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Imigrante sírio detona uma bomba e causa 12 feridos na Alemanha

Explosão ocorreu na entrada de um festival de música em Ansbach As autoridades negaram o asilo ao sírio, que morreu

O lugar da explosão em Ansbach, Alemanha.
O lugar da explosão em Ansbach, Alemanha. DANIEL KARMANN (EFE)

Um imigrante sírio, de 27 anos, morreu neste domingo ao explodir duas bombas, que deixaram 12 pessoas feridas, três delas com gravidade, ao lado de um restaurante na região central da cidade alemã de Ansbach, no estado da Baviera. A explosão ocorreu às 22h (17h de Brasília) quando os arredores do estabelecimento estavam cheios de gente por conta da realização de um festival de música próximo ao local. Fontes policiais informaram ao EL PAÍS que a prefeita deu a ordem de parar a música e um agente comunicou o fato aos 2.500 participantes do festival. No horário em que as bombas explodiram já não circulavam mais ônibus e trens, de modo que a maioria das pessoas, moradora de localidades próximas, voltou a pé para casa.

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O único morto é o homem que levava as bombas dentro de uma mochila, segundo as autoridades, que teve negada sua permissão de asilo na Alemanha. O ministro do Interior da Baviera, Joachim Herrmann, explicou que ele chegou ao país há dois anos e que sua solicitação de asilo foi recusada, mas possuía um documento temporário e recebeu um apartamento dos serviços sociais. Herrmann acrescentou posteriormente que o homem seria deportado à Bulgária.

O responsável pelo atentado tentou se suicidar duas vezes e esteve internado em um centro psiquiátrico. Herrmann afirmou na entrevista coletiva, convocada com urgência às 3h35 da madrugada (22h35 de Brasília), que não estava claro se nessa ocasião ele tinha intenção de se matar ou de “levar outros com ele”, mas o certo é que ele estava com uma mochila cheia de explosivos e pedaços de metal que poderiam ter provocado uma tragédia maior, acrescentou.

Durante este final de semana se realizava um festival de música ao ar livre que atrai muitos visitantes. Segundo o ministro, o agressor tentou entrar no recinto pouco antes da explosão, mas foi impedido por não possuir ingresso. Se isso for confirmado, significaria que se evitou uma matança. Por fim, explodiu as bombas no exterior do Eugene´s, um bar especializado em vinhos.

A polícia mobilizou um importante dispositivo de segurança na localidade, de 40.000 habitantes, que abriga uma base militar norte-americana. Habitantes do município como as italianas Silvana Mustazzo e Rosa Maria Pitao, funcionárias do Café Rialto instaladas na cidade há mais de vinte anos, acordaram por volta de meia-noite com o barulho dos helicópteros policiais, mas veem o ocorrido como algo isolado e se declaram apaixonadas por Ansbach, que descrevem como uma cidade “multicultural e tranquila na qual não existem problemas de drogas e delinquência”.

Mas sua postura aparece cada vez mais apagada no tenso debate iniciado após os ataques. Thomas Trivinski, empregado da base americana de Ansbach de 32 anos que testemunhou o tumulto ocorrido após as explosões, compartilha um sentimento que aparentemente se estende entre a sociedade alemã alimentado pelos sucessivos episódios de violência. “Merkel tem parte da culpa. Não podemos abrir as portas a todos”, critica.

Os olhares agora estão nos mais de um milhão de refugiados que vivem na Alemanha. Na manhã de segunda-feira, um grupo de asilados conversava em uma praça central enquanto se dirigia às aulas após a noite agitada. Um deles, que prefere não se identificar, é de Aleppo e tem 22 anos. Disse se sentir muito bem na Alemanha. Perdeu amigos e parte de sua família na guerra na qual seu país continua mergulhado e agora o Governo alemão lhe dá uma ajuda que lhe permite viver, quantia que prefere não revelar. Em seu tempo livre joga futebol, nada e sai com amigos, mas não está convencido de que os alemães estão contentes com sua presença no país.

Ao seu lado está Sebastian Ali, de 32 anos, há dois na Alemanha, que aceitou sua solicitação de asilo. Vive em uma localidade próxima a Ansbach, mas estuda no município. Nascido e criado em Mosul (Iraque), se declara cristão, tem um braço tatuado e adora rock pesado. “Todo mundo perdeu alguém”, diz sem dramatismo quando é perguntado se tem familiares e amigos mortos no conflito que assola seu país. Sobre sua acolhida na cidade, viveu experiências de todo o tipo. “Não tenho problemas com os alemães, a maioria te ajuda. Mas às vezes você encontra pessoas que dizem: vá embora daqui”.

As consequências políticas da semana complicada vivida pela Alemanha são incertas. Herrmann, o ministro bávaro do Interior, do partido conservador CSU, de posições mais direitistas, aliado do CDU de Merkel, se declarou “indignado” pelo ataque e, em uma mensagem velada contra a política de acolhimento de refugiados da chanceler, insistiu na necessidade de “reforçar os controles dos que vivem em nosso país”. “Minha opinião pessoal é que é muito provável que esse tenha sido um verdadeiro ataque suicida de um radical islâmico”, disse Herrmann, mas a polícia afirmou que ainda não está nada clara qual era a motivação do autor dos fatos.

A onda de ataques exacerbou as críticas na Alemanha sobre a decisão de Merkel de abrir as portas do país aos solicitantes de asilo que fogem das guerras do Afeganistão, Síria e Iraque. O problema é que os golpes se acumulam quase sem a capacidade de assimilá-los. É o terceiro ataque violento em uma semana no estado da Baviera e o quarto na Alemanha. Na tarde de sexta-feira um jovem alemão-iraniano de 18 anos, Ali David Sonboly, matou a tiros nove pessoas, a maioria adolescentes, e feriu outras 35 em um centro comercial de Munique, antes de se matar. O estudante, que ficou um ano preparando o ataque, sofreu bullying escolar. Quatro dias antes, um refugiado afegão de 17 anos atacou com um machado e feriu gravemente vários passageiros de um trem regional, em uma ação reivindicada pelo Estado Islâmico.

Além disso, no mesmo domingo um refugiado sírio de 21 anos matou com um machado uma mulher grávida e feriu outras duas pessoas em Reutlingen, no estado de Baden-Würtemberg, no sudoeste do país. A polícia por enquanto descarta que o ataque tenha vínculos islâmicos e suspeita que se trata de uma ação de violência de gênero.

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