_
_
_
_

EUA condenam ex-militar chileno pelo assassinato de Víctor Jara

Tribunal de Orlando ordena que o ex-tenente Pedro Barrientos pague 28 milhões de dólares à família do cantor

A viúva do cantor e compositor chileno Víctor Jara, Joan Jara, e sua filha Amanda comemoram a vitória judicial na Flórida.Vídeo: GERARDO MORA
Rocío Montes

Após quase 43 anos de busca por justiça, a viúva e as filhas do cantor e compositor chileno Víctor Jara conseguem pouco a pouco encerrar décadas de impunidade pelo assassinato de uma das vítimas mais célebres da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Um tribunal federal de Orlando, nos Estados Unidos, determinou nesta segunda-feira que o ex-militar chileno Pedro Barrientos, naturalizado norte-americano, é culpado de torturar e assassinar o artista. O júri determinou que o ex-tenente pague uma indenização de 28 milhões de dólares (95 milhões de reais) à família.

O processo civil começou com uma ação movida em 2013 pela viúva, Joan Turner Jara, e as duas filhas do casal, Manuela Bunster e Amanda Jara, com apoio do Centro de Justiça e Responsabilidade (CJA), de San Francisco. O julgamento durou duas semanas. “Aqui começa a justiça para todas as famílias do Chile que esperam conhecer o destino de seus seres queridos”, disse Turner Jara na segunda-feira, em frente ao tribunal federal de Orlando.

Mais informações
Justiça para Víctor Jara, afinal
Argentina, o primeiro país a condenar os chefes da Operação Condor
Pablo Neruda será enterrado pela quarta vez no balneário chileno de Ilha Negra
Morre ‘el Lobo’, líder da ‘caravana da morte’ da ditadura chilena
Pinochet ordenou assassinato de ex-chanceler chileno em Washington
Os filhos da repressão chilena preenchem os silêncios

Há três anos a Justiça chilena já identificou Barrientos como autor material do homicídio, mas não conseguiu que ele fosse extraditado para prestar contas aos tribunais locais. Em 2013, o juiz Miguel Vásquez determinou que o artista, um dos símbolos do Governo socialista de Salvador Allende, morreu em 16 de setembro de 1973 por causa de “pelo menos 44 impactos de bala”, segundo a autopsia. As investigações judiciais indicaram que o homem que apertou o gatilho foi Barrientos, então tenente do Exército. Na época, outros sete oficiais reformados foram processados pelo assassinato ocorrido no Estádio Chile, em Santiago, um dos maiores centros de detenção e tortura no começo da ditadura de Pinochet.

A viúva e as duas filhas do cantor prestaram depoimento diante do juiz Roy Dalton. Ao ouvirem a decisão dos jurados, após dois dias de deliberações, Joan, Amanda e Manuela choraram de alegria e se abraçaram com seus advogados, relata a agência Efe. Para sua advogada Catherine Roberts, “o veredicto representa uma mensagem não só a outros perpetradores, mas também ao Governo dos Estados Unidos para que agilize a extradição de Barrientos para o Chile”.

Radicado desde a década dos noventa na cidade de Deltona (Flórida), Barrientos dedicava-se, pelo menos até alguns anos atrás, ao comércio de carros usados. O ex-militar sempre se declarou inocente, inclusive durante o julgamento. Disse que na época dos fatos não conhecia o popular Víctor Jara, e alegou que só muito tempo depois ficou sabendo quem era e como tinha morrido.

O depoimento entregue à Justiça em 2009 por José Paredes, que aos 18 anos presenciou o assassinato enquanto prestava o serviço militar, foi crucial para a investigação no Chile, relacionando diretamente Barrientos ao crime. “Eles o mantinham sentado, tinham umas camas de campanha, dessas usadas no Exército, o mantinham ali e batiam, batiam, batiam (...). E Barrientos lhe dá um tiro... quase à queima-roupa”, relatou o ex-recruta à Justiça chilena. Para o juiz Vásquez, que investigou o caso no Chile, não há dúvida. “Ele atirou em Víctor Jara”, declarou, após processá-lo por homicídio qualificado.

Para a presidenta do Agrupamento de Familiares de Detidos Desaparecidos (AFDD), Lorena Pizarro, “o veredicto é o resultado de uma longa luta. Não tem a ver com a indenização, e sim com haver um tribunal que diz existir um responsável pelo crime contra Víctor Jara, apesar de tantos anos de impunidade”. Entrevistada pelo site do canal T13, Pizarro afirmou que a decisão judicial “representa uma lição ao Poder Judiciário chileno e ao Estado chileno em geral”.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_