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Tecnologia eleitoral do país do Silicon Valley estará obsoleta em 2016

Maioria das máquinas de votos nos EUA estará fora de linha antes da próxima eleição

O presidente Obama vota em Chicago em novembro de 2014.
O presidente Obama vota em Chicago em novembro de 2014.K. LAMARQUE (REUTERS)

A nação das startups, onde o Silicon Valley impulsiona a vanguarda tecnológica do mundo, onde são financiados projetos com doações através da Internet e se compartilha o código para a construção de aplicativos a programas, não sabe o que fazer para atualizar a tecnologia com a qual votarão mais de 130 milhões de pessoas nas próximas eleições. A maior parte das máquinas foi renovada após as eleições presidenciais de 2000 e têm entre 10 e 15 anos de vida. Ou seja, estarão obsoletas na próxima votação, como foi denunciado por um relatório recente do Brennan Center for Justice.

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Funcionários das comissões eleitorais de todo o país estudam como adaptar uma tecnologia atrofiada aos sistemas informáticos atuais. As telas táteis dos aparelhos móveis aos quais as pessoas estão acostumadas não têm nada a ver com cartões perfurados e longas folhas de papel que são depois habitualmente escaneadas por grandes aparelhos nos EUA, onde a tecnologia utilizada nas eleições é uma das mais atrasadas.

Neal Kelley, funcionário de Orange County (Califórnia) e responsável pelo registro de eleitores no condado, é o chefe do escritório encarregado de revisar as máquinas e os programas utilizados na votação. A situação vivida no último ano explica em quais circunstâncias serão realizadas as próximas eleições. “Encontramos sistemas que funcionavam com a versão do Windows 2000, apesar dela ter saído de linha em 2010. Precisamos buscar notebooks antigos para instalar o sistema operacional e conseguir iniciar as máquinas” explicou em uma conferência em Washington.

O Centro Brennan alerta que o maior risco é o colapso da tecnologia no dia das eleições porque pode provocar longas filas nos locais de votação e a perda dos votos daqueles que não tiverem tempo de participar. Segundo um relatório do MIT, em 2014 foram perdidos entre meio milhão e 700.000 votos por conta disso. “Se o resultado for apertado, esse problema só irá piorar”, avisa Larry Norden, coautor do estudo do Brennan Center for Justice, a primeira pesquisa que analisa o estado das máquinas utilizadas para votar desde a crise de 2000.

“O problema é muito maior do que poderíamos esperar”, diz Norden. A substituição da tecnologia depende dos governos locais e estaduais, assim como de seus recursos e, segundo o pesquisador, muitos deles não estão preparados para pagar a substituição das máquinas.

Um eleitor da Pensilvânia publicou este vídeo em 2012. Quando tentava votar em Barack Obama, a máquina registrava que havia selecionado o nome de Mitt Romney por estar mal calibrada.

O governo federal investiu 4 bilhões de dólares (15 bilhões de reais) após o problema com as máquinas do estado da Flórida nas eleições de 2000 entre George W. Bush e Al Gore e que acabaram com uma recontagem no Supremo Tribunal. Desde então, os EUA não realizaram um grande investimento e deixaram esse desafio nas mãos dos Estados. Segundo Norden, o maior desafio é que “só prestamos atenção quando existe um problema. Não agiríamos assim com o serviço de bombeiros”.

Os EUA não podem sequer tentar voltar ao sistema tradicional e utilizar votos de papel, como fazem outros países, porque levaria semanas para contar 130 milhões de votos. O desafio da tecnologia atual é sua obsolescência. A técnica que substituiu o papel durou 60 anos. Os cartões perfurados chegaram depois, com 40 anos de vida. “Agora temos sorte se um sistema durar 12 anos”, diz Doug Lewis, ex-diretor executivo do Election Center.

Os eleitores da Virginia denunciaram em 2014 que um problema com as telas táteis das máquinas fazia com o que o sistema marcasse o voto em um candidato quando a pessoa gostaria de escolher outro. “Foi aí que revisamos pela primeira vez a tecnologia de todo o Estado”, reconhece Edgardo Cortés, comissário eleitoral da Virginia.

O resultado da investigação foi alarmante: precisaram retirar 20% dos equipamentos ao descobrir que o sistema era vulnerável a ataques informáticos e que poderia ser manipulado. “O fato de um sistema ser válido há dez anos não significa que continuará sendo dentro de uma década”, diz Cortés. “Eu não quero ter de comparecer diante das câmeras e explicar por que não quis consertar esse problema”.

Lewis, um dos comissários mais veteranos e familiarizados com a tecnologia eleitoral, reconhece que o orçamento é o principal obstáculo para renovar os equipamentos. “Não é algo barato, mas depois do que aconteceu em 2000, é muito menos caro do que deixar que exploda na sua cara”.

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