a luta contra o terrorismo; querem minar nossa soberania”, declarou o embaixador catariano em Washington, Meshal Bin Hamad al Thani.

É uma ideia que numerosos observadores compartilham. “Não há nada de novo nas acusações. O Catar apoia o terrorismo? Quem o acusa também”, afirma uma fonte diplomática ocidental que se reuniu recentemente com altos funcionários sauditas e dos Emirados. “Quanto ao Irã, não justifica o irritação deles e a linguagem que estão empregando”, acrescenta, convencido de que não há mediação possível. “A Arábia Saudita não está disposta a fazer nenhuma concessão; sente que [o Catar] riu deles em 2014 e não acreditam que o Kuwait consiga o objetivo de domá-lo”, conclui.

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