A procura pelo chefe da divisão de atentados no exterior do Estado Islâmico
Chefe de propaganda do grupo terrorista foi denunciado por vários ex-jihadistas
A recompensa que Washington oferece por pistas que levem à captura ou morte do sírio Abu Mohamed al Adnani al Shami é de cinco milhões de dólares (16 milhões de reais), exatamente a mesma quantia que pagaria por informações relativas ao iraquiano Abubaker al Bagdadi, o califa Ibrahim, líder do Estado Islâmico (EI). Em comum, eles têm algo além do botim por sua captura. Ambos estiveram, na companhia de outros jihadistas que viriam a se tornar membros do EI, na prisão de Camp Bucca, que foi mantida pelo Exército dos EUA no extremo sudeste do Iraque. Não é à toa que analistas como o sírio Sami Moubayed descrevem essa extinta penitenciária como uma “universidade de jihadistas”.
Hoje, Al Bagdadi, pelo menos no papel, continua à frente do califado; enquanto isso, Al Adnani, apontado como porta-voz do grupo, mantém uma fervente atividade propagandística, ao mesmo tempo em que dirige, segundo relatos de vários ex-jihadistas, a unidade de atentados no exterior. É o líder em ascensão do EI.
Seu nome de batismo é Taha Subhi Falaha (Binnish, Síria, 1977). Trata-se, sem dúvida, de um dos sírios mais graduados dentro do grupo terrorista, alimentado sobretudo por jihadistas veteranos de origem iraquiana. Foi ele quem proclamou, em 29 de junho de 2014, que o então chamado Estado Islâmico do Iraque e Levante instalara um califado, tendo Al Bagdadi como chefe. Foi o anúncio mais importante feito pelo EI até hoje. O segundo mais importante também coube a Al Adnani, num áudio divulgado três meses depois, no qual convocava seus seguidores a cometerem atentados onde e como fosse possível. É o que Michael Weiss, especialista no fenômeno jihadista, chamou de “declaração de guerra” do EI. Uma guerra contra o resto do mundo. A partir daí, o planeta testemunha um constante gotejamento de atentados, da Austrália ao Canadá, passando por França e Bélgica.
“Se os infiéis fecharam as portas da hijra (viagem ao califado) na sua cara”, diz Al Adnani num dos discursos citados na mais recente edição da Dabiq, revista do EI, “então abra a porta da jihad na sua [própria casa] [...], atemorizando-os e aterrorizando-os até que cada morador tema o seu vizinho”. Um tom compassado de sermão domina dezenas de áudios do EI atribuídos a Al Adnani, cujo rosto é conhecido apenas graças a duas ou três fotos na Internet.
Segundo um dos textos biográficos mais citados, escrito pelo clérigo bahrenita Turki al Binali, Al Adnani já demonstrava sua vocação desde criança: frequentava mesquitas e aprendeu a recitar o Corão em apenas um ano. Ainda na Síria, com pouco mais de 20 anos, jurou lealdade, na companhia de aproximadamente 30 jihadistas, ao jordaniano Abu Musab al Zarqawi, grande referência da Al Qaeda no Iraque, apesar da sua rebeldia, e ainda hoje o ideólogo de cabeceira do EI. Com a invasão norte-americana de 2003 para derrubar o regime de Saddam Hussein, Al Adnani viajou para o Iraque. A ascensão do jovem da província de Idlib nas fileiras jihadistas é parte de uma viagem realizada por vários outros integrantes da cúpula do EI.
Sob a influência de Zarqawi, que à frente da Al Qaeda promoveu uma intensa onda de atentados terroristas no Iraque, Al Adnani atuou como instrutor em campos de treinamento e combateu a coalizão até ir parar no Camp Bucca, onde passou cinco anos (2005-2010). Lá teve a companhia do hoje autoproclamado califa do Estado Islâmico. E não só isso. Segundo documentou o The Soufan Group em 2014, pelo menos outros oito veteranos dirigentes do grupo passaram por aquela prisão no mesmo período. Vários deles já morreram.
Há muitos relatos de ex-integrantes do EI ou de outros grupos, hoje presos, que apontam Al Adnani não apenas como um porta-voz e dirigente, mas também como chefe do chamado Emni, uma unidade de inteligência que combina a segurança policial interna e o treinamento e coordenação dos recrutas estrangeiros dispostos a cometer ataques fora da Síria e Iraque – em outras palavras, a vanguarda do terrorismo do EI na atualidade. Um desses depoimentos foi oferecido há poucos dias na Alemanha por Harry Sarfo à repórter Rukmini Callimachi, do The New York Times: “[Al Adnani] é o chefe do Emni”, disse Sarfo, “é também o chefe das forças especiais; tudo passa por ele”.
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