_
_
_
_
_

Os desafios do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump

Republicano deve abordar papel dos EUA na guerra contra o Estado Islâmico e tensão com a Rússia

A Casa Branca, em Washington.
A Casa Branca, em Washington.MICHAEL REYNOLDS (EFE)

O novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enfrentará, a partir de 20 de janeiro, quando toma posse, um amálgama de desafios. O novo ocupante do Salão Oval terá pela frente um tabuleiro de xadrez geopolítico em que Washington pretende consolidar sua influência como primeira potência mundial. E no âmbito interno deve dar uma resposta a uma sociedade preocupada com a erosão da classe média e a alucinante polarização política, e que está em plena transformação demográfica frente ao retrocesso da raça branca como o grupo populacional hegemônico.

Mais informações
O impacto das eleições dos EUA no Brasil, de acordo com 5 especialistas
Maconha, pornografia e outros temas que estão em votação hoje nos EUA
Wall Street tem pior sequência desde 1980 por incertezas sobre as eleições nos EUA

De alguns dias para cá foi fechada ao tráfego a passarela de pedestres em frente da Casa Branca. Como acontece a cada quatro anos, estão sendo montadas arquibancadas para assistir à chegada do novo presidente no fim de janeiro. Os ritual estabelece que o presidente dê uma volta, de carro e caminhando, pela avenida que une as escadarias do Congresso, onde presta juramento, até a residência presidencial.

Washington entra hoje oficialmente em uma fase de transição. Depois de semanas de contatos informais, o Governo que está de saída começa a trabalhar com membros do novo poder Executivo para preparar a transferência de poder. Além de suas próprias prioridades, o novo comandante-em-chefe herda dos oito anos de presidência do democrata Barack Obama um conjunto de assuntos que marcarão o início do seu mandato.

Na arena internacional, deverá abordar o papel dos EUA na guerra contra o Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria, a tensão com a Rússia por suas ânsias expansionistas e o crescimento de uma China mais ambiciosa regionalmente .

Os desafios da União Europeia frente à saída do Reino Unido da União Europeia e a onda de refugiados também serão prioridades. “Deverá construir fortes alianças bilaterais com França, Alemanha e Itália se quiser avançar em seus objetivos ante a visível incapacidade das instituições europeias para oferecer soluções eficazes a esses desafios”, afirma Carles Castelló-Catchot, chefe de gabinete do Centro Brent Scowcroft do Atlantic Council, um laboratório de ideias de Washington. O especialista adverte sobre a crescente “irrelevância” da Europa como “parceira prioritária” dos EUA.

“O mundo é diferente daqueles de 2009 e 2013. Quem ocupar o Salão Oval terá de levar em conta o que está acontecendo no mundo e como isso afeta a política e os interesses dos EUA”, diz P.J. Crowley, que foi assessor de assuntos de segurança nacional do presidente Bill Clinton e porta-voz da candidata democrata Hillary Clinton quando foi secretária de Estado no primeiro mandato de Obama. “Terá de avaliar que tipo de mandato recebeu nas eleições. O povo americano considera importante a luta contra o Estado Islâmico”.

Os EUA têm cerca de 5.000 soldados no Iraque e 300 na Síria, na campanha contra o EI. O novo presidente deve decidir se aumenta esse contingente e reforça a campanha aérea, iniciada em agosto de 2014. Outra prioridade é o futuro do presidente sírio, Bashar al-Assad, e seu papel na resolução do labirinto sírio depois de mais de cinco anos de sangrenta guerra civil. Washington continua pedindo oficialmente a saída de Assad, mas nos últimos meses reduziu a urgência, consciente de que sua prioridade é a derrota do jihadismo.

No cenário doméstico, o novo presidente herdará um país mais dividido depois da batalha entre Hillary Clinton e o republicano Donald Trump. Os ataques ferozes entre ambos dificultam prever o fim da polarização política e o bloqueio no Congresso que marcou os anos de presidência de Obama. “Teremos de descobrir o porquê”, disse na segunda-feira, véspera da eleição, o vice-presidente em fim de mandato Joe Biden num ato de campanha em Fairfax (Virginia), sobre a desconfiança em relação ao establishment político existente entre muitos eleitores. “Há muita gente que se sente abandonada”, acrescentou.

A ascensão do populismo de Trump e também do senador Bernie Sanders, que perdeu as primárias democratas para Clinton, evidenciou o fosso crescente entre uma parte da sociedade norte-americana e sua classe política. À semelhança de outros países desenvolvidos, a saída da crise econômica não é percebida da mesma maneira no bolso de todos os cidadãos. A crescente desigualdade de renda dos EUA não desaparecerá antes de 20 de janeiro.

Tampouco desaparecerá o crescente debate racial sobre o tratamento da polícia em relação à comunidade afro-americana. Obama, como primeiro presidente negro, não conseguiu resolver a questão. O novo presidente deverá responder também ao desafio da imigração em um país cada vez mais latino. E às preocupações financeiras do dia a dia do cidadão, como o custo crescente da saúde e das matrículas universitárias.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_