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Peru em estado de alerta por causa do fenômeno climático El Niño

Evento fez a temperatura do mar ultrapassar em mais de dois graus os valores normais

Pescadores puxam uma rede cheia de anchovas, em 2012.
Pescadores puxam uma rede cheia de anchovas, em 2012.REUTERS

"O fenômeno está nos avisando com tempo suficiente, é difícil saber como isso vai acabar", disse o cientista peruano Ken Takahashi, coordenador técnico do Comitê Muiltissetorial de Estudo Nacional do Fenômeno El Niño (ENFEN), o órgão estatal especializado no assunto.

O fenômeno El Niño assola o Peru desde julho, quando 14 regiões foram declaradas em estado de emergência, o que permite planejar gastos não previstos no orçamento público para a limpeza e o desassoreamento dos rios do norte. O ENFEN avaliará na próxima sexta-feira a probabilidade de que o evento climático passe de "forte" a "extraordinário", o que teria consequências devastadoras a partir de dezembro –o verão austral–, como aconteceu em 1983 e 1997.

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"O El Niño é um aquecimento anormal e persistente da superfície do Oceano Pacífico. Provoca intensas chuvas e, embora seja um fenômeno recorrente, não é periódico em escala interanual", diz Takahashi. O especialista explica que o mar da costa peruana é frio para sua latitude (cerca de 17 graus, em média), devido aos ventos alísios que movimentam as correntes oceânicas. O fenômeno é considerado "moderado" quando o aumento da temperatura do ar e do mar é inferior a 1,7 graus; "forte" se oscila entre 1,7 e 3, e "extraordinário" se for superior a 3.

O aquecimento do mar provocaria  chuvas excessivas, inundações, deslizamentos de terra, erosão e dessalinização

Se a partir de dezembro, quando o verão chegar ao Peru, a temperatura do mar atingir 26 graus, a densa camada de umidade e de ar frio que normalmente existe na costa peruana ascenderá, o que poderia desencadear, como aconteceu em anos anteriores, chuvas excessivas, inundações, deslizamentos de terra, erosão e dessalinização, explica Takahashi.

O coordenador técnico do ENFEN opina, no entanto, que o atual El Niño não é como nenhum dos fenômenos anteriores considerados fortes (1983 e 1997). "Neste ano existem condições para um El Niño extraordinário", afirma. Além disso, Takahashi esclareceu que a magnitude do fenômeno climático no Pacífico central (conhecido pelos cientistas como zona 3.4) pode ser diferente, mais ou menos intensa, do que na costa da América do Sul (zona chamada 1 + 2).

Pesca afetada

Talvez, para outros países, não seja tão importante tentar determinar a magnitude, mas não é o caso do Peru. O 14º relatório do ENFEN, divulgado na sexta-feira passada, também relata que o aumento da temperatura do mar causou uma mudança no padrão de reprodução da anchova, espécie marinha muito importante para a indústria da pesca do país, pois é o principal insumo para a produção de farinha de peixe.

Marilú Bouchon, funcionária do Instituto do Mar do Peru e membro do ENFEN, disse ao EL PAÍS que um cruzeiro começou um trabalho para informar, num período de 50 dias, como o evento climático pode afetar os recursos pesqueiros. Bouchon explicou, no entanto, que é normal que a anchova deixe de lado sua reprodução para buscar águas mais frias e proteger sua vida.

Aumento das temperaturas

  • Nível moderado: as temperaturas do ar e da água sobem no máximo 1,7 graus.
  • Nível forte: o aumento fica entre 1,7 e três graus.
  • Extraordinário: o aquecimento supera os 3 graus.
  • A temperatura média da costa peruana é de 17 graus.
  • Se o mar atingir a temperatura de 26 graus em dezembro, com a chegada do verão, o Peru poderia sofrer inundações, deslizamentos de terra dessalinizações e erosão, segundo alertaram os cientistas.
  • 14 regiões foram declaradas em estado de emergência no mês de julho.

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