_
_
_
_

Futuro presidente filipino promete “esquartejar criminosos”

Vencedor da eleição presidencial promete plano para acabar com a criminalidade

Rodrigo Duterte no ato final de sua campanha eleitoral.Vídeo: RITCHIE B. TONGO

O ganhador das eleições presidenciais das Filipinas, Rodrigo Duterte, é um homem que hipnotiza e inquieta na mesma medida. Sua vitória é fruto das promessas de tolerância zero contra a corrupção, a delinquência e as drogas – problemas endêmicos no arquipélago asiático –, e suas receitas passam, literalmente, por matar os bandidos no meio da rua.

Mais informações
Em missa para milhões nas Filipinas, Papa defende o papel da mulher
China desafia seus vizinhos com uma ‘grande muralha’ de ilhas artificiais
As ambições territoriais da China elevam a tensão

“Quando eu for presidente, darei ordens à polícia e ao Exército para caçar essa gente e matar todos eles”; “Esqueçam as leis de direitos humanos”; “Vou esquartejar criminosos diante de vocês se assim quiserem”; “Eu mataria meus próprios filhos se fossem viciados em drogas” – estas são algumas das mensagens que Duterte lançou durante a polêmica e tensa campanha eleitoral deste ano. O candidato prometeu um plano para acabar em seis meses com essas mazelas, o que custaria, segundo ele, 100.000 vidas. Ao invés de prejudicá-lo, essas propostas lhe valeram 38,6% dos votos (com 80% das urnas apuradas), para perplexidade do restante da classe política local.

Muitos filipinos votaram nele para que leve ao resto do país a linha-dura que impôs à cidade de Davao, na ilha de Mindanao, da qual foi prefeito durante 22 anos. Essa metrópole, que já foi uma mancha para a reputação do país, transformou-se sob Duterte em um lugar próspero. Para erradicar a delinquência, ele usou táticas como execuções extrajudiciais e patrulhas paramilitares de “esquadrões da morte”, segundo denúncias de várias ONGs de direitos humanos – algo que ele próprio admite ser verdade. Dessa campanha surgiram os apelidos “O Castigador” e “Dirty Harry/Duterte”.

Duterte, de 71 anos, não tem papas na língua. É polêmico, direto, autoritário, frequentemente agressivo, e se apresentou como “a última esperança” para os filipinos indignados com a classe política e as elites do país. Suas mensagens atraem jovens e idosos, homens e mulheres, e pessoas de diferentes classes sociais que têm em comum o aborrecimento diante do crescente número de crimes e do aumento do narcotráfico. Um de seus slogans de campanha foi “A mudança está chegando”. Muitos o compararam a Donald Trump, o candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, por causa de suas propostas polêmicas, sua atitude reacionária contra o establishment e sua capacidade para se conectar com o eleitorado.

Em Davao, a cidade que, ao lado dos filhos, ele governou durante mais de 20 anos, o sentimento por ele é quase de adoração. Muitos habitantes o veem como um pai. Seu rosto está por toda a parte, seja em camisatas que os davaoeños compram em lojas, em fotos em tamanho real em cafés, bares e restaurantes, ou ainda em enormes cartazes em qualquer tipo de estabelecimento comercial – além dos panfletos eleitorais que nestes dias inundaram as cidades do país. Em uma grande bandeira na entrada de um dos restaurantes mais famosos de Davao, pode-se ler a frase “Duterte City”. É difícil encontrar alguém que não o apoie.

- Conhece alguém contra Duterte?

- Aqui em Davao? Não!

Esse diálogo – ou outro muito parecido com esse – pode se repetir toda vez que se formula a pergunta entre qualquer círculo social: de professores universitários a vendedores ambulantes. As execuções extrajudiciais de mais de 1.000 pessoas que Duterte apoiou – quando não esteve diretamente envolvido como patrocinador – são ignoradas em muitos casos, ou abertamente aplaudidas. “Aqui vivemos muito mais seguros com ele. Preferimos não pensar muito neste assunto”, afirma um importante empresário de origem espanhola. “Duterte mata quem merece morrer”, diz abertamente Fretchie, uma filipina de 31 anos que votou pela primeira vez para apoiar a candidatura de seu prefeito.

Nem mesmo uma gafe sua, ao se referir sobre o caso de uma missionária australiana que foi estuprada e assassinada em 1989 após um motim em uma cadeia de Davao, atrapalhou Duterte. “Ela era tão bonita... O prefeito deveria ter sido o primeiro (a abusar dela)”, disse, em alusão ao cargo que ocupava na época. Diante das numerosas críticas, ele teve que pedir desculpas e admitir que “às vezes, o pior de mim sai de minha boca”. Em sua campanha, ele tampouco escondeu sua condição de mulherendo e se gabou de ter várias amantes. Também defendeu os direitos da população LGBT em um país onde 80% dos habitantes são católicos.

Seu discurso centrado quase unicamente na questão da segurança e da ordem deixou em segundo plano as propostas em outras áreas. Em política externa, Duterte afirmou estar aberto a uma negociação bilateral com Pequim sobre o conflito de soberania de várias ilhas no Mar do Sul da China, e levantou a hipótese de ambos os países explorarem de maneira conjunta os recursos dessas águas. Trata-se de uma estratégia oposta à do atual Governo, que defende uma resposta multilateral que inclui uma denúncia à Corte Permanente de Arbitragem de Haia. Ele também lançou advertências à Austrália e aos Estados Unidos, tradicionais aliados das Filipinas.

Pouco se sabe de sua política econômica, algo que ele diz que vai deixar “nas mãos de seus assessores e especialistas”. As Filipinas são um dos países asiáticos cuja economia viveu um comportamento melhor nos últimos cinco anos, com um crescimento anual médio de 6,3% em meio a uma mínima recuperação da economia global.

O presidente que deixa o cargo, Benigno Aquino, tentou na última hora, sem sucesso, uma aliança entre outros candidatos para evitar a vitória de Duterte, a quem descreveu como um ditador. “Deveríamos nos lembrar da maneira como Hitler chegou ao poder. Se você permite que alguém oprima seus semelhantes e não fala nada, será o próximo a ser oprimido”, alertou em um dos comícios no fim da campanha. Suas palavras não parecem ter surtido efeito.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_