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Rebelião populista abala a elite republicana nos EUA

Aspirantes sem experiência e contrários ao establishment encabeçam as pesquisas

Marc Bassets
John Boehner.
John Boehner.Evan Vucci (AP)

O Partido Republicano chega transformado ao final da presidência de Barack Obama. É um partido mais direitista e imprevisível. A ala radical, que bloqueou as iniciativas do presidente democrata, volta-se contra os dirigentes internos. As dificuldades para encontrar um speaker – o presidente da Câmara dos Deputados – refletem essas divisões. Na campanha para suceder Obama nas eleições presidenciais de 2016, os aspirantes sem experiência política e contrários ao establishment encabeçam as pesquisas no lado republicano.

Em seu principal bastião de poder, o Congresso, os republicanos estão sem um líder. Em 25 de setembro, John Boehner anunciou que abandonaria a presidência da Câmara, cargo que faz dele o segundo na linha de sucessão do presidente, atrás apenas do vice-presidente do país. Boehner se declarou cansado dos “falsos profetas” da ala direitista da sua bancada.

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Quem deveria substituir Boehner era Kevin McCarthy, o líder da maioria na Câmara dos Deputados. Mas na quinta-feira, de forma surpreendente, McCarthy anunciou que renunciava ao cargo de líder da bancada. Também ele não teve forças para domesticar os cerca de 40 deputados mais conservadores.

Para o historiador Geoffey Kabaservice, autor de Rule and Ruin (Governe e arruíne), um ensaio sobre o declínio dos republicanos moderados, os rebeldes fazem lembrar Barry Goldwater, senador pelo Arizona que foi o candidato republicano na eleição presidencial de 1964.

Focos da rebelião

RINO é a sigla em inglês de “republicanos só no nome”. O inimigo não é apenas Obama, mas também Boehner e seus aliados no establishment. Os rebeldes se reúnem em fóruns como o Freedom Caucus (bancada da liberdade), hostil a qualquer concessão aos democratas e às elites do seu próprio partido. São uma minoria sem disposição para construir consensos, mas capaz de forçar medidas extremas, como o fechamento da Administração federal por falta de orçamento e a suspensão de pagamentos se o Congresso impedir a elevação do teto legal de endividamento.

A campanha para a indicação do Partido Republicano à eleição presidencial de novembro de 2016 é um mundo diferente do Capitólio, mas as fissuras são semelhantes. Faltam três meses e meio para que tenha início o processo de primárias e caucus (assembleias eleitorais) que decidirão o indicado, mas hoje o magnata Donald Trump, o neurocirurgião Ben Carson e a ex-executiva da Hewlett Packard Carly Fiorina são os favoritos. Os três com uma mensagem antipolítica.

Não é certeza que um dos três será o indicado. E é provável que, apesar das turbulências, o Partido Republicano manterá o controle do Congresso. Mesmo nesse caso, resta a polarização, a crispação, a paralisia. Também esse é o legado dos anos Obama.

Promessas frustradas da direita

Há cerca de três anos, três deputados escreveram um manifesto intitulando-se Young Guns – literalmente, pistolas jovens, as promessas do partido.

Um deles era Eric Cantor, que perdeu em 2014 o seu feudo da Virgínia para um candidato ligado ao grupo conservador Tea Party. Outro era o californiano Kevin McCarthy, favorito ao cargo de speaker até renunciar dias atrás. O terceiro era Paul Ryan, de Wisconsin, cabeça pensante da nova direita e candidato frustrado à vice-presidência dos EUA em 2012. Depois da renúncia de McCarthy, aumenta a pressão para que o presidente da Câmara seja Ryan.

No processo para a definição dos candidatos presidenciais, os republicanos contam com talentos consagrados, do veterano Jeb Bush à promessa latina Marco Rubio, senador pela Flórida. Também eles precisam fazer frente ao cansaço do eleitorado com os políticos tradicionais, uma sombra que agita o Capitólio e a campanha para a Casa Branca.

“O extremismo na defesa da liberdade não é nenhum vício”, dizia Goldwater. “E deixem-me recordar a vocês”, acrescentava, “que a moderação na busca pela justiça não é nenhuma virtude”. A liberdade e a justiça consistiam em uma oposição taxativa à expansão dos poderes do Estado federal e em uma defesa inabalável do livre mercado. O radicalismo de Goldwater se voltou contra os republicanos. Contribuiu para que seu rival, o democrata Lyndon B. Johnson, obtivesse uma das vitórias mais amplas na história das eleições presidenciais norte-americanas. Com o Congresso a seu favor, Johnson pôde aprovar leis progressistas, como a saúde gratuita para os mais pobres e os maiores de 65 anos.

A revolta atual tem suas origens no entorno do Tea Party, o movimento populista que, depois da eleição de Obama em 2008, ressuscitou o combalido Partido Republicano com uma oposição virulenta ao Obamacare – o nome coloquial pelo qual ficou conhecida a reforma da saúde de 2010 – e ao intervencionismo econômico da Administração Obama. A origem mais imediata, segundo Kabaservice, são as eleições parlamentares de 2014, em que o Partido Republicano assumiu o controle do Senado e da Câmara.

“Há um segmento da base republicana que está muito irritado”, diz Kabaservice. “Ele acreditava que as eleições de 2014 representavam o repúdio a Obama e que, como os republicanos tinham o controle do Congresso, repudiariam o Obamacare e outras inovações de Obama. Simplesmente não entendem por que isso acontece. E concluíram que foram traídos pelos líderes do Congresso e pelos RINOs, termo que usam para se referir a qualquer que tenha interesse em governar.”

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