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Cameron diz que abandonar a União Europeia ameaça a paz e a estabilidade

Premiê britânico alerta sobre os riscos de o Reino Unido deixar a zona do euro

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, durante seu discurso no Museu Britânico de Londres, nesta segunda-feira. Leon Neal AFPFoto: reuters_live
Pablo Guimón

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, retomou com força o debate europeu no Reino Unido, ao advertir ao eleitorado do seu país que abandonar a União Europeia colocaria em risco “a paz e a estabilidade” e aumentaria o risco de guerras. “Podemos estar tão seguros de que a paz e a estabilidade do nosso continente estão garantidas sem sombra de dúvida? Vale a pena correr esse risco?”, perguntou-se Cameron. “Eu nunca seria tão temerário a ponto de descartar essa hipótese”, acrescentou.

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Superado o parêntese no debate por causa das eleições locais e regionais de quinta-feira passada, e a apenas um mês e meio do crucial referendo de 23 de junho, o primeiro-ministro escolheu o peso histórico do Museu Britânico de Londres para voltar à ação. Após lançar semanas atrás as cartadas da economia e da influência do país no cenário mundial – com sucesso, segundo as pesquisas –, Cameron apresentou seu terceiro trunfo, o da segurança nacional.

O primeiro-ministro conservador, transformado em porta-voz da campanha pela permanência na União Europeia desde que fechou em fevereiro um acordo com Bruxelas sobre o novo encaixe do Reino Unido no clube, aludiu aos conflitos dos Bálcãs, incluindo o genocídio em Srebrenica, e mais recentemente na Ucrânia para reforçar seu argumento “poderoso e patriótico”. Quem deseja o Brexit, afirmou, pretende ignorar os problemas europeus, como a crise dos refugiados e a ameaça do Estado Islâmico. E advertiu que deixar a UE seria “um ato abjeto de recuo nacional”.

O tom alarmista do discurso foi tachado de “hiperbólico” pelos partidários do Brexit, que argumentam que deixar a UE favoreceria a segurança nacional, pois devolveria ao país o controle sobre suas fronteiras. O ministro de Relações Exteriores, Philip Hammond, buscou abrandar a fala do primeiro-ministro ao esclarecer que ele não sugeria que haverá guerras entre as potências europeias, e sim que a UE se tornaria menos capaz de influir em nações instáveis vizinhas se não tivesse a participação britânica.

“Corremos o risco de crescentes tensões em partes da Europa que talvez não tenham as mesmas raízes democráticas profundas e duradouras que nós e nossos vizinhos imediatos temos”, afirmou Hammond na BBC. “Qualquer coisa que enfraqueça a UE enfraqueceria as forças de estabilidade nessas áreas, e isso é ruim para o Reino Unido”.

Em seu discurso, intitulado “Stronger, Safer, Better Off” (mais fortes, mais seguros, melhores), Cameron defendeu que “o isolamento nunca serviu bem a este país”. O primeiro-ministro salientou a importância da troca de informações sobre o terrorismo entre os sócios, citando o exemplo do recente intercâmbio de exames de DNA entre os corpos policiais franceses e belgas, o que ajudou a deter os implicados nos atentados de Paris e Bruxelas. Mas ele também rememorou eventos relevantes da história europeia do passado, entre os quais mencionou à Marinha espanhola em 1588, as batalhas de Blenheim (1704) e Waterloo (1815), as duas Guerras Mundiais e a queda do Muro do Berlim. Mencionou inclusive “as legiões de César” como exemplo da história comum. "A verdade é esta: o que acontece na nossa vizinhança importa ao Reino Unido.”

Sir John Sawers, ex-chefe dos serviços de espionagem MI6, se somou à ofensiva, ao alertar que a opção de abandonar a UE tornaria o país “menos seguro”, segundo relata a BBC nesta segunda-feira. Segundo Sawers, não pertencer ao bloco comunitário deixaria o Reino Unido de fora de assuntos “cruciais”, pela falta de compartilhamento da inteligência antiterrorista.

Coincidindo com a intervenção de Cameron, a campanha pela permanência na UE divulgou nas redes sociais um vídeo em que veteranos da Segunda Guerra Mundial destacam as vantagens da unidade europeia. A peça busca convencer o eleitorado mais idoso, que segundo as pesquisas são o grupo mais favorável ao Brexit. Apenas 30% dos maiores de 65 anos, segundo uma pesquisa do instituto Ipsos Mori, planejam votar pela permanência.

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