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“Traidores” tentam obter o perdão de Obama no fim de seu mandato

A soldado Manning, Edward Snowden e Bowe Bergdahl pedem indulto antes que Trump assuma

Silvia Ayuso
Edward Snowden durante teleconferência feita de Moscou em novembro.
Edward Snowden durante teleconferência feita de Moscou em novembro.BERIT ROALD (AFP)

Chelsea Manning ainda tem de cumprir quase 30 dos 35 anos de prisão a que foi condenada em 2013, quando ainda era a soldado Bradley Manning, por vazar para o Wikileaks informações sobre ações militares norte-americanas no Iraque. Faz, também, quatro anos que Edward Snowden fugiu dos Estados Unidos para evitar o mesmo destino de Manning, depois de divulgar que a Agencia Nacional de Segurança (NSA) dos EUA realizava uma ampla espionagem das pessoas. Com suas ações, os dois deixaram o presidente Barack Obama, que até o momento jamais demonstrou qualquer sentimento de compaixão em relação a eles, em uma situação política muito delicada. Mas ambos sabem, também, que a situação ficará ainda mais difícil com seu sucessor, Donald Trump. Por isso, utilizam os últimos dias do democrata no poder para tentar obter o perdão presidencial.

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Na mesma situação se encontra Bowe Bergdahl, o soldado que desertou no Afeganistão e ficou mantido como prisioneiro dos talibãs por cinco anos até que Obama obteve sua libertação, em 2014, com uma polêmica troca por cinco dirigentes talibãs que estavam presos em Guantánamo. O atual presidente eleito o descreveu, durante a campanha, como um “traidor sujo que deveria ter sido executado”, destino que Trump expressou publicamente desejar também para Snowden. Bergdahl tem seu julgamento por traição marcado para 2017. Se for condenado, e considerando o que Trump pensa a seu respeito, poderá passar o restante de seus dias atrás das grades. A não ser que Obama lhe conceda o indulto.

Até o momento, quem tem mais chances, pelo menos de receber uma resposta ao seu pleito, é Manning. Um abaixo-assinado We the People em seu favor já angariou as 100.000 adesões necessárias para que o Executivo dê pelo menos uma resposta oficial para uma solicitação que seja colocada nesse site, que foi criado pela Administração Obama há cinco anos como uma forma de acesso da população ao governo. Uma outra iniciativa semelhante, com o objetivo de obter o indulto para Snowden, foi criada há quase um mês, tendo recolhido até agora apenas 500 assinaturas. Se não forem conseguidas as mais de 99.000 faltantes até 18 de dezembro, o pedido será arquivado, como aconteceu com uma outra petição que defendia um perdão coletivo para Snowden, Manning e Julian Assange, o fundador do Wikileaks que está asilado há mais de três anos na embaixada do Equador em Londres, para evitar ser deportado e preso nos EUA.

Obter uma resposta do Governo de Obama não significa, porém, que está será positiva. Além disso, o processo de solicitação do perdão presidencial segue outras vias: o pedido precisa ser enviado ao advogado de indultos do Departamento de Justiça, que depois de analisar o caso emite um parecer positivo ou negativo para o presidente, que tem a palavra final.

Campanhas de apoio

Manning e Snowden têm o apoio de fortes instituições que promovem campanhas em favor de suas insistentes solicitações de indulto. No caso de Manning, estão, entre outras, a associação de direitos civis ACLU e uma dezena de outras organizações defensoras dos direitos da comunidade LGBTI. No início deste mês de dezembro, essas organizações enviaram uma carta a Obama pedindo que o presidente comute a sentença para que Manning “possa ter a sua primeira oportunidade de viver uma vida real e com sentido, como a pessoa que ela nasceu para ser”. Manning, que completará 29 anos de idade no próximo sábado, se declarou transexual pouco depois de sua condenação, e desde então procura ser reconhecida como mulher, a fim de receber o tratamento de que necessita e não cumprir sua pena em uma prisão masculina. Já tentou cometer suicídio duas vezes, a última delas em outubro.

Snowden também já recebeu o apoio da ACLU, bem como da Human Rights Watch e da Anistia Internacional, organizações que pediram a Obama que reconheça o jovem analista de informática como um whistleblower, um informante do governo federal, e, portanto, protegido pela lei. O futuro do jovem é incerto. Ele permanece como refugiado na Rússia, país que, sob a gestão de Trump, pode se aproximar mais dos EUA. Mas o presidente eleito escolheu para comandar a CIA o congressista republicano Mike Pompeo, que já declarou publicamente que o “traidor” Snowden deveria ser julgado e “condenado à morte”. John Bolton, que Trump chegou a incluir na bolsa de apostas para a secretaria de Estado e que continua falando como número dois da diplomacia, chegou a dizer que Snowden deveria “ser pendurado em um carvalho”.

Não parece que Obama tenha vontade de lhes dar muita atenção nos seus últimos dias de Casa Branca. A primeira vez em que Manning pediu indulto foi logo após sua condenação, há mais de três anos, mas ela ainda não recebeu nenhuma resposta. Em meados de novembro, já passadas as eleições, a revista alemã Der Spiegel perguntou diretamente a Obama se ele tinha alguma intenção de perdoar Snowden. “Não posso perdoar uma pessoa que ainda não tenha sido julgada”, disse o ainda presidente. Dessa forma, ele ratificava a posição que tem sido defendida por seu governo durante todos esses anos: a de que Snowden deveria voltar para os EUA a fim de responder por suas ações perante a Justiça – o que parece improvável.

O destino de Bergdahl também suscita interrogações. O jovem foi solto graças à ação pessoal de Obama, mas seu caso também provocou grandes dores de cabeça para o presidente. A Casa Branca pelo menos confirmou ter recebido o seu pedido de indulto, embora tenha afirmado, como sempre acontece nesses casos, que não pode fazer qualquer comentário a respeito.

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